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Jornal T
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9 de nov. de 2017
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A que se deve o novo fôlego do Private Label

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Jornal T
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9 de nov. de 2017

Londres, Paris e Munique estão de acordo. Os compradores estão a regressar em força à Europa, em busca de quem lhes forneça, chave na mão, as novas novidades que os consumidores exigem a um ritmo cada vez mais feroz - marcado pelo grupo Inditex. SVP London, PV Manufacturing e Munich Apparel Source oferecem palcos para esse encontro entre marcas e fabricantes de private label - um segmento em que Portugal é o primeiro no ranking. Flexibilidade, proximidade, design, resposta rápida, qualidade e serviço são os trunfos que a ITV portuguesa tem na manga para ser bem sucedida neste novo fôlego do private label.


Já lá vai o tempo em que as marcas estrangeiras desembarcavam cá, com o desenho e a matéria-prima debaixo do braço, e encomendavam a produção das suas coleções nas nossas fábricas, no regime de subcontratação designado como trabalho a feitio ou ao minuto.

Agora, são as nossas empresas que desenham e desenvolvem as coleções, que apresentam às marcas, nas feiras, trabalhando num regime de private label que tem sido um dos motores do crescimento da ITV portuguesa.

“Temos mais companhias que produzem private label. São sobretudo empresas portuguesas que têm um conhecimento muito bom dos padrões elevados destinados a marcas topo de gama”, reconhece Agnès Etame-Yescot, Show Manager da Première Vision Manufacturing, acrescentando que Portugal “é um país onde se podem encontrar produtores muito bons com um preço que é muitas vezes mais competitivo que a França ou a Turquia. E tem também a seu favor o facto de fazer parte da UE”.

Agnès elogia também a ITV portuguesa por ter definido “uma nova estratégia de se focar nas atividades de fabrico – os produtores podem trabalhar em conjunto com parceiros que estão na mesma área, por isso reagem muito bem e as suas propostas conseguem ser muito eficientes”.

Mesmo com o Brexit à porta, A SVP London tem crescido como feira por causa do private label. “Somos a feira de moda em mais rápido crescimento no Reino Unido neste momento; Crescendo 40% ao ano”, afirma Buzz Carter, responsável por esta feira…

Buzz explica as razões para este fantástico crescimento: “Em primeiro lugar, deve-se ao desejo dos compradores de trabalhar mais perto da estação e portanto com mais flexibilidade relativamente a quantidades de encomendas e tempos de entrega. Em segundo lugar, porque as fábricas de vestuário perceberam que se investirem em mais serviços de design e pesquisa, podem trabalhar diretamente com as marcas, eliminando agentes e intermediários”.

“Tudo isto tem levado a um crescimento do negócio direto entre fabricantes e marcas. E um evento como a SVP pode ser eficaz em ajudar a arrancar essas relações”, conclui Buzz Carter.

Mas é do motor da Europa que vem o mais recente exemplo do crescimento da procura de private label – a criação pelo salão de tecidos Munich Fabric Start de uma nova sub-feira: a Munich AppareL Source. “Notamos, pelos nossos visitantes, a necessidade de encontrar quem fizesse confeção de vestuário em private label”, conta Tânia Mutert Barros, representante em Portugal das feira de Munique.

“A Munich Apparel Source é a única feira de sourcing de vestuário na Alemanha e permite contactar com 20 mil visitantes profissionais, principalmente oriundos da Alemanha, mas também da Holanda, Itália, França, Polónia e Rússia, entre os quais marcas e retalhistas líderes a nível internacional, tais como Hugo Boss, Adidas, Tom Tailor, S.

Oliver, Gerry Weber, Peek & Cloppenburg, Kaufhof, etc”, afirma Tânia, antes de explicar porque é que os expositores portugueses ficaram logo no primeiro pavilhão da nova feira: “Não foi por acaso que colocamos Portugal logo à entrada. Foi um chamariz. A ITV portuguesa tem boa reputação na Alemanha e ao nível dos países que fazem parte da UE, Portugal é o primeiro no ranking do private label. As fábricas estão próximas dos clientes europeus e as entregas são rápidas, ao contrário do que acontece com os fabricantes chineses em que as encomendas vêm de barco”.

Manuel Serrão, diretor-geral da Selectiva Moda, considera que a realização destas novas feiras “é a prova dos nove” dessa necessidade de “fazer sourcing na Europa”. “Há quatro ou cinco anos não existiam (essas feiras), que, no fundo, representam o regresso a Portugal dos compradores do Norte e Centro da Europa”, sublinha.

“Não é um boom global, mas agora algumas marcas querem relocalizar uma parte da sua produção na UE e na bacia mediterrânea de modo a beneficiarem de entregas mais rápidas e para dominarem a linha de produção”, concorda Agnès Etame-Yescot.

Paris, Londres e Munique reconhecem que a instabilidade política e social na Turquia e no Magrebe têm beneficiado a nossa ITV. “As marcas globais procuram estabilidade. Portugal é uma alternativa não em termos de preço – é mais caro -, mas em termos de reação, encomendas/entregas e cumprimento de prazos”, diz Agnès Etame-Yescot.

Buzz Carter considera mesmo que Portugal está a sair-se muito bem neste momento. “E isto é certamente à custa da indústria de outros países que oferecem produtos e serviços muito bons, mas que podem estar com dificuldades neste momento com certas perceções negativas aos olhos dos compradores do Norte da Europa”.

“Foi no private label que a nossa indústria têxtil ganhou, nos últimos anos, uma grande vantagem competitiva. Ao ser capaz de fornecer rapidamente, com design e qualidade, Portugal posicionou-se como um dos principais fornecedores de marcas de renome mundial”, afirma Cristina Motta, representante da Messe Frankfurt em Portugal.

Diretos ao assunto, os empresários portugueses, como Mónica Morais, administradora da Collove/Custoitex, não têm dúvidas: “Os compradores estão a sair da China e a voltar à Europa, porque nós lhes oferecemos proximidade, flexibilidade para fazer séries pequenas, além da rapidez, qualidade e serviço”.

“A crescente procura de private label – que se reflete no aumento da oferta de feiras para este segmento de mercado – tem também muito a ver com a facilidade com que agora se criam novas marcas, principalmente online”, explica Mónica, precisando mesmo que “nesta edição da Première Vision foi muito notório este fenómeno. A primeira pergunta que nos faziam era sobre quais os nossos mínimos de produção”.

A empresária da Custoitex chama ainda a atenção para o facto de “o enorme crescimento de start ups de novas marcas por jovens empreendedores e designers é bom para a nossa indústria, por várias razões, sendo que uma delas é que não discutem preço”.

“Por causa das exigências da fast fashion, verifica-se uma nova deslocalização da produção, que está a voltar para a Europa e sua periferia. O modelo de negócio do grupo Inditex abanou a estrutura do negócio. E as outras cadeias viram-se obrigadas a segui-lo para não ficarem para trás”, aponta Paulo Barros, Sales Manager da Triwool.

“Temos clientes que apresentam coleções novas todas as semanas e nós, para os fornecemos, temos de acompanhar o ritmo. Todas as semanas, os nossos designers têm de criar produtos diferentes para lhes apresentar. E a criatividade é cada vez mais um fator essencial para a competitividade. Se não és criativo, o cliente não precisa de ti”, conclui.

António Cunha, comercial da Orfama, subscreve estes pontos de vista: “É notório que existem tendências de retalho mais vastas em ação, que irão fomentar o crescimento do private label. Para os retalhistas, as principais pressões prendem-se com a necessidade de aumentar a velocidade de lançamento de novos produtos no mercado, e essa evolução das tendências provoca mudanças na procura por parte do consumidor”.

Para satisfazer a crescente procura de novidades pelos consumidores, as marcas e os retalhistas estão a construir relações de colaboração cada vez mais próximas com os fornecedores, criando parcerias com empresas que têm pessoal altamente especializado, investem em inovação, apresentam um design de produto diferenciado e garantem quick response.

“A nossa ITV está a ter sucesso porque oferece aos compradores o que eles precisam: a flexibilidade que nos permite produzir pequenas quantidades, a qualidade, a rapidez de resposta, a proximidade cultural e geográfica, e o serviço completo”, afirma Cunha.

“Portugal tem uma reputação bem estabelecida no fabrico de vestuário de excelente qualidade. O Made in Portugal já é uma referência a nível mundial”, conclui o Sales Manager da Orfama.

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