Jornal T
28 de fev. de 2018
Aumento das vendas online obriga a OSDM a reinventar-se
Jornal T
28 de fev. de 2018
Todo o sector de distribuição da empresa O Segredo do Mar (OSDM) está a ser “refeito, reescrito e repensado” na sequência da importância cada vez maior que as vendas online têm nesta empresa de design e produção global, com sede no Porto.
A OSDM produz três milhões de peças por ano, dispõe de 10 designers, 12 unidades de produção e tem clientes como o grupo Inditex e El Corte Inglés, entre outros.
A empresa nasceu em 2005 como resultado de uma decisão estratégica. A filial espanhola, ESDM, recorria à utilização de serviços de vários escritórios nas áreas de criação, seguimento e controlo de qualidade das suas produções em Portugal da marca El Niño. A partir do momento em que se atingiram quantidades substanciais (2,5 milhões de peças por estação), a ESDM decide convidar os diferentes escritórios para incorporarem uma só empresa, surgindo assim a filial portuguesa, OSDM.
Dadas as alterações dos mercados nos últimos anos, e também a pedido de várias marcas específicas, a etapa seguinte foi diversificar e oferecer diferentes tipos de serviços às empresas fora do grupo, tornando-se uma das mais-valias da empresa. Este passo, permitiu que a empresa começasse a produzir e desenhar para algumas das marcas mais relevantes da Europa.
“Todo o sector de distribuição esta a ser refeito, rescrito e repensado e repetem-se as boas praticas e ações aprendidas com as décadas dum mercado em pleno desenvolvimento como também, infelizmente, se repetem erros e se reproduzem no mercado on-line as más politicas assentes em ações comercias continuadas de redução de valor e/ou preços para cativar consumidores que começam a mostrar sinais de fadiga, o que resulta naquilo que pensamos ser o grande desafio do futuro, não importa a localização ou a forma como obtemos o bem, temos que voltar a desejar ter cada coisa que compramos, temos que romper com a banalização de costumes e é uma árdua tarefa o que nos espera”, explicou José Cardoso, CEO da OSDM (na foto).
Desde há mais de um ano que a OSDM gere diretamente três lojas on-line. “Estes pontos-de-venda têm sempre e distribuição complementada por a presença no retalho e naturalmente estes lojista têm as suas abordagens de vendas na rede, a novidade é que na sua maioria estas novas abordagens lideram os seus rácios, seja em volume de unidades como de facturação”, acrescenta José Cardoso.
O administrador executivo da OSDM considera que estes são novos sinais dos tempos, confirmados por dados que o surpreendem. “Em 2017, o nosso top de clientes para as marcas próprias é partilhado entre grandes operadores off-line e on-line, isto sem uma percetível canibalização de mercado porque acreditamos existirem múltiplos segmentos que podem ser repartidos, entre novos clientes, habituais, locais e distantes de tal forma a amplitude é grande que estes limites não estão balizados”, diz.
Questionado pelo T Jornal sobre se isso significa a condenação do retalho físico, José Cardoso considera que “existe um certo dramatismo, possivelmente, com alguma razão face à recente hecatombe que caiu sobre alguns dos maiores retalhistas mundiais mais precisamente nos EUA”. Mas interroga-se sobre “se a razão que está pode detrás destes acontecimentos será unicamente o veloz crescimento das vendas on-line? Não será uma inevitabilidade face às dificuldades de adaptação destes conceitos de venda às novas vagas de consumidores. Os factos são recentes e carecemos do necessário distanciamento temporal para confirmar as nossas opiniões”.
Rui Praça, do departamento de Retail da OSDM, considera que as lojas físicas não estão condenadas a desaparecer, “estão é obrigadas a reinventar-se”. E explica que até há pouco tempo atrás “todo o comercio se fazia em lojas físicas, e como o crescimento das vendas online é diretamente proporcional à diminuição das vendas offline, as lojas físicas começaram a ter problemas de rentabilidade o que levou a um movimento de redução destes espaços, principalmente dos que tem menor rentabilidade, seja por inadequada localização, elevadas estruturas de custo e baixas margens de comercialização, quer seja por falta de inovação e diferenciação, ao tentar manter-se um modelo de negocio que funcionou no passado mas que perdeu o seu espaço próprio”.
Assim, acrescenta, o futuro passará por se encontrar um ponto de equilíbrio entre o canal de vendas offline e o canal de vendas online, em que os dois canais se complementam e se completam nas mensagens que querem fazer chegar aos consumidores, com o objetivo comum de orientar/influenciar a decisão de compra para os seus produtos, o que se consegue estimulando positivamente todos os sentidos do consumidor”.
Maria Helena, do departamento de marketing da OSDM, compara a situação com o que se passa no mundo da edição e publicação. “Será que as publicação impressas tem os dias contados? E como verificamos, não só as tecnologias digitais não terminaram com as publicações em papel, como pelo contrário, houve até um crescimento, maior procura, diversidade e qualidade, não só nos conteúdos como no objecto final”.
Já Renato Matos, do Dep. Retail – Comércio electrónico, não acredita que as lojas físicas tendam a desaparecer, contudo e dado ao boom tecnológico que atravessamos, a adaptação por parte das lojas físicas ao acompanhamento dos ritmos de crescimento do mercado online é o desafio fulcral para que o desaparecimento não aconteça.
“Na minha opinião, esta adaptação é chave para exista um equilíbrio entre o tradicional e o moderno. A grande vantagem do e-commerce, é o facilitismo. De facto é fácil estar em casa, comprar um artigo e esperar que este seja entregue na sua morada (agora até em menos de 24h)”, diz.
Por outro lado, acrescenta, “as vantagens que as lojas físicas oferecem ao consumidor são mais atrativas, como o experimentar, o testar, o ‘ver com as mãos’ e é aqui que deverá ser o ponto de partida para que as lojas físicas se adaptem e alterem o habito de consumo”.
Assim, conclui, que encontrar uma estratégia onde as lojas físicas e as lojas online se cruzem será o melhor caminho para que exista uma balança equilibrada.
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