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Estela Ataíde
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5 de fev. de 2018
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Barcelona presta homenagem a Azzedine Alaïa

Traduzido por
Estela Ataíde
Publicado em
5 de fev. de 2018

“Azzedine teria adorado vir a Barcelona, teria gostado muitíssimo deste lugar”, suspirava Rossy de Palma movida pela emoção, admirando as cores e a beleza arquitetónica da sala do Recinto de Sant Pau que acolhia o colóquio de homenagem ao criador franco-tunisino, encarregado de encerrar a 21ª edição da semana da moda catalã, na passada sexta-feira, 2 de fevereiro.


Lisa Lovatt-Smith e Rossy de Palma recordaram Azzedine Alaïa - 080 Barcelona Fashion


Musa de Almodóvar e amiga pessoal do designer, Rossy de Palma desempenhou o papel de carismática mestre de cerimónias, conquistando o público num abrir e fechar de olhos, contando com graça as suas experiências na cozinha da maison de Alaïa, por onde passaram os rostos mais importantes da indústria, de Naomi Campbell a Elle Macpherson, passando pelas anedotas afiadas que envolviam a ex-primeira-dama francesa Carla Bruni ou a editora-chefe da Vogue USA, Anna Wintour.
 
“Tínhamos uma relação de confiança, quase infantil”, comentou com um sorriso. “Azzedine sabia divertir-se como uma criança e tinha uma energia que nos superava a todos. Era generoso, um grande conversador e tinha Carmen Amaya entre as suas paixões.” E destacou um dos seus traços mais importantes, “a sua personalidade mediterrânea”, a que possivelmente se deve o mito em torno desta personagem baixinha e meticulosa que começou a sua carreira na moda com apenas alguns dias de trabalho nos ateliers da Dior e que, em 1970, conseguiu fundar a sua própria maison e, pouco mais tarde, uma grande família em torno a sua figura. Não obstante, “era acima de tudo um artesão e nunca se deu especial importância”.

Vestida para a ocasião com uma das suas criações, Rossy de Palma insistiu na simplicidade de Alaïa, que nunca quis prémios ou reconhecimentos e chegou a rejeitar em três ocasiões a Legião de Honra francesa. “Conseguiu um grande reconhecimento sendo um elemento livre, sem se deixar levar pelas obrigações dos calendários da moda, indo ao seu ritmo e sendo honesto. Sem necessidade de redes sociais, de publicidade ou de grandes campanhas de marketing e perfumes”, elogiou.  
 
A ex-editora da Vogue Lisa Lovatt-Smith reforçou a teoria lembrando uma das frases favoritas de Alaïa: “Não sou designer de moda, sou couturier”. Sem dúvida, uma característica de paciência e de artesanato no atelier de costura que contrasta com o papel atual do diretor artístico, já que, segundo Rossy de Palma, “Azzedine estava ao serviço do corpo da mulher e das suas fantasias. Era especialista numa modelação meticulosa e minuciosa.”


Sete designs de Azzedine Alaïa cedidos para a homenagem da pasarela catalã - 080 Barcelona Fashion


Um caráter especial e esmagador que lhe conferiu, segundo Lovatt-Smith, um poder único. “Os seus vestidos deixaram de ter um preço. Quando alguém quer um Azzedine, está disposto a pagar seja o que for, não importa se o preço é 100 euros ou 10 mil. O preço, literalmente, não importa.” E acrescenta: “Houve uma altura em que na Barneys, em Nova Iorque, se vendiam 60 vestidos seus por dia, chegando a faturar-se mais de 50 mil dólares.”

No que diz respeito ao futuro da marca após o desaparecimento do couturier, falecido em novembro passado, Lisa Lovatt-Smith esclareceu quaisquer dúvidas. A Maison Alaïa continuará nas mãos das fieis costureiras e colaboradores com os quais trabalhou durante anos, que poderão continuar a estudar os seus arquivos e o seu enorme legado, com a intenção de apresentar as próximas criações da casa em janeiro e março de 2018. Por sua vez, o atelier localizado no número 18 da parisiense rue de la Verrerie acolhe a exposição “Je suis couturier” até 10 de junho, enquanto a Fundação se dedicará ao financiamento de bolsas de estudo para estudantes de moda.
 
Como encerramento do evento, o colóquio foi seguido por uma apresentação da bailarina Blanca Li, também vestida com Alaïa, emocionando a plateia com uma coreografia especial em jeito de homenagem. Entre aplausos e algumas lágrimas, a passarela despediu-se até à sua próxima edição com sete designs do grande Azzedine Alaïa, cedidos por personalidades como a atriz Isabelle Adjani ou a também tunisina Hiba Abouk, que horas mais tarde usaria outro dos seus vestidos na passadeira vermelha dos prémios Goya. É como diz Rossy de Palma: “Um vestio de Alaïa é para sempre. Azzedine é tudo menos efémero.” Que assim seja.

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