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AFP-Relaxnews
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27 de jan. de 2015
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Calígrafo: o artista anónimo dos desfiles de moda

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AFP-Relaxnews
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27 de jan. de 2015

Paris (AFP) – Com traço rápido e seguro, ele escreve nomes à mão em centenas de convites: na véspera dos desfiles de moda de Paris, Nicolas Ouchenir, calígrafo especializado nos eventos da indústria de luxo, viveu os momentos mais intensos de uma profissão que poucos conhecem.

Nicolas Ouchenir - Foto: AFP | Joel Saget


Em seu ateliê, o telemóvel não parava de tocar: relações públicas das marcas corrigiam as listas de convidados – compradores, famosos e jornalistas – e, para isso, contrataram os serviços desse jovem de trinta anos de jeans e camisa branca. Os desfiles começaram na passada quarta-feira (21) em Paris e os convites tinham de estar prontos a tempo.

Em sua mesa estão empilhadas caixas e frascos de canetas-tinteiro e estilográficas em um escritório todo manchado de tinta.

Sua tarefa é escrever os nomes dos convidados para os desfiles em envelopes e convites. O calígrafo conhece muito bem esse mundo que tem seus próprios códigos. Especialmente ao trabalhar com "seating", o lugar atribuído a cada convidado, sinal da importância de cada marca, que reserva a primeira fila para seus preferidos.

"Não tenho horários", disse Nicolas Ouchenir em entrevista à AFP, poucos dias antes do início do evento, ocupado em seu ateliê na rua Saint-Honoré, em Paris, onde trabalham várias pessoas.

"Às vezes trabalho a noite toda, em outras durmo no ateliê e acordo com manchas de tinta ou passo noites inteiras à espera das listas de um escritório de relações públicas", diz com um bom humor que serve de arma no mundo da moda, "onde há muitas crises de nervos".

Autodidata

Calígrafo desde os 12 anos, Nicolas Ouchenir admite que sempre teve a "obsessão" pela escrita, especialmente quando via seu pediatra fazer rabiscos em suas prescrições com uma caneta. Mas aprendeu sozinho seu ofício, sem formação, após estudar comércio. Tudo começou no dia em que era assistente em uma galeria de arte. Então o jovem parisiense começou a escrever os convites manuscritos para as vernissagens.

"Não sabia que era uma verdadeira profissão. Estava encantado... Funcionou perfeitamente e as pessoas acostumaram-se. Quando viam a escrita nos envelopes, quase não precisavam abrir o convite para saber quem tinha enviado", contou.

Esse lado "exclusivo" é, segundo ele, a chave do seu sucesso. Para cada cliente, o calígrafo compõe uma escrita sob medida, "como uma assinatura". Para Berluti é "muito masculina, muito única". A letra para Versace é rococó, cheia de rabiscos. Com Margiela, para a Alta-costura, é no estilo John Galliano, ao passo que para o pronto-a-vestir é como se fosse feita na "máquina de escrever".

Exemplo de caligrafias de Nicolas Ouchenir


Dior, Hermès, Louis Vuitton, Miu Miu, Gucci, Pucci, Missoni... Nicolas Ouchenir diz que colabora com as marcas mais importantes, mas também com jovens criadores como Elie Top (joias) e Hugo Matha (lenços).

Ele trabalha muito com moda, mas não exclusivamente: faz ilustrações para revistas, trabalha para a bienal de Veneza, fabricantes de automóveis, adegas de champanhe, grandes famílias aristocráticas ou pessoas comuns em busca de uma tatuagem original.

Os pedidos dos clientes são mais ou menos clássicos: alguns pedem mensagem em lápides funerárias. Um casal o encarregou de escrever as regras de um contrato íntimo sadomasoquista. Um oligarca russo o encarregou de uma participação em seu casamento escrita com sangue, "que o calígrafo conseguiu em um açougue".

Na era digital, a letra manuscrita está a cair em desuso, mas Nicolas Ouchenir continua a enviar cartões postais, além de e-mails e mensagens e texto.

Hoje em dia, "muita gente tem medo da letra manuscrita", diz. Por essa mesma razão a caligrafia chama atenção, porque se transformou em uma habilidade pouco frequente. Ela é igual à Alta-costura: quanto mais exclusiva, mais desejada.

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