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Estela Ataíde
Publicado em
8 de jan. de 2018
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Grace Wales Bonner: em busca do estilo crioulo

Traduzido por
Estela Ataíde
Publicado em
8 de jan. de 2018

Sem dúvida, o desfile mais importante da temporada de Londres será o de Grace Wales Bonner, vencedora do LVMH Prize de 2016, cuja coleção outono-inverno faz um maravilhoso esboço da diáspora caribenha.  


Look da coleção Créolité, de Grace Wales Bonner's Créolité, visto em Londres, no domingo


O seu desfile mais recente, que aconteceu numa moradia em desuso no número 9 da Grosvenor Place, em Belgravia, resultou a todos os níveis. Uma coleção bonita e elegante, uma visão depurada e precisa, uma edição impecável.
 
A pureza da sua alfaiataria é incontestável – do corte suavemente transgressor dos seus fatos, com casacos de cadetes navais e calças de marinheiro clássicas, finamente finalizadas com fendas e botões perfeitamente colocados, aos brilhantes smokings descentrados.

Wales Bonner também se aventurou com alguns estampados exóticos de uma série sobre imigração do pintor afro-americano Jacob Lawrence, que trabalhou na Guarda Costeira dos Estados Unidos na década de 1940. Estes pareciam estampados de camuflagem, mas, após um olhar mais atento, revelavam ser na verdade pinturas coloridas de multidões nas Índias Ocidentais.
 
Houve também uma sensação generalizada de prazer primordial ao testemunhar a combinação perfeita de uniformes navais ocidentais e códigos cavalheirescos com proporções e matizes caribenhos.

“Uma das principais coisas em que eu estava a pensar foi no livro Notebook of a Return to the Native Land (diário de um regresso ao país natal), de Aimé Césaire. No sair da ilha nativa para estudar em Paris e depois regressar. E a sua análise aos sentimentos que isso provocou. Olhar de longe para uma ilha e ver como isso deve ter sido. A paisagem e o comportamento das pessoas: eu quis descobrir como seria a estética crioula”, explicou Wales Bonner no backstage.
 
Acima de tudo, Wales Bonner tem uma visão singular, uma delicada análise da dignidade negra, realçada pela diversidade étnica dos modelos. Desde que venceu o seu prémio em Paris, Wales Bonner recebeu uma série de críticas extremamente positivas. Este desfile só irá reforçar ainda mais a sua reputação.
 
Wales Bonner é uma verdadeira intelectual da moda, que utiliza a moda como um veículo artístico para expressar ideias muito definidas. Bonner citou mais de uma dúzia de autores no seu programa, incluindo Derek Walcott, o poeta e Nobel da Literatura oriundo de Santa Lúcia, cuja obra é inteiramente dedicada ao deslocamento e ao exílio.
 
“Acho que estava a pensar na identidade crioula, e há nisso uma sensação de falta de resolução. E isso é algo com o qual me identifico. Um sítio do qual estás distante, mas que imaginas de forma nostálgica”, explicou a designer à FashionNetwork.com após o desfile.

Não admira que o desfile estivesse repleto de artistas, de Yana Peel, CEO da Serpentine Gallery, a Lynette Yiadom-Boakye, a célebre artista que apenas pinta e desenha pessoas negras, passando pela proprietária de galeria Maureen Paley. O seu instinto não se enganou: este foi um verdadeiro momento de moda.

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