Jeanologia: a indústria que revolucionou as técnicas de acabamento do jeans

Da história de amor pelo próximo e pelo meio ambiente nasce a indústria que revolucionou a imagem, a manipulação e o conceito de utilização da paixão mundial, o jeans.

Enrique Silla, director presidente da empresa que estuda a ciência do acabamento do jeans, a espanhola Jeanologia, contou-nos com exclusividade a trajetória do seu amor pelo denim.

Guia JeansWear: Enrique, conte-nos sobre o início da sua carreira e como nasceu a paixão pelo denim.
Enrique Silla: Depois de sair da universidade, fui trabalhar numa empresa irlandesa chamada Burlington, um dos maiores fabricantes de denim no mundo. Foi quando entrei em contacto com o denim e me apaixonei pelo produto.

GJW: Quando você começou a desenvolver produtos para beneficiamento de jeans?
ES: Comecei a trabalhar com denim e jeans lavados, depois criei minha própria empresa de químicos, que funcionou de 1987 a 1993.

GJW: E quais produtos exatamente a empresa fabricava?
ES: Produtos para beneficiar o jeans em geral, mas o que nos colocou na ponta do mercado foi termos inventado a enzima.

GJW: O que o levou a investir radicalmente nessa nova tecnologia, que praticamente elimina o consumo de água e de produtos químicos para beneficiamentos dos jeans?
ES: Com essa empresa de químicos pude conhecer melhor os processos das lavanderias e fiquei impressionado com o grande desperdício de água, além do índice extremamente alto de poluentes produzidos. Também me chocava com os danos à saúde causados pelas máquinas de jato de areia para aqueles que as manuseava, principalmente quando químicos, como o permaganato, por exemplo, era adicionado no processo. Foi então que em 1993 eu e alguns engenheiros criamos a Jeanologia, que significa "a ciência de acabamento do jeans", e logo depois vendi a empresa de químicos para um grupo inglês, o Denim Quimical. Com a criação da Jeanologia desenvolvemos tecnologia e consultadoria para eliminar água, químicos, processos que são prejudiciais aos trabalhadores e para economizar energia dentro das lavanderias. Para o nascimento e sucesso da Jeanologia formamos uma equipa de 'designers', engenheiros electrónicos e engenheiros mecânicos para desenvolvimento dos maquinários.

GJW: Quando nasceu a primeira máquina a laser da Jeanologia?
ES: De 1993 a 1998, a Jeanologia trabalhou em consultadoria e conscientização das lavanderias no mundo inteiro, buscando incentivar a melhora dos processos produtivos e desenvolver a criatividade para a evolução desses mesmos processos. Em 1998 inventamos a primeira máquina de laser, e nosso primeiro cliente foi a Itac Lab, uma empresa italiana. Inclusive, por esses dias, compramos essa mesma máquina laser novamente porque vamos montar um museu do denim em Valença, acredito que da próxima vez que voltar à cidade visitará nosso museu. A partir daí focamos as nossas forças nessa tecnologia. A princípio, as empresas achavam que laser era puro ‘marketing’, não levavam a sério o processo, hoje 20% do jeans fabricado no mundo é beneficiado com tecnologia laser. Mesmo assim, ainda temos um longo caminho a percorrer, segundo o Greenpeace, 20% da poluição das águas do nosso planeta provêm da indústria têxtil.

GJW: Em sua opinião, como a máquina de ozónio revolucionou o mercado de beneficiamentos de denim?
ES: Buscávamos uma forma de envelhecer camisas de fio tinto com químicos e não obtínhamos sucesso. Começamos então a pesquisar em diversos sítios com diferentes comportamentos climáticos e pudemos perceber que nas montanhas do Canadá, por exemplo, as camisas preservavam-se como novas, ao passo que na baixada do Rio de Janeiro, lugar de oceanos, as camisas envelheciam rápido. A partir dos resultados foi possível concluir que a diferença de quantidade de oxigénio provocava tal alteração, e foi daí que criamos literalmente a máquina do tempo – ela envelhece em 5 minutos algo que na natureza levaria 5 anos. A máquina de ozónio revolucionou os efeitos no seguimento jeanswear, se formos pensar, a tecnologia de ozónio é perfeita: pegamos o ar, transformamos este ar em ozónio, usamos para envelhecer as peças, depois convertemos de novo em ar natural. É o ciclo perfeito e tudo isso sem utilizar água e químicos no processo.

GJW: Em qual lançamento a Jeanologia está a trabalhar?
ES: A máquina E-FLOW. Esta máquina propõe um acabamento revolucionário com micro bolhas que carregam em sua superfície a química, que entrará em contacto com a peça sem molhar, apenas as umedecendo uniformemente, resultando no acabamento proposto.

Imagens: Equipa Guia JeansWear