Kenzo: uma moda mais gentil e benevolente

Numa semana dominada por imagens de crianças a serem brutalmente separadas dos seus pais e mantidas presas no Texas, a temporada de moda masculina de Paris terminou de forma instrutiva, com uma coleção criada por dois designers americanos, ambos filhos de imigrantes, e cujo tema central foi a benevolência (Kindness). Sem Ugly Americans.

O convite da Kenzo para o desfile de domingo à noite convidava cada espectador a "unir-se para celebrar a apresentação da primavera-verão". E também continha um headband com a inscrição "Kindness", e o desenho de um dragão chinês e uma fénix. Além disso, o desfile foi apresentado na Maison de la Mutualité, uma sala de concertos usada por muitas gerações para manifestações políticas e debates sobre direitos humanos.

Um cenário apropriado para um desfile misto, que começou com uma banda a marchar pelo meio da plateia, que ficou empoleirada em bancos redondos ao longo de corredores circulares. No teto, enormes cestos de orquídeas e flores exóticas subiam e desciam ao longo do desfile, iluminados por vários lasers. Para os homens - já que esta foi oficialmente uma temporada masculina - alguns fatos em algodão, com riscas múltiplas ou em tons monocromáticos ácidos, com blazers e calças com proporções gigantescas. Nota de moda, as calças largas de pregas duplas são agora quase um item obrigatório para o homem que quer estar na moda, exceto talvez aqueles que têm a sorte de ter pernas finas como Mick Jagger. Estas foram muitas vezes fabricadas em malhas nobres, com motivos de fénix e dragão.

Para as senhoras, túnicas de pele de cobra falsa e trench coats com cinto; vestidos de seda adornados com renda preta; casacos em crepe preta e e alguns fatos realmente bem sucedidos feitos do mesmo algodão às riscas que os da coleção masculina. Ao fundo, na banda sonora, a música do Hypnotic Brass Ensemble, um grupo composto inteiramente por músicos negros, outro exemplo daquilo a que a dupla de designers da Kenzo, Carol Lim e Humberto Leon, chama reunir "as várias tribos e subculturas com que nos cruzamos todos os dias das nossas vidas".

Em resumo, uma coleção inteligente e sábia, com uma mensagem inclusiva. Preparada bem antes das atrocidades na fronteira entre o México e os Estados Unidos. Mas, apesar de ter sido apenas um desfile de moda, este evento também conseguiu trazer um discurso de respeito pela humanidade, com a moda a desempenhar assim um pequeno papel na luta incessante pela justiça entre as pessoas. Quebrando barreiras, ao invés de as construir.

Kenzo: uma moda mais gentil e benevolente

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