Moda sustentável: consumo responsável e respeito ao ambiente

Madri (TRENDSmérica) – Duas das plataformas mais conhecidas mundialmente sobre moda sustentável são Eco Fashion Latam e Slow Fashion Spain, a primeira promove este tipo de moda na América Latina e a segunda fomenta e assessora a qualidade que rodeia este mundo – ambas nos esclareceram as chaves do setor na atualidade.

Apresentaremos, com a entrevista que ambas as plataformas concederam a TRENDSmérica,  como se pode criar um suporte como este, a influência que pode ter um patrocínio destacado ou famoso e a relação entre as modas sustentáveis da América Latina e de Espanha.
 
A criadora da Eco Fashion Latam, Beatriz Valdivia, é espanhola, mas tinha consciência desde o primeiro momento de que "o conceito de moda sustentável na América Latina não estava muito claro". Naquele momento ela vivia na Colômbia e assegura que "muitos criadores e artesãos faziam moda sustentável sem saber que estavam a englobar um conceito muito mais amplo, que na Europa e Estados Unidos já possuía uma presença considerável".

Segundo indica Valdivia, o objetivo principal do seu suporte é "dar visibilidade a todas aquelas marcas, fabricantes ou artesãos que fazem moda sustentável". Dessa maneira, favorecer a sinergia entre moda, comunicação e marketing para "contribuir com a difusão global e informar a todos os possíveis interessados no setor com dados sobre matérias-primas, fabricantes, rótulos e certificações ecológicas, bem como eventos em todo o mundo".
 
Na sua plataforma Eco Fashion Latam, ela oferece um espaço de consultadoria em marketing, comunicação, RSE (Responsabilidade Social Empresarial) ou direito da moda, e uma plataforma em linha de formação. Está presentes em 13 países e em breve em mais 2, com o objetivo de cobrir todos os países latino-americanos.
 
Perante a mesma pergunta, a fundadora, consultora e 'coach' da Slow Fashion Spain, Gema Gómez, indicou-nos que os inícios da sua plataforma remontam a setembro de 2011, com um inicial projeto de divulgação, formação e consultadoria "para contar uma mensagem que, para ela, era muito importante como criadora: a necessidade de informar uma nova produção para deixar um mundo melhor para as próximas gerações".
 
Dado o seu amplo conhecimento no mundo da moda, as roupas e confeção dessas, Gómez já havia criado uma marca de moda sustentável e sabia que havia muitas coisas ainda por conhecer do mundo da moda, "como a importância do algodão orgânico ou a necessidade indiscutível do 'networking', os fornecedores".
 
Os pilares da Moda Sustentável
 
Além disso, para a Eco Fashion Latam "os pilares principais da moda sustentada estão baseados nos três pontos nos quais também se sustenta a RSE: o respeito ao entorno ou ao meio ambiente, matérias-primas ecológicas, reciclagem, a parte social – relação entre pessoas e qualidade de vida, salários dignos, condições ótimas, reinserção social – e a económica, favorecer consumo responsável e local, comércio justo".

Em palavras de Valdívia: "a moda sustentável centra-se em todo o ciclo de vida de um produto", por isso, "o segredo do auge da moda sustentável é que agora os consumidores estão mais conscientes das ações que fazemos com algo tão simples, como consumir roupa, temos uma maior informação das condições laborais de quem confeciona nossa peça, dos perigos de usos de tinturas nos nossos rios, e somos mais conscientes e responsáveis, uma vez que sabemos que o que fazemos pode afetar outros e ao mesmo tempo o planeta, como um efeito bumerangue".
 
Gómez opina até mesmo que "o segredo da moda sustentável é entender que uma peça tem um ciclo de vida muito complexo e que a indústria têxtil é tremendamente complexa, de maneira que o que é preciso entender é que em cada um dos períodos pelos quais passa o material para confecionar uma peça ocorrem impactos ambientais distribuídos em oito áreas de impacto".
 
Tal e como a própria Gómez nos explicou, "é preciso mudar o paradigma de produção para transformar os impactos negativos da confeção têxtil em algo positivo para todos dentro da cadeia de valor do produto".
 
A importância do patrocínio
 
Ao perguntar às duas plataformas sobre a influência que pode ter o patrocínio de uma assinatura conhecida ou uma personagem importante da moda para atingir reconhecimento e prestígio, Valdívia apontou que se trata mais de uma questão de marketing, uma vez que um rosto conhecido pode divulgar a tendência, mas não é tudo para atingir o sucesso, já que "a tendência do consumidor final se aproxima mais da busca por peças originais, das coisas nativas e daquelas que tenham grande valor social".
 
Como diz a jovem, "o sucesso e o reconhecimento se atingem com trabalho bem feito no dia a dia, demonstrando que não há armadilhas como o 'green marketing' às vezes empregadas pelas grandes marcas".
 
Neste sentido, Gómez explica que se trata de uma pergunta "controversa", dado que "o trabalho de uma pessoa anónima pode dar-se durante anos e chegar a fazer-se visível muito lentamente, e uma pessoa famosa pode multiplicar os resultados na metade do tempo".
 
Na hora de responder, sua opinião é direta, já que às vezes é possível que "sim, seja necessário que alguém de reconhecido prestígio e visibilidade difunde estas ideias".
 
Vínculo entre América Latina e Espanha
 
No que respeita à relação entre latino-americanos e espanhóis, Valdívia opina que se trata de "um vínculo estreito, por um tema cultural e de idioma. Atualmente, se estão a criar sinergias sobretudo pelo uso de matérias-primas, é porque muitos países latino-americanos são produtores. Se misturam técnicas e nestes momentos existe um grande interesse comercial de marcas espanholas para entrar no mercado latino, como o colombiano, chileno ou brasileiro, é porque muitos são países emergentes".
 
Além disso, Valdívia apontou que "para os países latino-americanos, Espanha é sempre a porta de entrada à Europa" (e Portugal para o Brasil), algo sem dúvida muito positivo à hora de abrir fronteiras de mercado, uma vez que "têm pensado abrir a entrada a marcas e criadores espanhóis para criar sinergias, já que foram vários os que mostraram o seu interesse".
 
Por sua vez, Gómez explicou que vários pontos-chave a este respeito na América Latina são Medellín na Colômbia e Santiago no Chile. No primeiro se dá uma grande produção, mas em Santiago a situação poderia favorecer "que se fizessem as coisas bem desde o princípio".
 
"Pode não haver uma relação de vínculo direto entre ambas as cidades, mas o que há sim na América Latina são atores e bloguistas que estão a profisionalizar bastante o setor, como Sófia Calvo".