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Estela Ataíde
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24 de jul. de 2018
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Reportagem: No atelier de alta costura da Christian Dior

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Estela Ataíde
Publicado em
24 de jul. de 2018

Sob os telhados do número 11 da rue François 1er, no coração do 8º arrondissement de Paris, tesouras e agulhas são manuseadas num suave silêncio. Bem-vindos ao atelier de alfaiataria da maison Christian Dior, onde 25 pessoas, incluindo cinco aprendizes, confecionam as saias, casacos e calças das coleções de alta costura da marca fundada em 1947. "Na época das coleções, o número de funcionários duplica e recorremos a trabalhadores temporários", explica Laurence Morel, número dois do atelier de alfaiataria, na Christian Dior desde 1982. Três semanas após o desfile de alta costura outono-inverno 2018/19 da Christian Dior, realizado a 2 de julho no Museu Rodin, em Paris, começam a cair as primeiras encomendas e as costureiras estão ocupadas a fazer saias com pregas vertiginosas. No entanto, reina o segredo em torno da identidade dos clientes, os seus nome nos Stockman, os manequins com as medidas dos clientes, a serem escondidos dos olhares indiscretos. Uma coisa é certa: a clientela chinesa gosta cada vez mais da couture da Dior e Laurence Morel vai mesmo voar até Pequim, em setembro, para fazer os ajustes finais diretamente nos seus clientes.


Ateliers da Christian Dior Couture. À direita, os esboços de Maria Grazia Chiuri para os desfiles de moda de alta costura do outono-inverno de 2018/19 e, em primeiro plano, um manequim Stockman com o nome do cliente tapado - FashionNetwork.com


Além das coleções de alta costura, o atelier recebe pedidos especiais, como vestidos de noiva. "Fazemos todo o ano, não há temporada para o casamento", diz sorrindo uma das costureiras do atelier flou, o atelier que lida com as roupas mais delicadas, localizado um andar abaixo e especializada na criação dos vestidos.
 
Florence Chehet, que está no comando do atelier flou da Dior, trabalha há 15 anos na casa e supervisiona 32 funcionários empregados a tempo integral. "A cada costureira é confiado um vestido de A a Z. Essa é a maneira mais simples de proceder, ainda que por vezes sejam necessários reforços, uma vez que pode demorar dois a três meses a ser feito", explica ela. Florence Chehet enumera com paixão todas as etapas invisíveis que constituem a criação de cada peça, lembrando que Monsieur Christian Dior desejava que os seus vestidos fossem igualmente perfeitos no exterior e no interior, dizendo: "Olhe ao seu redor: não há ninguém em máquinas de costura porque aqui quase tudo é costurado à mão."


Ateliers da Christian Dior Couture. À direita, o costureiro trabalha num casaco de fato cuja confeção demorará quinze dias - FashionNetwork.com


Nas suas mesas, costureiras e costureiros costuram à mão com destreza. "Faço este trabalho porque tenho mãos para isso! E faço as coleções femininas porque há muito mais criatividade do que nas masculinas", explica um dos costureiros do atelier flou, um raro representante do género masculino. Para proteger o fruto do seu trabalho, algumas peças estão cobertas com lençóis brancos. “A luz danifica as cores, até a luz da lua", explicam-nos.


No atelier flou da Christian Dior Couture, à direita, a responsável pelo atelier mostra-nos o interior de um vestido de alta costura com espartilho - FashionNetwork.com


Quanto a saber se a mudança de direção artística é um passo difícil de gerir para os ateliers, a resposta de Florence Chehet é ‘não’! "Cada um é diferente. Com Maria Grazia Chiuri [NR:diretora artística da coleções femininas de alta costura, prêt-à-porter e acessórios da Christian Dior desde julho de 2016], os esboços que ela nos mostra antes das coleções parecem-se exatamente com a silhueta que vai desfilar na passarela. Às vezes, com outros criadores, o modelo muda ao longo do processo de confeção."
 
E pouco importa a forma como trabalham os diretores artísticos; é sob as mãos especializadas dos costureiros e costureiras dos ateliers que as criações ganham vida. Mãos que beneficiam de formações cada vez mais especializadas. De facto, uma costureira do atelier de alfaiataria diz-nos que, se há cerca de vinte anos, se entrava nos ateliers com cursos de formação profissional, as novas gerações terminam o bacharelado e obtêm diplomas em escolas de arte, antes de se formarem mais especificamente nos requisitos da alta costura.
 
Por ocasião da iniciativa Journées Particulières (dias especiais) da LVMH, que se realizam de 12 a 14 de outubro de 2018, os ateliers de alta costura da Christian Dior estarão abertos ao público sob reserva, assim como outras casas do grupo de luxo.

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