Por
Agência LUSA
Publicado em
24 de abr. de 2014
Tempo de leitura
3 Minutos
Download
Fazer download do artigo
Imprimir
Text size

25 de Abril: Dono da Sanjo recorda declínio do setor do calçado com a revolução

Por
Agência LUSA
Publicado em
24 de abr. de 2014

Mafra – O setor do calçado não aproveitou o fim da ditadura e a abertura de Portugal ao mundo para se lançar mais cedo nas exportações, é o que considera o dono da Sanjo, líder na venda de ténis até à década de 1970.

A indústria do calçado acabou por modernizar-se apenas nos últimos 15 a 20 anos e hoje disputa os preços mundiais do calçado, exportando por ano 71 milhões de pares de sapatos.

Indústria portuguesa de calçados só conseguiu buscar a modernização nos últimos 15 a 20 anos, sendo hoje um dos destaques das exportações lusas.


Após o 25 de Abril de 1974, “houve a oportunidade de desenvolver as marcas portuguesas e equipará-las às marcas internacionais, mas não foi o caso da Sanjo", que refletiu o que se passou em todo o setor do calçado, disse Paulo Fernandes, gerente da empresa que desde 2009 detém a marca e está a relançá-la no mercado com a retoma da produção nacional dos tradicionais ténis que a geração hoje com 40 anos usou na infância.

Para o empresário, o declínio do setor de calçado no pós-25 de Abril deveu-se também ao facto de "naquele período se considerar que tudo o que era estrangeiro era bom", tal era a ânsia que os portugueses tinham de se libertar das amarras da ditadura e da falta de liberdade.

Criada em 1933, ano em que António Salazar chega a presidente do Conselho de Ministros, a marca mais conhecida de ténis em Portugal até ao 25 de Abril de 1974 acabou por ter um período de ascensão e queda coincidente com o regime político do Estado Novo, protecionista, conservador e nacionalista, refere o designer português Pedro Carvalho de Almeida na sua tese de doutoramento alusiva à marca e apresentada em 2012 na Universidade de Artes de Londres.

Durante a ditadura, a Empresa Industrial de Chapelaria, detentora da marca e da respetiva fábrica, não só incorporava os símbolos da iconografia nacionalista, como beneficiava da economia fechada, virada para o autoconsumo e para uma produção manual distante do desenvolvimento tecnológico fora de Portugal e com barreiras comerciais à importação como instrumento de controlo pelo regime do crescimento industrial.

Com o estalar da Revolução dos Cravos, Portugal passou para o mercado global da livre circulação de produtos e marcas internacionais começaram a chegar ao país. "Começaram a entrar marcas estrangeiras em Portugal e a Sanjo não acompanhou a moda. Basicamente usava duas cores (o branco e o preto e branco) e começaram a aparecer outras marcas internacionais com muitas variedades de cor e muita oferta e a Sanjo não acompanhou a tendência, porque continuou a produzir o mesmo e acabou por fechar as portas", disse Paulo Fernandes.

Apesar de as restrições às importações terem sido levantadas pelo Governo em 1984, a mão-de-obra emergente nos países asiáticos foi mais uma das ameaças à indústria nacional de calçado desportivo.

Os concorrentes asiáticos diversificavam a produção, utilizando design e materiais diferentes e fabricando ténis para as diferentes modalidades, e vendiam o calçado a baixos custos, enquanto a Sanjo passava por dificuldades em manter a qualidade e se tornava incapaz de reagir ao mercado.

A Sanjo anunciou no início de abril que retomou a produção a 100% em Portugal, 30 anos depois de a histórica fábrica de São João da Madeira ter praticamente deixado de produzir as sapatilhas.

A empresa tem na Venda do Pinheiro, no concelho de Mafra, uma pequena unidade de produção que permitiu criar 14 postos de trabalho diretos e mais de 60 indiretos.

Imagem: Arquivo

Copyright © 2024 Agência LUSA. Todos os direitos reservados.