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Helena OSORIO
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10 de abr. de 2020
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A difícil organização de uma época masculina sem desfiles

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Helena OSORIO
Publicado em
10 de abr. de 2020

Embora toda a indústria têxtil na Europa tenha quase parado e esteja lentamente a retomar as suas actividades na Ásia, a decisão de cancelar a maioria das Semanas da Moda masculinas e as principais feiras comerciais para o mês de junho, não deixou de causar uma onda de choque.

Como podemos negar às marcas este grande momento de visibilidade que é a passerelle?

Quando e onde irão apresentar as colecções para a primavera-verão 2021, quando não beneficiarão do afluxo internacional de compradores, em nenhuma das capitais da moda?


Gucci vai apresentar a coleção masculina, juntamente com a feminina, em setembro - © PixelFormula


Todas estas questões se colocam na mesa das casas de luxo que continuam a ponderar, tomadas de surpresa pelas decisões radicais das principais instituições da moda, de Paris a Milão, passando por Nova Iorque. A Semana da Moda Masculina parisiense, que deveria ter lugar de 23 a 28 de junho, foi cancelada. A Semana da Moda de Milão, inicialmente prevista para 19-23 de junho, foi reprogramada para setembro. Será realizada durante a Semana da Mulher, de 22 a 28 de setembro. O evento de Nova Iorque, inicialmente previsto para 8 a 10 de junho, foi reprogramado, sem adiantar novas datas.
 
As feiras parisienses, habitualmente realizadas no final de junho (Man, Splash Paris, Tranoï, Unique, Interfilière e View) foram canceladas, enquanto o grande evento de moda masculina, que normalmente abre a época em meados de junho, o Pitti Uomo, foi adiado para o início de setembro, de 2 a 4, num espaço de três dias, em vez dos habituais quatro.

Da Louis Vuitton à Dior, passando por Giorgio Armani, Ermenegildo Zegna, Valentino, Brioni e Berluti, a maioria das marcas de luxo não quis responder às nossas questões.  Para as marcas (como as próprias desabafam), "é demasiado cedo"; "estamos a avaliar a situação"; "estamos a trabalhar intensamente em todos os aspectos, para fazer face às rápidas mudanças que estão a ocorrer"; "ainda estamos no processo de nos organizarmos internamente e precisamos de tempo antes de podermos tomar uma decisão"...


A Louis Vuitton, entre outras marcas de luxo, pedem tempo para ponderarem os desfiles - © PixelFormula


Em todo o caso, estas reações revelam a grande angústia em que as casas se encontram hoje, perante uma situação extrema de incerta e mudança. Apenas a Gucci tomou uma posição clara, ao anunciar que a sua colecção masculina será exibida em Milão em setembro, "em conformidade com a decisão tomada pela Camera Nazionale della Moda Italiana (CNMI)". Quanto às restantes, a marca emblemática Kering, adiantou-se dizendo que acredita que "ainda é demasiado cedo para tomar uma decisão sobre possíveis resoluções relativas a futuras campanhas de vendas", mas estará pronta "seja qual for a posição final que venha a ser tomada".
 
Entretanto, tal como muitas outras marcas, desde o início da contenção, a Gucci aposta no digital. Com base numa experiência-piloto lançada nos últimos meses, "ativou uma experiência de showroom digital, acessível a todos os compradores e clientes que normalmente viriam ver a coleção no local". Desta forma, conseguiu "reproduzir digitalmente a experiência do showroom de modo inovador, dando a possibilidade de aceder a vistas de 360º das diferentes peças de vestuário, ampliar certos detalhes e comprar o vestuário desejado, tudo através da mesma ferramenta".
 
Para outras, como a Lardini, marca italiana especializada em vestuário masculino de gama alta, que também fornece outras marcas, a coleção será também apresentada online a compradores internacionais, enquanto em Itália será revelada nas salas de exposição regionais dos seus agentes. O director criativo Luigi Lardini acredita, no entanto, que não será possível vender a coleção primavera-verão 2021, em setembro, como sugere a organização do Pitti Uomo e dos desfiles de moda masculina nessa altura.

Alguns dos seus clientes multimarcas, especialmente os do Japão, o seu segundo maior ponto de venda depois de Itália, estão a pedir as primeiras amostras até meados de maio. "Por este motivo, não participaremos na próxima edição do Pitti Uomo. Consideramos o espectáculo inútil em setembro, porque ninguém quer comprar nessa altura, especialmente porque a coleção de verão tem de ser entregue no estrangeiro a partir de novembro-dezembro. Ter-nos-ia ajudado ainda mais se o Pitti tivesse organizado o seu espectáculo virtual em junho", disse Luigi Lardini.


A Dior nada adianta sobre os desfiles de primavera-verão, eatando também a trabalhar para fazer face às rápidas mudanças - © PixelFormula


Para o empresário, que já tinha encomendado os tecidos, a produção da coleção não o preocupava, desde que as fábricas, atualmente paradas, fossem autorizadas a reabrir "no máximo até 18-19 de abril". "O grande problema é a falta de clareza por parte do governo e das instituições. As pessoas querem ter alguma segurança e paz de espírito", concluiu Lardini.

Pal Zileri, outra marca de roupa masculina de luxo, que normalmente apresenta a sua jovem linha "Lab Pal Zileri" no salão Florentine, confirmou a presença no próximo Pitti Uomo. "Tudo será espremido em setembro, mas é importante que nos juntemos todos no espectáculo, porque os negócios têm de recomeçar", ressalvou Maria Rosaria Lombardi, directora de comunicação e marketing. "Temos de dar o sinal forte que o sistema da moda precisa. Na verdade, estamos a voltar ao que era praticado na década de 1980, quando as coleções masculinas eram apresentadas com mulheres. E depois isto pode transformar-se numa oportunidade para mudar os ritmos das Semanas da Moda de hoje, de que todos se queixam".
 
À frente da loja de luxo milanesa 10 Corso Como, Carla Sozzani vai na mesma direção: "Um realinhamento num período menos povoado e mais coerente, com as estações do ano, permitiria um conteúdo mais inovador", sublinha, evocando simultaneamente "um momento histórico muito difícil".
 
Para Pal Zileri, a coleção para o verão de 2021 já estava pronta e a sua apresentação já tinha sido lançada. Mas, com a emergência da pandemia, o grupo, tal como os seus concorrentes, foram obrigados a repensar a sua organização. "É óbvio que a campanha de vendas de verão terá uma forma reduzida. A chegada de compradores estrangeiros a Milão dificilmente será possível em junho. Como resultado, estamos em vias de construir um showroom virtual", acrescentou Maria Rosaria Lombardi.
 
"Se as empresas pudessem reiniciar a sua atividade em Itália, após a Páscoa, por volta de 16 de abril, isso permitiria entregar as coleções de verão no final de junho e começar a trabalhar no inverno". Digamos apenas que o elemento positivo deste mês de junho, privado de acontecimentos, é que já não existe uma espada de Damocles apontada às marcas, deixando-lhes mais flexibilidade para conceberem as suas coleções", considera Claudio Marenzi, CEO da marca de peças de manga Herno e presidente da Pitti Immagine e da Confindustria Moda, a organização patronal do sector têxtil e do vestuário em Itália.


Dolce&Gabbana aposta igualmente na divulgação e venda online - © PixelFormula


Para o gestor, é impossível imaginar, hoje, qual será o estado de espírito dos distribuidores e compradores em junho, a meio de um período de desconfinamento. "Temos de compreender que só estarão, mentalmente, disponíveis para comprar no verão de 2021. Duvido que isso venha a acontecer em junho. Haverá muito provavelmente uma diluição da campanha de vendas até setembro. Este será o ponto alto da época, com vendas organizadas virtualmente ou como no passado, carregando as peças no automóvel e indo apresentá-la aos concessionários", explica.
 
Como observa, ainda, Claudio Marenzi: "As marcas que esperam vender entre junho e agosto vão certamente vender menos do que as que se posicionam em setembro, porque as lojas não estarão prontas para comprar tão cedo. Além disso, dará mais tempo para produzir. Sem dúvida, a indústria da moda vai começar a mexer-se um pouco, a partir do final de agosto".
 
Na atual incerteza e com pouca visibilidade sobre o tipo de medidas que serão tomadas, na fase de desconfinamento, há muitas questões e rumores que planam no ar. Em setembro, as Semanas da Moda irão necessariamente adoptar um novo formato, provavelmente mais compacto, com um público limitado.
 
Já existem rumores de que Londres e Nova Iorque também poderão abdicar de setembro. Tal como em Milão, prevê-se que Paris acolha espectáculos mistos de homens e de mulheres. Segundo alguns, uma semana reduzida para os homens poderia mesmo ser acrescentada após a Semana da Moda Feminina, no início de outubro, em Paris.
 
Do lado da Federação de Alta Costura e Moda, está assegurado que a organização da Semana de Pronto-a-Usar de setembro, não figurará na agenda brevemente. Dada a situação, todos os cenários podem ainda ser imaginados. Mas, até à data nada foi decidido como definitivo.
 

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