Portugal Textil
17 de mai. de 2018
A insustentável incerteza do algodão
Portugal Textil
17 de mai. de 2018
As ameaças de taxas alfandegárias mais elevadas às importações chinesas de algodão norte-americano – os EUA são o maior exportador mundial da fibra – estão a adicionar uma nova camada de incerteza ao mercado algodoeiro.

As taxas de importação continuam a assombrar o comércio mundial de algodão, alertou o Comité Consultivo Internacional do Algodão (ICAC) na sua mais recente previsão mensal. A Cotton Incorporated, sediada nos EUA, foi ainda mais assertiva, sublinhando que, se as ameaças forem cumpridas, vão influenciar os padrões de comércio do setor.
O algodão é um dos muitos produtos envolvidos na atual “guerra fria” comercial entre Washington e Pequim.
O presidente Donald Trump assinou, em abril, uma ordem executiva para impor taxas sobre os 50 mil milhões de dólares (aproximadamente 42 mil milhões de euros) de importações da China – com uma lista ainda mais extensa de bens adicionais, avaliada coletivamente em 100 mil milhões de dólares, também em consideração.
A China reagiu com uma lista de bens sujeitos a possíveis taxas de retaliação – incluindo uma taxa adicional de 25% sobre o algodão dos EUA.
Importação-chave
O algodão norte-americano é uma importação-chave para a indústria chinesa de vestuário e a China é o segundo maior mercado de exportação dos EUA.
«Apesar das projeções revistas em baixa para 2017/2018, os EUA continuam a ser o principal exportador mundial e provavelmente vão continuar assim na temporada 2018/2019, com exportações previstas de 3,5 milhões de toneladas», revelou o ICAC.
O Comité Consultivo Internacional do Algodão referiu ainda que os preços do algodão se mantiveram altos na temporada de 2017/2018, a uma média de 84,63 centavos de dólar por libra, de acordo com o ranking Cotlook A., mas reduziu a previsão para os preços do algodão na temporada 2018/2019 para os 82 centavos por libra.
Entretanto, em fevereiro último, foram aprovadas políticas de apoio ao algodão nos EUA e a área plantada deverá aumentar 11% em 2018/2019, para os 5,08 milhões de hectares. No entanto, a seca continua a ser uma preocupação para os campos algodoeiros no oeste do Texas, que representam cerca de 25% da produção dos EUA, segundo o ICAC.
A área plantada na Índia, por seu lado, tende a diminuir para os 11,9 milhões de hectares em 2018/2019. Na China, espera-se que a área plantada estabilize, com base na continuidade das políticas de apoio do país.
Este ano, o leilão da reserva chinesa para vender stocks de algodão começou em março e deve prolongar-se até setembro, libertando 30 mil toneladas diárias para venda.
Enquanto isso, o consumo mundial de algodão deverá continuar a crescer de forma estável em 2018/2019, para uma projeção de 26,7 milhões de toneladas, acima dos 25,5 milhões de toneladas estimadas em 2017/2018.
A alavancar esta performance encontram-se fatores como a forte procura têxtil nos mercados emergentes, a subida nos custos de produção de fibras sintéticas e a crescente preocupação com o meio ambiente, prejudicado pelas microfibras.
Espera-se também que as importações globais cresçam para os principais importadores. Na China, as importações deverão continuar a subir pelo quarto ano consecutivo, para os 1,5 milhões de toneladas. Contudo, ainda que os números das importações chinesas mantenham a trajetória ascendente, o Bangladesh continua a ser o principal importador global.
Ainda assim, «a importância da China como cliente dos exportadores americanos e globais de algodão não deve ser subestimada», realçou a Cotton Incorporated.
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