Portugal Textil
6 de jun. de 2019
A moda será inclusiva e inteligente
Portugal Textil
6 de jun. de 2019
Dos influenciadores criados em realidade virtual a uma maior abertura em relação à diversidade, são várias as tendências que irão definir o futuro da moda, segundo Geraldine Wharry. A analista de tendências apela às marcas que reflitam sobre qual será o seu papel num futuro que será marcado por crises climáticas.
Geraldine Wharry, analista de tendências internacional, que trabalha com marcas como a Nike, Louis Vuitton e Adidas, prevê um futuro onde a Inteligência Artificial (IA) será essencial para as marcas chegarem aos consumidores mais jovens, numa altura em que estes estarão ainda mais atentos às causas que elas defendem.
No âmbito da conferência “O Futuro da Moda”, em Matosinhos, Geraldine Wharry, que se tem dedicado a palestras internacionais e à produção de conteúdos e estudos sobre o futuro do sector, começou por explicar que «o conceito de maioria, como nós o entendemos hoje, vai mudar. E esta nova maioria vai mudar o mundo». Definindo-se como “futurista”, Geraldine Wharry admitiu que «o futuro é imprevisível, mas é importante entender que está ao nosso alcance prever tendências».
Geraldine Wharry revelou que o que une as gerações Y e Z é que se sentem únicos. No entanto, afirmou que as marcas não se podem esquecer dos babyboomers, que «se estão a divorciar, a criar novas empresas e que se envolvem com questões políticas. É um erro ignorar a geração mais velha, porque são parecidos com a geração Z e não há marcas suficientes a trabalhar para eles».
A analista de tendências questionou qual será o papel da moda num mundo de ameaças ambientais. «Quando olhamos para sítios como a Cidade do Cabo, na África do Sul, que está prestes a ficar sem água… Quando as pessoas ficam sem água, não pensam nas redes sociais, apenas querem sobreviver. Se entrarmos nesse modo, como é que a indústria se vai posicionar? Como vai continuar a ser relevante?», perguntou.
Influenciadores artificiais
Para Geraldine Wharry, os influenciadores são o futuro, mas estes serão criados em realidade virtual, dando o exemplo de Lil Miquela e dos modelos virtuais da Balmain.
«A verdade é que muitas empresas estão a experimentar este tipo de influenciadores, porque há muitos escândalos relacionados com os influenciadores humanos. Os artificiais são mais fáceis de controlar», explicou.
Aliás, para a analista de tendências, no futuro, as celebridades e os influenciadores «vão ter avatares digitais que vão fazer o seu trabalho enquanto eles quando dormem. Se calhar, todos nós vamos ter».
Admitindo que ainda há questões éticas por decifrar, a “futurista” antevê que a IA irá permitir às marcas identificar, interpretar, processar e simular emoções humanas. Além disso, irá permitir aos designers desenharem as suas coleções, como foi o caso da Yoox, que utilizou a IA para examinar o conteúdo de redes sociais e revistas online e desenhar uma coleção.
Diversidade será a norma
Geraldine Wharry considera que existe «uma grande desconexão entre o futuro da moda, que é diversificado e integrador, e os sistemas políticos atuais, como o dos EUA». A analista de tendências apontou o movimento #MeToo, a redefinição dos géneros e integração da comunidade LGBTI (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgéneros e Intersexuais) como fortes tendências em crescimento.
«Os géneros estão a mudar. As certificações de nascimento estão a mudar. O modelo Nathan Westling, que em tempos se chamou Natalie e desfilou para marcas como Marc Jacobs ou Yves Saint Laurent, agora é Nathan Westling, um transgénero em fase de transição que agora é homem. Isto vai ser a nova norma», avisou.
Em relação à forma como se olha para o corpo, a analista de tendências acredita que atualmente há uma maior abertura a diferentes tipos de corpo. «As pessoas com deficiência estão a ser desmistificadas. O que é fascinante é que isto muda a forma como olhamos para corpos diferentes, compreendemos as necessidades de pessoas que estão em cadeiras de rodas, por exemplo. A Ikea adaptou o seu mobiliário. Encorajo-vos a fazerem o mesmo», assumiu.
Juntos por uma causa
Segundo a analista, «a procura por honestidade e uma ligação a causas estão a mudar o mundo da moda. Temos que pensar com a emoção e entender que, atualmente, todos temos influência sobre o que nos rodeia».
Geraldine Wharry reconheceu que uma das principais características dos consumidores do futuro é que, «ouvem histórias de injustiças e acreditam que devem estar perto das marcas que defendem certas temáticas».
Para a “futurista”, os líderes do futuro são pessoas como Amanda Nguyen ou Greta Thunberg. «A próxima geração vai a protestos climáticos e isso vai moldá-los. O consumidor pode sentir alguma falta de sensibilidade e, por isso, é importante as empresas fazerem realmente a diferença. São os adolescentes que vão liderar a mudança», concluiu.
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