Alexander McQueen: A ninfa Calipso no Carreau du Temple
Uma das versões de moda ilustrativa da imagem da mulher forte e conquistadora, é o renascimento de roupas inspiradas na nobreza de outrora. Foi o caso da coleção proativa e muito original apresentada pela casa Alexander McQueen esta segunda-feira à noite, no penúltimo dia da temporada internacional de pronto-a-vestir feminino.

Havia algo de solene e grandioso nas roupas apresentadas no interior do Carreau du Temple, um icónico edifício industrial em ferro forjado, construído em meados do século XIX (reinado de Napoleão III), no norte do Marais, remodelado em 2014 para salão de eventos, sendo ideal para desfilar. E desfilar foi o que as top models melhor fizeram, comportando-se como mulheres apressadas a caminho de importantes compromissos.
A designer da casa Alexander McQueen, Sarah Burton, esforça-se sempre por ser o foco das atenções, e conseguiu-o especialmente nesta coleção Outono/Inverno 2020-21, evocativa de eventos com estilo, grandes inaugurações, grandes concertos e estreias de filmes. Por serem estas roupas para ocasiões especiais.
Um começo cerimonial e nobre.
Um casaco de duas faces transformado em casaco de oficial, outro com quadrados enormes e riscas realçadas em ombreiras, e já antes um vestido de guerreira amazona de ombro único. Depois, alguns casacos apelativos cortados no tecido da estação – acredite ou não: o xadrez Príncipe de Gales, inteligentemente dividido por grandes riscas pretas na diagonal.
Não faltou a Belle Marianne (Lady Marian Fitzwalter de Leaford) com uma túnica branca virginal, de cauda, embelezada pela perversidade de um decote fundo aberto nas costas desnudas. Na verdade, o excesso de tecidos acrescentou alguns quilos a mais a demasiados visuais, assim como também um lado voluptuoso muito atual. Resultando num glamour bastante tentador.
Tudo assim continuou, surpreendente, até ao final do desfile, onde tivemos a oportunidade de admirar uma espécie de Mary Stuart, rainha dos escoceses, que se cruzou com a performer Leigh Bowery, como se o Ministry of Sound (famosa discoteca londrina) se encarregasse de um casamento real. E uma deslumbrante criação prateada para cocktails, composta de múltiplos fragmentos de cristal, usada pelo soberba top model negra Adut Akech – Calypso, a ninfa do mar, filha de Atlas, que conseguiu manter Ulisses prisioneiro por alguns anos, prometendo-lhe imortalidade – emerge das profundezas do Mar Egeu, no meio do Careau du Temple.
Cada manequim usava um penteado vermelho acobreado e ceroso, o mais elegante e libertador da estação.
Impressionante e sobretudo depois de se assistirem a mais de 350 espectáculos.

Quase todos looks foram complementados com botas robustas. Por outro lado, a maioria das mulheres presentes no desfile de moda já calçava botas grandes, excepto as funcionárias americanas e francesas da Vogue. Os verdadeiros saltos altos.
O veredicto de Talleyrand sobre os Bourbons vem à mente. O polémico diplomata Talleyrand, responsável por convencer o Senado a estabelecer um governo provisório, declarando Napoleão deposto e convocando os Bourbon, como seja, Luís XVIII para assumir o novo governo, voltando a ser nomeado ministro das Relações Exteriores.
Em suma, uma colecção verdadeiramente única de um dos 10 designers mais criativos do mundo da moda. Talvez não seja uma grande safra, talvez esteja um pouco abaixo do que Sarah Burton faz de melhor, mas mesmo assim deixa a maioria dos rivais para trás. E mesmo assim, deixa-os no fundo do poço.
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