Estela Ataíde
17 de fev. de 2021
Ana Cravo (Minty Lab): “O impacto da pandemia pode ter marcado uma nova era no setor da moda”
Estela Ataíde
17 de fev. de 2021
Foi há dois anos que Ana Cravo e João Figueiredo, fundadores da plataforma portuguesa de e-commerce Minty Square, lançaram o Minty Lab, um serviço B2B pensado para oferecer soluções digitais personalizadas a marcas e designers interessados em vender as suas criações online. Mas, foi no último ano, com um setor da moda profundamente afetado pelas medidas de contenção decorrentes da pandemia do novo coronavírus, que o projeto ganhou um novo sentido.
Recorrendo ao know-how e experiência acumulados com a plataforma Minty Square, o Minty Lab ajuda “marcas e empresas a ‘fazer negócio’ no digital com sucesso”, resume Ana Cravo. Tendo, desde o seu lançamento, trabalhado com empresas como Nobrand, Kaoâ, Patachou, Ambitious ou Rufel, o projeto promete ir “muito além da criação de um site, abrangendo áreas que vão desde o branding, o apoio ao cliente ou a logística”. Os resultados, garante João Figueiredo, são notórios: “Algumas das marcas que trabalhamos tiveram um crescimento na ordem dos 100% nas plataformas que possuíam há menos de um ano, e outros clientes, que estavam presentes no digital há mais tempo, verificaram uma média de crescimento na ordem dos 62%.”
Numa altura em que o digital é mais decisivo do que nunca, Ana Cravo e João Figueiredo partilharam com a FashionNetwork.com a sua perspetiva sobre o atual panorama e o que representa esta nova realidade para a indústria da moda.
FN: Qual tem sido, na vossa perspetiva, o impacto da pandemia na indústria da moda nacional?
Ana Cravo: A pandemia trouxe ao de cimo as fragilidades e as consequências de um constante adiar da transição para o online. Muitas marcas, que até aqui se regiam pelos barómetros do offline, veem agora as suas portas fechadas, sentindo uma necessidade gritante em se adaptarem o mais depressa possível a esta nova realidade para ganhar novo fôlego. A pandemia foi o acelerador chave para que as empresas entrassem na esfera da digitalização, obrigando-as a reinventar-se e a apostar em novos canais de comunicação com os seus clientes e em novas ideias para se destacarem no mercado. Consideramos que o impacto da pandemia pode ter marcado uma nova era no setor da moda, obrigando as marcas a evoluir e a arranjar novas formas de se adaptarem ao mercado.
FN: E as empresas e marcas nacionais já sabem fazer negócio digital?
João Figueiredo: Durante a pandemia assistimos a uma procura frenética pela criação de webistes e lojas online. De facto, vimos que a maioria das empresas e marcas nacionais se adaptaram ao novo panorama com a adesão ao online e criação de novas plataformas. No entanto, para muitas foi um processo obrigatório despoletado por uma pandemia, sem qualquer preparação prévia ou definição de uma estratégia adaptada às necessidades do digital. Foi um processo feito de forma rápida e com pouca organização, numa altura em que a sobrevivência das marcas dependia disso mesmo. Isto fez com que estar online não signifique que as marcas saibam de facto ‘fazer negócio’ no online. Isto é, não basta ter um site. Existem vários processos e logísticas obrigatórias para que uma marca consiga fazer negócio no online com sucesso, sendo que é precisamente nessa adaptação que queremos ajudar. Neste momento, o maior entrave nesta passagem com sucesso é a falta de investimento. Para terem sucesso, as marcas precisam de investir no online tanto quanto investem nas suas lojas físicas, pois só assim conseguem continuar a sobreviver e crescer durante a crise atual, e enquanto não se consciencializarem disso não estarão capazes de potencializar a sua marca no online.
"Para terem sucesso, as marcas precisam de investir no online tanto quanto investem nas suas lojas físicas"
FN: A indústria nacional está a acompanhar a evolução global do setor em termos de comércio online?
JF: A indústria nacional está recetiva e sabe que a solução para continuar a vender os seus produtos passa pelo comércio online. Porém, há muitas empresas que não estão ainda dispostas a apostar o necessário e isto faz com que não consigam acompanhar a evolução. Apesar da abertura das marcas em relação à transição para o comércio online ser positiva, estas têm de estar dispostas a apostar o essencial para fazê-lo corretamente, caso contrário serão apenas mais um site de e-commerce na internet. Neste sentido, Portugal e a sua relação com o comércio online fica aquém de países como a França ou a Alemanha, em que a transição para o digital e o e-commerce são uma realidade e tendência, mesmo antes da pandemia.
FN: E o consumidor português, como é a sua relação com o e-commerce?
JF: A relação dos portugueses com o e-commerce está a melhorar, uma vez que a pandemia forçou também os consumidores a aderirem ao online e a procurarem resposta para as suas necessidades no e-commerce. De acordo com a SIBS (Sociedade Interbancária de Serviços), em comparação com o ano de 2019 as compras online aumentaram 40% em dezembro de 2020, enquanto as compras em loja tiveram uma quebra de 11%. Estes valores espelham a tendência do setor e mercado.
FN: Num ano que ainda será fortemente afetado pela pandemia, qual é o grande objetivo do Minty Lab?
JF: O objetivo da Minty Lab para 2021 é continuar a trabalhar a aceleração e a transição digital no mercado da moda e garantir o sucesso das marcas com quem trabalha. Além disso, pretendemos trabalhar marcas e clientes que pertençam a outros setores, uma vez que a transição para o digital é fundamental no mercado atual, e não se restringe apenas ao mundo da moda.
FN: O mercado nacional continua a ser a vossa aposta ou a internacionalização está no horizonte?
AC: O nosso objetivo será sempre abranger novos mercados e aceitar novos desafios. Neste momento já estamos a trabalhar com projetos piloto internacionais, mas continuamos muito focados no mercado nacional.
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