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21 de nov. de 2017
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Anjos ou demónios? Polémicas políticas ofuscam desfile da Victoria's Secret na China

Por
Reuters
Traduzido por
Novello Dariella
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21 de nov. de 2017

O desfile de moda anual da Victoria's Secret realizou-se pela primeira vez na China, na noite de segunda-feira (20), sem a participação de várias estrelas esperadas, incluindo a modelo Gigi Hadid e a cantora pop Katy Perry.


Modelo Xiao Wen (L) tira selfie antes do desfile da Victoria's Secret em Xangai, China, 20 de novembro de 2017 - REUTERS/Aly Song


Gigi Hadid confirmou a sua ausência após os boatos que se espalharam antes do desfile, sobre vistos a serem recusados devido à situação política sensível e os controlos rigorosos em torno do evento de Xangai, uma dor de cabeça para a marca famosa pela sua lingerie sensual.

Katy Perry e Gigi Hadid criaram polémicas e foram criticadas na comunicação social estatal e online da China. A primeira por comparecer num espetáculo, em 2015, e mostrar apoio a Taiwan, uma ilha que a China considera uma província rebelde e parte integrante do seu território.

O furor gerado mostra os desafios enfrentados pelas empresas globais que procuram realizar grandes eventos ao vivo na China, mesmo que produtores de música, Hollywood e franquias desportivas procurem cada vez mais explorar o mercado de entretenimento de rápido crescimento do país.

"As marcas têm de estar muito mais conscientes dos temas politicamente ou moralmente sensíveis aqui", diz Ben Cavender, diretor do China Market Research Group, com sede em Xangai.

"É um ambiente político muito diferente dos seus mercados domésticos e estamos num momento em que a China se está a unir para colocar ordem no comportamento e empurrar uma espécie de código moral".

A China manteve um controlo rigoroso dos artistas permitidos no país. Justin Bieber, Lady Gaga, Bjork e Bon Jovi foram todos vetados por comportamento negativo ou por abordarem temas sensíveis como o Tibete ou Taiwan.

Sob a presidência de Xi Jinping, há um empenho para reforçar os "valores fundamentais" socialistas em produtos culturais de jogos de computador e espetáculos de música, o que também significou que empresas como o criador de jogos NetEase Inc. e produtores dos Grammy Awards tiveram que "limpar" as suas ofertas.

Gigi Hadid, uma das "Angels" da Victoria's Secret, informou no Twitter, na semana passada, que não iria participar no desfile. O tweet foi feito após a modelo publicar um video seu a segurar uma pequena estátua de Buda, algo que enfureceu a China.

Segundo a comunicação social americana, Katy Perry viu o seu visto negado devido ao seu apoio a Taiwan durante um concerto de 2015, no qual se cobriu com uma bandeira da ilha democrática.

O influente tablóide chinês estatal The Global Times escreveu num editorial antes do desfile que era "lógico" que os dois vistos tivessem sido negados devido às suas ações passadas.

“O payback foi inevitável. Aqueles que levam a sério o desenvolvimento das suas carreiras no mercado chinês podem tirar lições destes casos e aprender a cumprir as regras na China", afirmou o tablóide.

A Victoria's Secret não fez comentários sobre o assunto. O Ministério das Relações Exteriores da China recusou-se a comentar na segunda-feira, mas disse na semana passada que acolheu pessoas que vieram para a China para eventos culturais “normais".

A Reuters ainda não conseguiu falar com Gigi Hadid e Katy Perry não fez comentários.

O desfile da marca americana de lingerie, cuja edição de 2016 se realizou em Paris, combina moda, fantasia e entretenimento, e inclui diversas top models, celebridades e músicos desde a sua criação, em 1996. A empresa afirma vender as "lingeries mais sexy" do mundo.

As polémicas ocorridas são uma distração indesejada, já que a Victoria's Secret quer crescer no mercado de roupas íntima feminina, que deve atingir 33 mil milhões de dólares até 2020, de acordo com a Euromonitor. A empresa abriu a sua primeira loja em Xangai este ano.

Mas, entrar na "lista negra" do governo chinês pode ser muito negativo, diz Ryan Bao, um executivo da SM Entertainment, com sede em Pequim. Os artistas sul-coreanos com os quais trabalhou foram colocados na prateleira ao longo do último ano, devido a uma disputa política entre Pequim e Seul.

"O governo é muito inteligente. Não diria abertamente que baniu alguém, mas pode encontrar uma maneira de manter essa pessoa afastada de qualquer forma”, diz Ryan Bao.

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