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Portugal Textil
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12 de dez. de 2018
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Austrália e activewear disparam preço da lã

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Portugal Textil
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12 de dez. de 2018

A maior exportadora mundial de lã de alta qualidade, a Austrália, foi atingida por uma seca severa que está a afetar o preço da matéria-prima, ao mesmo tempo que aumenta a procura por lã junto dos especialistas em activewear à escala global.


A produtora italiana de tecidos e malhas Botto Giuseppe, que trabalha para marcas de luxo como a Giorgio Armani e a Max Mara, subiu os seus preços, em média, entre 7% a 8% no último ano, enquanto a marca suíça de sportswear Mover elevou o preço da sua t-shirt de lã merino em 15%. «O preço da lã tem vindo a aumentar continuamente ao longo dos últimos três anos, mas a grande subida aconteceu no último ano», afirma, à Reuters, Silvio Botto Poala, CEO da Botto Giuseppe, empresa com 142 anos.

Entretanto, a retalhista sueca H&M cortou na quantidade de lã que utiliza, evitando assim a subida de preços em artigos como camisolas e casacos de lã. A Botto Giuseppe aumentou o preço da flanela de lã utilizada em fatos para 19,50 euros por metro, face aos 18 euros de há um ano, indica o CEO. Já o preço da t-shirt em lã merino da Mover aumentou de 65 para 75 euros no último ano, adianta o seu CEO Nicolas Rochat.

A Pendleton, empresa têxtil norte-americana reputada pelas suas camisas de lã axadrezadas e que já vai na sexta geração, anunciou que vai aumentar alguns dos seus preços no próximo ano, devido à subida do preço da lã. «Não vamos começar a utilizar lãs mais baratas, pelo que teremos de aumentar o preço», admite John Bishop, CEO da empresa, que já colaborou com a Nike numa gama de sapatilhas em tecido xadrez.

A lã tem-se tornado cada vez mais popular no mundo do sportswear, devido às suas propriedades termorreguladoras naturais e ao aumento da procura por tecidos ecológicos, especialmente junto dos consumidores mais novos, asseguram tanto os criadores de ovelhas como os produtores laneiros. No entanto, o aumento da procura coincidiu com uma seca prolongada no leste da Austrália, que fornece 90% da lã de alta qualidade exportada mundialmente usada em vestuário.

Compradores reagem mal

A falta de chuva tornou os terrenos inférteis, obrigando os pastores a despender mais dinheiro na alimentação dos rebanhos. Muitos tiveram que enviar animais para o matadouro, o que levou o ABARES, o Departamento de Recursos Económicos e Agrícolas da Austrália, a baixar as estimativas de produção de lã em 4% para o corrente ano.

Anthony Uren, que gere a quinta Congi, no nordeste de Nova Gales do Sul, confessa que tem mantido as suas ovelhas alimentadas com feno e cevada comprados. «Nunca tivemos tão pouca chuva como este ano», constata Uren, que fornece lã a produtoras como a Botto Giuseppe, entre outras.

Os preços de referência da lã da Austrália ultrapassaram os 21 dólares australianos por quilo (cerca de 13 euros) em agosto, enquanto um ano antes estavam nos 16 dólares australianos.

Os efeitos da seca são agora claramente visíveis para os produtores e compradores de lã. A fibra dos animais afetados pela seca é mais fina e está frequentemente contaminada por pó, diz o comprador Andrew Blanch, diretor-geral da produtora de lã New England Wool, sediada na Austrália e fundada em 1990 por duas empresas italianas, Successori Reda e Vitale Barberis Canonico.

De igual forma, clientes de fábricas chinesas de lanifícios estão a recusar a subida de preços, criando um impasse entre vendedores e compradores, o que faz inclusive com que alguns fardos não sejam vendidos, avança Michael Jones, CEO da AWH, uma das principais empresas de armazenamento e exportação de lã na Austrália. Por consequência, os preços caíram 15% desde setembro, segundo os relatórios da Australian Wool Innovation. Contudo, os preços continuam próximos de recordes históricos e os vendedores sabem que estão na posse de um produto com muita procura que enfrenta escassez de oferta, assegura Jones.

Activewear

Em particular, a procura de lã para activewear continua a crescer. A produtora laneira italiana Reda começou a fabricar tecidos de lã desportivos após a crise financeira de 2008, que fez com que a procura por fatos caísse, conta o CEO Ercole Botto Poala, familiar do CEO da Botto Giuseppe.

Os tecidos de lã para activewear representam atualmente 10% do volume de negócios anual de 110 milhões de euros da empresa e constituem a sua gama de produtos que mais cresceu. A Reda ampliou o seu espaço fabril em maio para responder à procura crescente, revela Ercole Botto Poala. O portefólio de clientes da produtora de tecidos laneiros, que se viu obrigada a aumentar os seus preços para acompanhar a subida da lã, contempla desde a marca norte-americana de sapatilhas em lã Allbirds, popular entre os tecnocratas de Silicon Valley, e a casa de luxo italiana Zegna, que usa a sua marca registada de tecidos Techmerino numa linha de vestuário casual em pura lã, a qual até inclui calças de fato de treino.

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