Béhen, a marca de reciclagem que recupera a tradição e o artesanato têxtil português
Narrar a história da mulher através da tradição têxtil é o leitmotiv por detrás das criações da Béhen, uma jovem marca artesanal portuguesa que funciona como um coletivo criativo quase familiar. Tomando o seu nome emprestado ao hindi, que significa "irmã", Béhen deriva das suas próprias viagens onde se inspira nos saris tradicionais, fundidos com a tradição portuguesa, da qual se recuperam os bordados característicos ou têxteis caseiros e se dá uma segunda vida sob a forma de peças de vestuário contemporâneas originais. Licenciada pela Universidade de Kingston em Londres, a designer Joana Duarte não está sozinha a promover este projeto pessoal a partir do seu estúdio no coração do Bairro Alto de Lisboa. Nas suas costas estão as mulheres apaixonadas da família: desde a avó Maria, responsável pela seleção de tecidos, até à mãe Natália, encarregada da supervisão global da marca; a sua tia, as irmãs e uma mão cheia de amigos que não hesitam em dar uma ajuda, em frente ou atrás das câmaras.

"O artesanato ajuda-nos a recordar o que realmente significa o tempo. Fazer peças de vestuário à mão leva tempo, como deveria!", exclama a designer portuguesa, admitindo que "não é correto produzir peças de vestuário em tempo recorde e contribuir para uma indústria que está sempre em movimento a toda a velocidade". Sob a filosofia da sustentabilidade da indústria, segundo a qual "as coisas boas levam tempo", Béhen colabora com pequenas comunidades locais, com o objetivo de partilhar e preservar o savoir-faire artesanal, tornando visíveis as técnicas das pequenas empresas que são "mantidas na sombra devido à sua pequena dimensão" e propondo uma oferta única e limitada, mantendo ao mesmo tempo um controlo de qualidade elevado. "Em vez de 'roubar' inspiração, preferimos trabalhar com as comunidades para desenvolver um produto autêntico que lhes permita ganhar a vida com o seu ofício", explica.
"Manter uma relação com as pessoas que criam os nossos produtos é um dos nossos valores fundamentais. Acreditamos que a moda se tem tornado cada vez mais atomizada, perdendo a sua essência e o seu poder de ligar as pessoas. A nossa missão é reunir novamente as pessoas e acreditamos que a moda pode fazer isso", diz ainda a mentora da marca portuguesa, especializada em preservar as técnicas tradicionais e reformulá-las para que possam ser apreciadas pelas novas gerações. "O artesanato tradicional é o que nos resta de uma época em que o tempo parecia mais longo", acrescenta.

Para tal, a Béhen utiliza têxteis para casa, roupa de mesa e de cama encontrada durante as visitas a numerosas feiras da ladra e lojas de antiguidades. Além disso, as mulheres do projeto tornaram-se especialistas em vasculhar armários, mergulhando nos "arquivos" familiares de numerosos colaboradores. "É uma palavra de boca em boca entre vizinhos e amigos, por isso recebemos frequentemente mensagens do WhatsApp e Facebook com fotografias de colchas ou de roupa de mesa. Somos agora uma comunidade de mulheres em todo o país, uma irmandade ligada por bordados e arquivos familiares", detalha. Do mesmo modo, para a sua coleção de primavera-verão 2022 apresentada na última edição da ModaLisboa, a empresa confiou nos bordados feitos à mão da ilha da Madeira e da cidade do norte de Portugal de Viana do Castelo. E em fevereiro deste ano, a marca assinou uma colaboração com a Levi's para dar uma segunda vida a 25 dos modelos da marca de ganga.
O resultado? Vestuário premium disponível a partir de 250 euros, tais como camisas delicadas bordadas, fatos de alfaiataria originais estampados, casacos coloridos com detalhes de peles sintéticas reutilizadas ou de croché, tanto para homens como para mulheres, produzidos no formato "por medida" em 80% das caixas. A maioria das encomendas são feitas através da sua própria loja online, à qual a Béhen fornece um processo personalizado "semelhante à alta costura", a partir das suas oficinas de produção em Lisboa ou através das suas colaborações solidárias com a Fundação Aga Khan, para fornecer trabalho e formação a mulheres desempregadas em Lisboa e Sintra, ou ainda com a Cooperativa de Valorização de Resíduos, em São Tomé e Príncipe. A nível físico, a marca já tem uma presença na 100% Silk, em Toronto; Simonett, em Miami; ou no seu próprio espaço em Lisboa, localizado no número 52 da rua Poiais de São Bento.

O compromisso da empresa vai para além da tradição. "A moda é política, ou pelo menos deveria ser. Todas as nossas coleções são profundamente inspiradas pelas mulheres. Especialmente porque trabalhamos com materiais que estão diretamente ligados às mulheres e ao que costumava ser o seu trabalho doméstico", sublinha a abordagem feminista da marca. Com o desafio de "continuar a aumentar o número de artesãos envolvidos no projeto" como forma de proteger a história e ligá-la às novas gerações, em vez de deixar que os tecidos sejam esquecidos ou degradados e esquecidos no fundo das gavetas, a Béhen pretende continuar a lutar contra o "desaparecimento" do artesanato nas suas futuras coleções. "Os verdadeiros mestres merecem o seu reconhecimento", conclui Joana Duarte.
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