EFE
Estela Ataíde
20 de nov. de 2017
Bélgica, a fábrica europeia de designers de sucesso
EFE
Estela Ataíde
20 de nov. de 2017
A Bélgica tornou-se, nos últimos anos, numa fábrica exportadora de designers e num modelo de sucesso face às poderosas marcas de Paris ou Nova Iorque, o que motivou o governo belga a continuar a apoiar a moda nacional para a converter numa montra internacional.

O exemplo belga transformou-se num caso de estudo nas escolas por ter convertido, em apenas 35 anos, o “Made in Belgium” num selo de qualidade, com Bruxelas e Antuérpia a disputar o título de capital da moda europeia, aproveitando a sua localização no coração do continente para importar e exportar talentos.
“Se Antuérpia sempre foi reconhecida pela moda internacional, Bruxelas está a começar a sê-lo. As instituições perceberam que ajuda a melhorar a imagem do país, atrai turismo, além da exportação das marcas”, diz o francês Philippe Pourhashemi, consultor de moda formado em Bruxelas.
A história não é nova: os chamados Seis de Antuérpia (Dirk Bikkembergs, Ann Demeulemeester, Walter van Beirendonck, Dries Van Noten, Dirk Van Saene e Marina Lee) tiveram uma ascensão meteórica na década de 80, quando a imprensa internacional descobriu as suas coleções em Londres.
Pouco depois, Martin Margiela transformou o conceito te luxo e arrancou a moda do glamour dos anos 80, imposto por Christophe Lacroix ou Donna Karan, para alcançar o triunfo do minimalismo.
Para Pourhashemi, que trabalha como coach de jovens talentos da moda, os belgas “são alternativos” e “têm vontade de fazer coisas diferentes”, uma característica que vem da clara desvantagem em termos de recursos quando em comparação com as grandes casas francesas ou italianas.
Isso obriga-os a ser engenhosos, a “ser radicais” e a “apostar no espetáculo” na passarela, como fazem Walter van Beirendonck ou Olivier Theyskens.
“Embora não gostem que bloqueiem a sua criatividade, também querem vender, são muito pragmáticos, e o governo compreendeu que era importante apoiá-los e ter incubadoras que lhes forneçam as ferramentas para terem sucesso”, explica Pourhashemi.
A Bélgica tem duas das melhores escolas de moda, com financiamento público: a Cambre de Bruxelas e a Real Academia de Belas Artes de Antuérpia, conhecidas pela sua trajetória, pelo incentivo que dão aos seus alunos para criarem e não reinterpretarem, e pela exigência, visto que apenas alguns conseguem formar-se.

Além dos Seis de Antuérpia e de Martin Margiela, destas escolas saíram Anthony Vaccarello, que está na direção da Saint Laurent, Raf Simons, que depois da Dior passou para a Calvin Klein, Olivier Theyskens, que procura o sucesso a solo depois da Rochas, que desfila em Paris.
Ao sucesso internacional soma-se o orgulho patriótico com que os belgas compram a moda do seu país, fácil de encontrar em qualquer loja multimarca, e movimentos como “Eu compro belga”, para incentivar o consumo do design nacional.
“Uma das razões para vir cá é mergulhar na cultura de moda. As pessoas fixam-se nas passarelas de Nova Iorque ou Paris e não veem que estão a acontecer muitas coisas na Europa”, garante Tatiana de la Fuente, responsável de relações externas da IED Barcelona, que participou recentemente na Cimeira da Moda Europeia, em Bruxelas, e nas Fashion Talks em Antuérpia.
O sucesso das suas escolas é tal que são cada vez mais os estrangeiros que vão estudar lá: daí alguns vão para Paris, para trabalhar nos ateliers mais prestigiados, ou decidem ficar e tirar proveito do impulso nacional para usar a etiqueta belga, como Lena Lumelski, nascida na Crimeia.
Em paralelo com as escolas, plataformas de caráter regional como MAD, Flanders DC ou Wallonie-Bruxelles Design Mode funcionam como “think tanks”, tendo também um papel na divulgação do talento belga em feiras internacionais, na concessão de bolsas de estudos e na organização de algumas das conferências mais reconhecidas da indústria.
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