Agência LUSA
22 de ago. de 2014
Cerca de 350 pessoas trocam roupa habitual por papel em cortejo na Foz do Porto
Agência LUSA
22 de ago. de 2014
Porto, 22 ago (Lusa) – Saias, casacos, vestidos e chapéus, tudo foi costurado em papel crepe para o tradicional cortejo das Festas de São Bartolomeu na Foz, Porto, que no domingo leva 350 participantes a desfilar desde a Cantareira até a um “banho-santo” no mar.
As festas remontam à segunda metade do século XIX, mas este é o primeiro ano que a própria junta de freguesia resolveu criar um bloco de participantes no cortejo, desafiando os membros do seu projeto sénior “Trajetórias” a aderir ao corta e cose do papel.
Dolores Gouveia, a estilista, inspirou-se na história do Passeio Alegre e desenhou os fatos e acessórios que a Rosa, a Maria Anunciação, a Ana Maria, a Neli, a Teresa e a Joaquina, entre muitas outras, foram fazendo ao longo do último mês.
“É preciso muito jeitinho para não rasgar o papel”, conta Rosa, a modista de 73 anos, que há 12 deixou de trabalhar na costura e agora, para as festas na Foz, trocou o tecido pelo papel e foi “a mestra” do grupo de mulheres que num ateliê se juntou tardes e noites para preparar os trajes.
Das muitas resmas de papel crepe, nasceram casacos, saias, calças, vestidos, calções, laços, chapéus e flores para os 28 fatos que estão já prontos a serem vestidos e que serão divididos em cinco alas, começando pela comissão de festas com a “musa”, a “obra” e o “poeta” a ser encarnado pelo próprio presidente da união de juntas, Nuno Ortigão.
A ala seguinte será a dos “aristocratas”, seguem-se os representantes do “jardim”, logo atrás irá o grupo vestido de “mar” e a terminar estão os “banhistas”, lembrando os que no final do século XIX iam até à Foz na época de banhos.
Joaquina, de 78 anos, já assistiu a muitos cortejos ao longo dos últimos 50, mas este é o primeiro em que vai participar – vestida de “obra” – e no fim do qual promete ir ao banho no mar, não sem antes tirar o vestido, que, confessa, quer “guardar”.
Maria Anunciação, de 70 anos, será a “baronesa” no cortejo em que, também ela, participa pela primeira vez e ao qual levará a sobrinha de quatro anos, igualmente vestida de “burguesinha”, com direito a sapatos forrados a papel prateado.
Ana Maria, de 64 anos, “nascida e criada” na Foz, não vai desfilar mas isso não a impediu de ajudar ao corte e costura do papel em traje, que até já fez várias vezes para os irmãos.
“Dizem que o banho em São Bartolomeu é santo e vale por sete”, explica, lembrando que os trajes, cuja origem desconhece, como aliás desconhecem todas, “há muitos anos” até eram feitos rem jornal.
Para além do bloco de 28 figurantes da união de freguesias, participam no cortejo quatro grupos – Academia de Dança e Cantares do Norte de Portugal, Orfeão da Foz, Paraíso da Foz e Escola EB S. João da Foz – num total de 350 trajados.
A partir das 08:30 de domingo, todos se juntarão na Obra Diocesana para vestir os fatos, seguindo pelas 10:30 em cortejo desde o lugar da “Cantareira”, passando pela “Foz Velha”, Orfeão, Jardim do Passeio Alegre, até à Praia do Ourigo onde, manda a tradição, o papel vai à água em nome de um banho-santo.
Copyright © 2024 Agência LUSA. Todos os direitos reservados.