Charlotte Casiraghi inaugura, a cavalo, a alta costura construtivista da Chanel
Precisamente quando se falava numa temporada de alta costura de desfiles intimistas, chegam Virgine Viard e o artista Xavier Veilhan com uma decoração metafísica e ambiciosa, cenário para uma coleção Chanel de estilo construtivista.
Foi a princesa Charlotte do Mónaco quem abriu o baile esta terça-feira de manhã, vestindo um casaco Chanel em lã bouclé antracite com botões de pedraria e empoleirada no seu cavalo Cusco, que desfilou pela passarela, antes de sair a galope.
Um arranque espetacular para um desfile, num Grand Palais Éphémère reinventado com sinuosas passarelas em areia, plataformas acarpetadas e assentos em estruturas tubulares. Anéis gigantes e rosetas animadas compuseram um fundo marcante para a chegada de celebridades, de Elsa Zylberstein a Pharrell Williams, Anamaria Vartolomei ou Abd Al Malik, passando por Margot Robbie, Carole Bouquet, Sofia Coppola ou Vanessa Paradis, gente bonita dividida por dois desfiles, às 10h e ao meio-dia.
Sobre o décor pairavam luzes de 20 metros quadrados, comprimidos enormes do tamanho de camiões e esculturas cúbicas monumentais dispostas em filas escalonadas. No centro do palco, o DJ Sébastien Tellier estava empoleirado num set de dez metros de altura, e passou uma excelente banda sonora de funk eletrónico.
Em suma, foi um brilhante espetáculo visual imaginado por Xavier Veilhan, convidado de honra de França na Bienal de Veneza de 2017.
Toda a coleção é inspirada nos padrões e formas gráficas da década de 1920. Mas, não havia nada demasiado retro. Na abertura, elegantes tailleurs cujo clássico casaco de quatro botões era feito de lã bouclé azul egípcio ou em pied-de-poule cor de cobre. Virginie Viard imaginou uma série de robes-manteaux cru, com quadrados framboesa ou morango, combinando-os com mangas em plumas de marabu. Tudo complementado por Mary Janes de duas cores, com saltos impressionantes inspirados nos anos 20. E usado por um elenco de modelos ostentando aquilo a que os franceses chamam de oeil au beurre noir, ou seja, olho negro.
Virginie Viard entusiasmou-se: “As formas geométricas deram-me vontade de contrastes, muita leveza e frescor: vestidos aéreos que flutuam, como se estivessem suspensos no ar. Muitos folhos, franjas, macramé, rendas brilhantes, tweed iridescente, botões adornados com pedras coloridas.”
Mas, a sua melhor ideia foi uma saia recortada, com uma fenda no meio até à cintura, e usada sobre camisas de renda brancas ou douradas pelo joelho. Para a noite, Viard mistura vestidos de festa e cocktail de chiffon em sobreposições com blusões de motard em lã bouclé e boleros. E propõe vários vestidos coluna tecidos em tons brilhantes de platina, conferindo glamour entre-deux-guerres a estas peças. Destaque para um vestido longo inteiramente bordado por Lesage com camélias construtivistas em pérolas pretas, brancas e coral, mais uma vez associado a um pequeno casaco preto.
No meio do cenário, um vídeo granulado em estilo punk chic e cool foi projetado em dois ecrãs monumentais: vimos Charlotte Casiraghi – embaixadora oficial da Chanel – a cavalgar Cusco num paddock e no meio da floresta, sob a lente do fotógrafo norueguês Ola Rindal. Este interlúdio equestre oscilou entre fantasia e realidade, assim como esta coleção de alta costura.
E, quando o desfile atingiu novas alturas, Sébastien Tellier começou de repente a fingir tocar um enorme bandolim abstrato de madeira, enquanto na primeira fila Pharrell Williams levantou o punho para mostrar o seu agrado.
Nos bastidores após o desfile, Virginie Viard disse à FashionNetwork.com: “A ideia para este décor surgiu de um desejo antigo de trabalhar com Xavier Veilhan. A suas inspirações construtivistas lembram-me as de Karl Lagerfeld. Adoro esse espírito similar entre nós, hoje e através do tempo. Além de criar o décor do espetáculo com referências aos avant-gardes das décadas de 1920 e 1930, Xavier quis trabalhar com Charlotte Casiraghi. O seu universo artístico é cheio de cavalos, e Charlotte é uma cavaleira experiente.”
Este foi primeiro desfile da Chanel desde que os proprietários da marca, a família Wertheimer, anunciaram que haviam nomeado uma nova diretora-geral para a maison, Leena Nair. Esta junta-se à gigante da moda após ter sido diretora de recursos humanos da Unilever. Mas, Leena Nair, que iniciará a sua nova missão a 1 de fevereiro, não esteve presente esta manhã em Paris.
Por outro lado, o atual diretor e líder do clã, Alain Wertheimer, discretamente sentado na segunda fila, passou metade do desfile a tirar fotografias e a fazer vídeos com o seu iPhone, o que num líder do luxo geralmente é sinal de boa disposição.
E assim deverá ser, depois desta coleção extremamente bem conseguida, ainda que não muito experimental, e a melhor encenação vista em Paris em vários anos.
Muitas vezes, Virginie Viard é ligeiramente rebaixada pela crítica, que a qualifica como uma criadora talentosa, mas desprovida da visão própria de um grande diretor artístico. O desfile de hoje deverá acabar com esse tipo de discurso.
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