Christian Dior: coleção Cruise será apresentada na Grécia

Por

Godfrey Deeny

Helena OSORIO

Publicado em
23 de abr. de 2021

Lorde Byron (6.º Barão Byron) – um dos maiores poetas britânicos e uma das figuras mais influentes do Romantismo, que se juntou à guerra de independência da Grécia contra o Império Otomano, aí acabando por morrer aos 36 anos – teria dado o sinal de partida do desfile de moda Cruise da Dior, agendado para o próximo dia 17 de junho em Atenas. Isto porque a data coincide com a celebração do Bicentenário da Revolução da Grécia (1821), este ano.

"A maison Dior escolheu Atenas, um destino excecional (berço da civilização ocidental e das artes europeias), para apresentar a coleção Cruise 2021/2022 concebida por Maria Grazia Chiuri", disse a maison num comunicado.
 
O próximo desfile Cruise da Dior terá assim lugar em Atenas, a 17 de junho, "no estrito cumprimento das medidas sanitárias em vigor".

Um desfile Cruise que surge 70 anos depois de Monsieur Dior – o designer francês fundador da maison em 1946 – ter apresentado uma coleção de alta costura na Acrópole, em frente ao Partenon, o templo da antiguidade clássica dedicado à deusa grega Atena, que é possivelmente a obra arquitectónica mais emblemática da História da Arte europeia.
 
Com a notícia, a Dior lançou uma fotografia do evento histórico de moda de Monsieur Dior, que foi captada pelo fotógrafo Jean-Pierre Pedrazzini para a revista Paris Match, mostrando oito modelos em toda a sua glória na Acrópole, apresentando a coleção Dior de 1951.
 
A marca francesa ainda não revelou o local exato do próximo espectáculo idealizado por Chiuri, mas salientou que "este evento inovador irá mostrar a criatividade dos artistas e artesãos locais".
 
Maria Grazia Chiuri já percorreu o Mediterrâneo com as suas coleções Cruiser para a Dior. Os dois desfiles anteriores foram realizados em Marraquexe (Marrocos) e Lecce (Itália), e em cada uma destas cidades realizou festas noturnas de gala em locais históricos. Em ambos os casos, Chiuri enriqueceu as coleções com colaborações e parcerias com artistas e artesãos locais, tanto em África como em Itália, as quais foram elogiadas pela crítica, distinguindo em simultâneo um forte carácter comercial.
 
"Com estes novos diálogos e reinventando a excelência da Dior, o desfile de moda será uma extensão da magia da apresentação que fizemos em Lecce (principal cidade da península de Salento na Puglia), em 2020", sublinhou a Dior, fazendo recordar os looks de Maria Grazia Chiuri, homenageando as antigas e místicas tradições da região do sul de Itália (no caso da Puglia ou Apúlia), onde a diretora criativa da marca tem raízes e memórias, sendo que o pai trabalhava nas proximidades.
 

A Grécia iniciou a guerra pela independência do Império Otomano a 25 de março de 1821, data em que se comemora o Dia da Independência. A chegada à Grécia de Byron – o mais célebre do grupo de românticos, os filo-helenos, que, vindos de toda a Europa, se juntaram à luta – foi vital para ganhar o apoio internacional para o movimento de independência, motivo pelo qual muitos gregos o consideram um herói nacional. Byron vendeu até bens pessoais em Inglaterra para financiar o esforço de guerra, embora não tenha assistido ao grito de liberdade grego por ter morrido de febre contraída em Mesolóngi (ou Missolonghi), aos 36 anos, durante o cerco da Batalha de Lepanto.

Byron viveu em 1810 em Atenas, tendo sido imortalizado na obra do pintor Theodoros Vryzakis intitulada A Receção de Lorde Byron a Missolonghi (1861), que se encontra na Galeria Nacional de Atenas (ou Pinacoteca Nacional, o museu de arte mais importante da Grécia que se destaca pela coleção de pintura e escultura grega dos séculos XIX e XX). O jovem bissexual – também conhecido pela vida de excessos e pelos numerosos casos amorosos – percorreu toda a Europa, especialmente Itália, onde viveu durante sete anos.

Passou também por Portugal, onde segundo carta datada de 16 de julho de 1809 – endereçada ao amigo Francis Hodgson – escreveu que "a vila de Cintra, na Estremadura, é talvez a mais bela do mundo. Sinto-me muito feliz aqui, porque adoro laranjas, e falo um latim macarrónico com os monges, (...) frequento a sociedade (com as minhas pistolas de bolso), e nado ao longo do Tejo, e monto em burros ou mulas, e digo palavrões em Português, e sou mordido pelos mosquitos". 

Em Sintra, no Lawrence Hotel, o barão viajante terá escrito uma fração do seu longo poema dividido em quatro partes, Childe Harold's Pilgrimage (Peregrinação de Childe Harold), publicado em 1812: “Lo! Cintra’s glorious Eden intervenes / In variegated maze of mount and glen. / (...) Who to the awe-struck world unlocked Elysium’s gates?”

Ou seja, Sintra em Byron desbloqueou os portões do Elysium (ou Campos Elísios) – o paraíso na mitologia grega – que, muito provavelmente, Maria Grazia Chiuri também irá abrir, este verão, em Atenas.