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Portugal Textil
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8 de out. de 2018
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Cortadoria sem desperdício

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Portugal Textil
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8 de out. de 2018

Aos 75 anos, a Cortadoria Nacional de Pêlo está a revolucionar simultaneamente o mercado das fibras e dos curtumes. Um novo processo de extração do pelo de coelho vai permitir reaproveitar a pele para a sua aplicação em artigos de luxo.


Depois de vários anos de investigação – foi em 2011 que começou a repensar os processos produtivos –, a empresa vai começar, no final do corrente ano, a produzir pele de coelho. «No processo tradicional, o equipamento que retira o pelo da pele destrói a pele. Agora temos um corte por divisão que permite separar a pele, cortar o pelo junto à raiz e aproveitar integralmente a fibra sem destruir a pele», explica, ao Jornal Têxtil, o administrador Nuno Oliveira Figueiredo. O novo processo «está a obrigar-nos a mudar as rotinas operatórias, a introduzir algumas operações que não existiam e a preparar a pele para que seja processada por esta nova forma», aponta.


No fundo, afirma o administrador, «estamos a mudar o processo tradicional, para obter pelo e pele. Em termos de economia circular é fantástico. Estamos a pegar num resíduo da indústria alimentar e valorizamos em dois produtos novos: num chapéu e num couro para fazer carteiras, luvas ou produtos de luxo».

Foco na sustentabilidade

A área da sustentabilidade tem, de resto, sido objeto de preocupação da Cortadoria Nacional de Pêlo, que é a primeira empresa têxtil portuguesa a ostentar a certificação Cradle to Cradle, com o nível ouro, para o processamento do pelo de coelho e as fibras resultantes. «Teve um impacto muito positivo na imagem da empresa, por termos estas preocupações e por transmitirmos aos clientes que temos esta preocupação», revela Nuno Oliveira Figueiredo.

Até ao final do ano, 20% da produção será realizada com recurso ao novo processo da empresa, que irá também arrancar com a unidade de curtume de pele de coelho, um processo inovador não só pelo produto em si, mas também pelas preocupações ambientais que encerra. «Na indústria de curtumes, a primeira operação que se faz é de remoção do pelo da pele. Aqui fazemos o corte, mas ainda ficamos com as raízes do pelo implantadas e temos que fazer essa mesma remoção. Habitualmente, esta operação é feita em meio alcalino, com sulfuretos, o que é altamente poluente na preparação da pele e gera odores terríveis, que caracterizam bem as empresas de curtumes», indica o administrador. «Nós desenvolvemos um processo que tem o mesmo objetivo de remover o pelo, mas é levado a cabo através de água oxigenada e enzimas. Não dá cheiro, nem dá efluentes altamente poluídos. Depois disso fazemos um curtume isento de crómio e metais pesados», sublinha.

Após a utilização, a pele é ainda biodegradável em condições de compostagem. «Fechamos o ciclo. Pegamos na pele, que é um resíduo, transformamos com um processo industrial que também é, em si, limpo e obtemos pelo que tem certificação Cradle to Cradle e um couro biodegradável que obterá no futuro outra certificação Cradle to Cradle», destaca Nuno Oliveira Figueiredo.

Criação de 30 postos de trabalho

As mudanças no atual processo produtivo e a ativação da unidade de curtumes deverá permitir criar cerca de 30 novos postos de trabalho, elevando o efetivo para mais de 100 pessoas até dezembro. No total, o projeto de inovação produtiva em curso, batizado “Further on”, representa um investimento de 4,5 milhões de euros e deverá impulsionar o crescimento da Cortadoria Nacional de Pêlo, que em 2017 registou um volume de negócios próximo dos 9 milhões de euros. «No fundo estamos a fazer uma startup com 75 anos», admite o administrador. «É um momento de descontinuidade do que está para trás, virámos a página e fazemos a coisa agora de uma forma completamente diferente, muito mais eficiente e que aproveita muito melhor toda a matéria-prima. Posso dizer que a Cortadoria pode aumentar o volume de vendas entre 30% a 40% com esta nova unidade de negócio num horizonte de dois anos», antecipa o administrador.

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