DAVII: “Vamos avançar com a loja online esta temporada, mas ainda estamos a ajustar o site"

Por

Helena OSORIO

Publicado em
1 de set. de 2021

DAVII é o nome da marca portuguesa do brasileiro Fabiano Fernandez dos Santos e também o nome que este adotou como seu. O criador de moda autodidata, que não faz planos para o futuro, anuncia em primeira mão – em entrevista exclusiva para o site FashionNetwork.com – que mudou em agosto o atelier para o número 191 da rua do Bonfim no Porto; trabalha com Espanha, França, Itália e Portugal; em meados de outubro, vai voltar a participar no Portugal Fashion em data ainda a confirmar. Como também, proximamente, a Davii vai avançar com a loja online, estando por enquanto a ultimar o site.
 

Neto de avó materna espanhola e tetraneto de português por via paterna, o brasileiro Davii radicou-se no Porto onde criou a marca DAVII em 2019, a poucos meses de ser anunciada ao mundo a pandemia de COVID-19.
 
Depois de trabalhar durante muitos anos para outras marcas famosas no Brasil e na América do Sul, Davii deixou o país natal, que trocou por Portugal. Em 2017 começou por criar o atelier de peças únicas feitas à mão, mas só em 2019 registou a marca, integrando pela primeira vez a plataforma do Portugal Fashion em março de 2021.

Trabalhou durante 20 anos com o estilista Arnaldo Ventura, sendo responsável pelas vendas e pelo styling das campanhas, comunicação e desfiles na Casa de Criadores e São Paulo Fashion Week. Em 2015 decidiu mudar de vida e partiu rumo a Portugal a convite de uma amiga.

Primeiro trabalhou no bar que a amiga estava a montar e depois num alfaiate em Grijó: “Foram seis meses sentado, observando-o a costurar, até que me pediu para fazer a bainha de umas calças".

As roupas da DAVII são simples e minimalistas de inspiração oriental, que carregam sempre uma memória afetiva, escondendo todo um processo criativo complexo, cheio de detalhes abertos a novas construções.
 
FashionNetwork.com: A DAVII é uma marca portuguesa registada por um brasileiro radicado no Porto, ou uma marca brasileira?
DAVII: É uma marca registada em Portugal por um brasileiro. 
 

FNW: Porquê DAVII com dois “i”?
D: O meu nome de registo é Fabiano, mas adotei Davii por causa da minha relação com o personagem bíblico Davi, o pastor que enfrenta o soldado gigante Golias, numa referência à capacidade de começarmos pequenos  e de podermos enfrentar as dificuldades com fé, determinação e dedicação. 

Os dois “i” em maiúscula fazem-me lembrar as linhas paralelas que constituem as estradas, os caminhos, os portais. É também a ideia que nada se constrói e não se chega a lugar nenhum sozinho. Confesso que tem também um pouco a ver com numerologia. 
 
FNW: Formou-se no Brasil?
D: Não tenho formação académica em Moda. No Brasil, tive a oportunidade de iniciar a carreira como vendedor, ganhando extras ao fim de semana no Mercado Mundo Mix, o que me permitiu viajar pelos estados brasileiros, entrando no mundo da moda.

FNW: Com que marcas trabalhou no Brasil, antes de se radicar no Porto?
D: Trabalhei muitos anos com uma marca onde acabei por ser sócio – a Arnaldo Ventura. Fazíamos parte da chamada Casa de Criadores da São Paulo Fashion Week. Depois decidi afastar-me para criar a minha própria marca, o que acabou por acontecer em Portugal. 

FNW: A arte está sempre presente no seu trabalho, até em colaboração com artistas plásticos. Qual a colaboração mais recente?
D: No momento não tenho trabalhado com artistas. Mas é impossível produzir moda sem ter uma relação com as artes. Tudo pode inspirar-me, desde o observar atentamente a natureza, assistir um filme, ouvir uma música e até observar objetos, esculturas e pinturas que podem estar ou não expostas em galerias, museus ou mesmo em cemitérios. Nesse sentido vale a pena acrescentar a importância da fotografia no meu trabalho.
 
Por fim, gosto de forma geral da sumptuosidade e amplitude, para além da elegância provocadora da arquitetura de Oscar Niemeyer, do minimalismo oriental e da intensidade de Frida Kahlo, entre tantos outros artistas e modos de produzir arte. De facto, sou eclético.
 

FNW: Considera a sua obra escultórica e/ou pictórica?
D: Com certeza uma fusão das duas coisas. Entendo que a forma pode alcançar a sua excelência na cor e sei reconhecer que determinadas imagens vão ter melhores resultados, a partir da luminosidade (ou não) de certas cores; uma não se faz sem a outra, ambas são complementares.
 
FNW: Todas as peças são únicas?
D: Sim. Diria que são experiências únicas, desde a criação à execução até à venda. 
Claro que fazemos uma parte das coleções mais comercial, não saindo do meu ADN.
 

FNW: Segue tendências ou prefere a irreverência?
D: Não sou adepto de tendências. Prefiro pensar que o acaso tem mais a ver com minha metodologia de trabalho, o que me permite ser sensível a respeito do que vou encontrar nos fornecedores de tecidos.
 
Há sempre algo que aponta uma possibilidade. Pode vir da textura, do peso, do cair, de coisas do sentir o tecido que indica o caminho; ou mesmo de uma ideia gráfica, que quero ver traduzida em roupa. O importante é salientar que tudo é melhor sentido e aproveitado ao avançarmos no conhecimento técnico.
 
FNW: Em que mais se inspira?
D: Na celebração da vida e no quanto às vezes precisamos de uma certa fuga poética, nem que seja só para atravessar a mesma rua de todos os dias, com a nova sensação produzida pelo toque de uma roupa construída com memória afetiva, aquela que torna os momentos inesquecíveis. 
 

FNW: Quais as cores e tecidos preferidos?
D: A minha cor preferida é o cinza azulado, mesmo que não a use tanto nas coleções. Tento optar sempre por tecidos naturais como a seda, o algodão e o linho. 

FNW: Mantém o atelier aberto no Porto?
D: Sim, agora e desde agosto com um novo endereço, na rua do Bonfim 191.

 
FNW: Com quantos países trabalha hoje e onde se podem adquirir as suas peças?
D: Ainda estamos em fase de crescimento. Por enquanto estamos em três países europeus – Espanha, Itália e Portugal – e temos mais duas lojas que estão a iniciar o trabalho com a marca para a próxima temporada em Paris e Londres, vamos avançar com a loja online esta temporada, mas ainda estamos a ajustar o site da melhor forma possível. Enquanto isso podem encontrar-se as peças com quem temos parceria.
 
FNW: Quais os projetos para o futuro?
D: Não faço planos para o futuro, nunca fui de os fazer. Tenho uma ideia do que quero alcançar na minha carreira como designer, mas no futuro prefiro viver do acaso, de oportunidades ou de presentes que a vida me vai dando e que Deus me proporciona.