AFP-Relaxnews
Novello Dariella
22 de fev. de 2022
Das bananas às escamas de peixe: a caça da indústria da moda por materiais ecológicos
AFP-Relaxnews
Novello Dariella
22 de fev. de 2022
Sapatilhas feitas de folhas de bananeira ou abacaxi, vestidos de urtiga ou escamas de peixe – a busca por materiais sustentáveis tem levado a indústria da moda a lugares selvagens.

"Até poderíamos comer o produto final", disse Hannes Schoenegger, cofundador da Bananatex, que usou folhas de bananeira nas Filipinas para fazer bolsas, blusas e uma linha de sapatos para a H&M que esgotou em duas horas. Schoenegger discursou durante a conferência da Première Vision Paris, onde profissionais da indústria se reúnem para descobrir quais os tecidos que dominarão as próximas estações.
“Colhemos apenas as partes de fora das plantas, que já estão a crescer na floresta, pelo que não não são usados produtos químicos, pesticidas ou até mesmo água”, acrescentou Schoenegger, que visitou vários stands com novos materiais de origem biológica em exposição.
A Nova Kaeru, com sede no Brasil, oferece couro feito de escamas descartadas do peixe gigante pirarucu e outro da planta tropical orelha-de-elefante (ou colocasia gigantea). Nas proximidades, a Ananas Anam exibiu alguns sneakers da Nike feitos de folhas de abacaxi.
Urtigas em alta
Esses têxteis podem ser relativamente de nicho, mas algumas empresas estão determinadas a trazê-los para o mainstream. A empresa espanhola Pyratex oferece várias opções, desde a reciclagem de resíduos da produção de milho e cana-de-açúcar até à fabricação de fibras de algas islandesas, bambu chinês ou madeira austríaca.
"Não se trata de substituir o algodão por uma cultura alternativa. Trata-se de encontrar uma ampla variedade de substitutos para garantir que nada seja usado em excesso", disse a porta-voz Pilar Tejada Lopez.
Uma planta que desperta um interesse particular é a urtiga, que pode ser transformada num tecido semelhante à seda e que é incrivelmente resistente, dando a possibilidade de ser utilizado tanto em roupas do dia a dia como em peças de luxo.
Pilar Tejada Lopez destaca o facto de muitas dessas tecnologias não serem novas. "Na verdade, as urtigas são usadas para roupas há séculos, mas nós esquecemo-las", acrescentou Lopez. "Parte do nosso trabalho é reintroduzir essas ideias que foram perdidas".
Limites naturais
Outros alertam para a dependência excessiva de novos materiais em busca da sustentabilidade. "Os materiais de substituição não servem para nada se continuarmos a fabricar a mesma quantidade de roupas", explicou Victoire Satto, da The Good Goods, empresa de media especializada em moda responsável. "Podem até aumentar o problema se forem ampliados, incentivando mais o desmatamento para dar lugar a novas plantas da moda", focou.
É por isso que empresas como a Bananatex se recusam a ir além dos limites da agricultura biológica. "O nosso projeto faz parte de um programa de reflorestamento, uma boa forma de revitalizar os solos e dar trabalho às famílias locais", relevou Schoenegger. "Há um limite natural e não vamos além disso, porque seria prejudicial."
A Pyratex também dá muita ênfase à parceria com agricultores responsáveis e evita as cadeias de abastecimento ultra complexas que dificultam as tentativas das empresas de vestuário de saber quem cultiva as suas matérias-primas e em quais condições.
Satto assegura também que são necessárias mais pesquisas sobre a durabilidade dos materiais de origem biológica, já que metade dos danos ecológicos de uma peça de roupa está relacionada com o seu descarte. "Se o produto durar apenas seis meses, isso traz um enorme impacto ambiental", ressalvou.
Interações
O designer londrino premiado, Ifeanyi Okwuadi, filho de mãe da Serra Leoa e pai nigeriano, diz que o seu foco está em como as roupas são fabricadas – não como são feitas. "Quando falo de sustentabilidade, estou a referir-me à construção – até à utilização do comprimento certo dos pontos para cada ponto, porque esse tipo de detalhe minucioso afeta a longevidade da peça de vestuário quando se coloca na lavagem", disse.
Okwuadi explica que muitos materiais de origem biológica ainda estão a evoluir. "Atualmente, há muitas palavras da moda para atrair, mas eventualmente não precisaremos de dizer que algo é feito de bananas ou de qualquer outra coisa – serão apenas fibras à base de plantas", salientou. "Eu não as uso no meu trabalho porque a tecnologia atual é bastante primitiva. Mas eu vejo-as como interações, assim como com toda a tecnologia, e precisamos dessas inovações", concluiu.
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