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27 de fev. de 2014
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Desfiles inverno 2014-2015: Milão celebra uma moda portável e serena

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27 de fev. de 2014

Sapatos baixos, vestidos meio longos, o retorno predominante da malha e das peças com mangas consideráveis... Esta será a silueta feminina do próximo inverno proposta pelos costureiros milaneses nesta última semana de moda de Milão consagrada às coleções de pronto-a-vestir feminino para o outono-inverno 2014/2015. “Tudo o que é inútil desapareceu”, diz empolgado um comprador italiano com o qual cruzamos em um desfile e que não pensa duas vezes para falar “de uma moda enfim concreta”.

Marni, uma moda ‘comfort’ e sofisticada sem deixar de ponderar no uso de detalhes superfulos. Foto: Pixelformula


Esta Fashion Week milanesa, que decorreu de 19 a 23 de fevereiro, foi muito apreciada pelos profissionais que tomaram também de assalto os três salões voltados à moda, o White Milano, o Super e o Mipap, programados em paralelo aos desfiles e às apresentações, de 21 a 23 de fevereiro, assim como o bairro de luxo em torno da via Montenapoleone com a abertura de muitas butiques, dentre as quais a maior flagship de Roberto Cavalli no mundo.

No conjunto da obra, as coleções apareceram bastante equilibradas, apresentando ainda uma grande qualidade da confeção e dos materiais, assim como uma contínua pesquisa nas texturas e nos tratamentos dos tecidos. Diante de uma conjuntura que segue ainda crítica e instável, apesar de uma ligeira retomada vista no fim de 2013, os estilistas italianos parecem ter agido em conjunto para socorrer os retalhistas, apresentando-lhes enfim uma moda vendável sem, no entanto, sacrificar a qualidade.

De um desfile a outro, começava a ficar mais claro um estilo sereno com peças desenhadas em materiais quentes e agradáveis (lãs, tweed, pele, alpaca, mohair, lã de angorá) e volumes confortáveis, em particular nas peças com mangas. “Os capotes estão grandes. Há também muitos cabans, casacos pesados, bem como peças de malha outwear, que têm se tornado peças fundamentais do guarda-roupas, enquanto uma menor ênfase parece ter sido dada às peças de baixo, como saias e calças”, ressalta Beppe Angiolini, presidente da entidade italiana representante dos compradores.

Gucci opta por uma paleta de cores de tons pastel e materiais macios. Foto: Pixelformula


“Tudo está mais portável. Decerto, as peças mais excêntricas ainda se fazem presentes, mas elas estão mais simples e sedutoras. Um real esforço foi feito diante dos compradores. O sportswear foi também revisitado dentro dessa óptica. Enquanto, antes, ele era mais masculino, agora é mais elegante e moderado”, conclui.

Na realidade, muitos estilistas conseguiram transformar o registo esportivo em grande voga nessas últimas temporadas em um novo estilo híbrido mais sofisticado. Karl Lagerfeld o fez utilizando tecidos técnicos em forma de costura, a Marni mexeu no horroroso fato de nylon dos anos 1980 para transformá-lo em fatos refinados, a Iceberg transformou a roupa de jogging cinza em calça, e no sentido contrário a Costume National metamorfoseou o fato de banqueiro em roupa de jogging.

De maneira geral, o guarda-roupa ainda toma muito emprestado do vestuário masculino. Além dos tecidos tradicionais da moda masculina, que continuam a ser amplamente explorados, mesclados e revisitados, é o próprio estilo masculino, ao mesmo tempo mais austero e prático com seus volumes mais amplos, que influencia o vestuário feminino.

Neste contexto, os vestidos ganham volume até perder a sua forma (o modelo alcinha seduz mais de um estilista, da Prada à Nº21, passando pela Marni). As saias estão cada vez mais longas e largas. “De uma só vez os vestidos tubinho envelheceram. Agora a tendência está voltada ao over size, mas com belos volumes, que se tornaram necessários por causa do retorno dos sapatos baixos ou com plataforma”, analisa Cesare Tadolini, que é proprietário de duas butiques em Módena.

Masculino e over size, mas elegante, as tendências do próximo inverno são sintetizadas pela Nº21. Foto: Pixelformula


“É uma moda inteligente, pois busca descomplexar as mulheres que antes não conseguiam ver-se em uma moda centrada nos saltos altos. E no sentido contrário ela propõe peças consideráveis, que não são mais somente voltadas à noite e que podem também interessar a esse nicho de clientela que não compra mais porque isto é mal visto neste momento”, prossegue.

Este lado prático e menos ostentatório verifica-se na paleta de cores, uma vez que os estilistas optam com mais frequência pelas “não cores” (bege, carne, preto, branco) ou por tonalidades pastel e tons claros, que suavizam ainda o vestuário feminino (Gucci, Ermanno Scervino, Frankie Morello, Jil Sander).

Com este mesmo espírito, as estampas perdem em intensidade em relação às temporadas passadas, já que os designers optam por cores monocromáticas, ou no máximo por versões bicolores que misturam os efeitos ópticos com a intervenção de uma segunda cor escondida na dobra de uma saia, em um forro como o verde lima proposto em oposição ao cinza por Giorgio Armani, ou em um enxerto de tecido ou de outro material como a pele. Isso não impede flashs de cores aqui ou ali, tal como o look vermelho vibrante visto aqui e ali.

Missoni, malha e peças intercambiáveis. Foto: Pixelformula


“De fato, surgem duas grandes correntes : a mais sofisticada e soft, dos anos 1960 e 1970, e a mais colorida e frívola dos anos 1980 com um streetwear renovado que mescla elementos tradicionais e peças irônicas”, avalia Salvatore d’Alessandro, titular da butique Nida em Caserta. Quanto à pele, esta está onipresente em versão tecnicolor. Mas ela dirige-se mais aos ricos mercados emergentes que aos consumidores europeus.

Para o próximo inverno, Milão aposta, acima de tudo, em uma moda versátil com misturas de materiais, de estilos e de looks, que se tornam possíveis com acessórios e peças práticas e intercambiáveis que podemos acrescentar, sobrepor à vontade ou retirar de acordo com o que se deseja.

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