Designers desvendam visões contrastantes em Paris: Victoria Beckham, Christelle Kocher e Cecilie Bahnsen
Nas últimas 24 horas, a moda tem sido um assunto de mulheres: três delas apresentaram as suas coleções muito diferentes, destinadas a uma clientela dinâmica e vigorosa, mas também romântica.

Victoria Beckham: beleza urbana, novo logo
Nesta estação, Victoria Beckham desistiu do seu desfile em Londres para uma apresentação em Paris, com uma coleção que combinava duas silhuetas muito diferentes – as linhas apertadas de femme fatale características do seu início de carreira na moda, e formas muito mais descontraídas e contemporâneas.
Victoria Beckham também revelou um novo logótipo, um monograma subtil constituído por um V e um B maiúsculo no lado esquerdo. É apresentado em fatos de malha elástica, gabardinas urbanas, uma gama espantosa de jeans e casacos de ganga macia, e ainda cabans matelassés em turquesa e laranja brilhante.
"A criação de um monograma é uma decisão importante, uma vez que durará muito tempo. É por isso que preferia uma espécie de impressão em vez de um grande logotipo", explicou Victoria Beckham numa apresentação privada da sua coleção num showroom da Avenue Hoche.
A antiga cantora também revelou a sua primeira linha completa de sacos – sacos de ombro arquitetónicos e macios, sacos elegantes de couro com fecho dourado que se abrem em quadrados, e até sacos de feltro cortados do mesmo tecido que os seus cabans.
Um vídeo de lookbook, captado numa torre de escritórios em processo de renovação atrás da estação de Liverpool Street em Londres, capturou os princípios da justaposição no trabalho dentro desta coleção para o outono-inverno 2022. Vestidos de cocktail memoráveis e tops com lantejoulas escuras cobertas de gaze, combinados com volumosos e coloridos casacos em lã de pêlo caraculo.
Victoria Beckham tinha inicialmente planeado organizar um jantar em Paris na noite de sexta-feira (4), antes de as preocupações sobre a invasão da Ucrânia a terem levado a cancelar calmamente a noite. Mas esta abordagem subestimada não pode ofuscar o dinamismo criativo e estético da maison de moda britânica.
Koché: gótico contemporâneo
Christelle Kocher apresentou as suas últimas ideias de elegância urbana para a Koché num terreno que é sagrado na História da Moda. O seu cenário: nada menos do que o Salon Napoléon no Hotel Westin, o cenário da maioria dos desfiles de Yves Saint Laurent nas últimas duas décadas.

Os primeiros looks – góticos e Rock – moviam-se, com os seus folhos de pontas, meias-calças de rede, e vestidos curtos. Uma silhueta poderosa herdada dos anos 80, com micro vestidos de cocktail de ombros desnudos que lembram o filme Flash Gordon (1980), e feitos de brocado de ouro. Uma abertura ousada subitamente amaciada por malhas torcidas, num desfile onde as modelos tinham os lábios superiores cosidos com joias em forma de abelhas vermelhas.
"Emoção e conforto", explicou Christelle Kocher com um sorriso ao ser mobedecida pelo público nos bastidores do seu desfile.
O show foi misto com os homens a ostentarem fatos com entretelas e calças de pernas largas, bem acima da cintura – a forma de calças mais na moda na Europa, neste momento.
Mas talvez o maior talento da designer francesa seja aplicar formas e folhos inspirados na alta costura a roupa de festa juvenil, fazendo a roupa parecer sexy sem ser demasiado sofisticada.
Cecilie Bahnsen: versão cosplay
de Copenhaga
A moda escandinava pode (e costuma) ser resumida com jovens que usam roupas em que podem andar de bicicleta. Não é assim para Cecilie Bahnsen, um talento mais subtil que favorece misturas complexas de materiais e pregaria, concebidas para serem usadas enquanto se caminha, ou melhor ainda, para posar.

Inspirada na poeta dinamarquesa Tove Ditlevsen, que faleceu aos 58 anos, a coleção tinha uma qualidade nostálgica, semelhante à poesia. "A chuva parou, deixando apenas árvores nuas, pingando silenciosamente", lê-se a introdução ao poema "Night Wandering” (Vaguear Noturno) desta poeta dotada, que lutou contra a toxicodependência antes de terminar a sua vida em 1976.
No entanto, a sua influência parecia muito mais inofensiva. Modelos passearam pelo salão superior do Palais de Tokyo, usando casacos curtos e boleros amarrotados, sobre vestidos de pregas ou ajustados, todos reunidos e amarrados com cordas. Pétalas de tecido ou folhas cortadas de forma estranha completaram o conjunto. Excentricamente românticas, com momentos ímpares de encanto, as roupas pareciam ideais para um fim-de-semana no Parque Yoyogi de Tóquio.
O ambiente fazia lembrar o cosplay (hobby onde os participantes se fantasiam de personagens fictícios da cultura pop japonesa) no melhor sentido da palavra – variações de rosa doce, rosa suave, laranja e azul elétrico. Mas o destaque do desfile foi o quinteto de silhuetas negras, incluindo um vestido assimétrico em brocado singularmente marcante.
Por acidente ou influência, a coleção fazia lembrar a estilista irlandesa Simone Rocha (cujo apelido vem do avô paterno português), mas representou um verdadeiro momento de moda.
Três talentos femininos muito diferentes, cada um seguindo o seu próprio caminho.
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