Desigual enfrenta ajustes "graduais" nas lojas e pessoal para lidar com pandemia
Thomas Meyer falou publicamente pela primeira vez na história da Desigual, em meados de fevereiro. Nessa altura, o novo coronavírus ainda parecia um problema distante, mais orientado para afetar a capacidade produtiva ou o abastecimento da indústria da moda na China. No entanto, o fundador da empresa catalã já salientava a importância de promover a estratégia omnicanal e a inovação, insistindo na necessidade de renovação, marcada pela nova identidade que a marca apresentou em 2019. Para além destes desafios, há meses que a afronta da sobrevivência ditada pela pandemia e reinvenção é mais urgente do que nunca, dada a obrigação de rever os objetivos e reajustar o negócio. A Desigual confirma o seu roteiro ao site FashionNetwork.com.

"A nossa prioridade tem sido assegurar a sobrevivência e a estabilidade da empresa e é por isso que nos propomos os seguintes objetivos: assegurar a liquidez, rever a estrutura de custos, reduzir as compras a fim de nos ajustarmos à queda das vendas e assegurar que os nossos fornecedores de produtos, que também estão a sofrer, continuem lá", explica Alberto Ojinaga, diretor-geral da Desigual, sobre a gestão da crise. O facto é que a empresa catalã sabe o que é lutar contra a adversidade, depois de ter implementado um plano de reorganização empresarial desde 2015, o ano em que o volume de negócios começou a diminuir. No ano passado, as vendas da empresa contraíram-se em 10% a 589 milhões de euros. "Estamos onde precisamos de estar", disse Thomas Meyer, na altura da referida comunicação, sobre o desenvolvimento do negócio do Desigual.
Como para muitas outras empresas, instituições ou eventos do setor, a pandemia atuou como acelerador dos projetos em que a marca já estava a trabalhar, tais como "a digitalização da empresa e a transformação do produto", Ojinaga detalha, mencionando a "receção positiva" das coleções em colaboração com María Escoté ou Christian Lacroix. "Continuamos a avançar, e continuaremos a fazê-lo, nas ações das quais já obtivemos bons resultados, tais como o crescimento do canal digital, a consolidação do nosso modelo omnicanal ou a relevância da marca", continua o líder, sublinhando os dados otimistas do canal online, que registou um crescimento de 70% nas vendas desde maio; bem como o bom funcionamento do showroom digital com o qual trabalham com os seus grossistas.
Descolagem em linha contra o sofrimento do canal físico
Apesar do desempenho crescente do canal online, que em 2019 representou 14% do volume de negócios, o plano físico continua a sofrer de restrições. Assim, a Desigual foi forçada a fechar a sua loja emblemática no número 47 do Paseo de Gracia de Barcelona, que tinha sofrido uma renovação profunda há apenas dois anos. O espaço, com dois andares e 350 metros quadrados, era um dos estabelecimentos mais emblemáticos da marca na sua cidade de origem e estava localizado numa zona turística privilegiada, em frente à Casa Batló. "Estamos à procura de um novo local para relocalização na mesma área, mas com uma localização e dimensão favoráveis", justifica a empresa. Atualmente, a Desigual está presente em 92 mercados com cerca de 500 lojas e fechou cerca de 40 espaços no ano passado.
Do mesmo modo, dadas as últimas medidas decretadas a nível regional, a Desigual tem um total de 11 lojas fechadas na Catalunha, todas elas localizadas em centros comerciais que foram forçados a fechar na comunidade; assim como três estabelecimentos nas Astúrias. E, a partir do dia 10 de novembro, os espaços da empresa na Andaluzia terão de parar a sua atividade a partir das 18 horas. Embora a empresa explique que o cenário nacional está a mudar e a adaptação ocorre todos os dias, os responsáveis receiam que o confinamento do perímetro também limite o tráfego dos pontos de venda, o que "determina a necessidade de lojas com pessoal e outros postos ligados à rede física". Por este motivo, a Desigual está a trabalhar nas novas funções que serão atribuídas às lojas, tais como pontos de expedição, recolha de compras online ou pontos de devolução.
A nível internacional, a empresa catalã teve de fechar temporariamente os seus pontos de venda no Reino Unido, Bélgica e França. Especificamente no mercado francês, a Desigual detalhou que "algumas das lojas mantêm atividade interna para responderem a encomendas online. Além disso, a marca está "a avaliar possíveis fórmulas para expandir o serviço ao cliente e dar novos papéis às lojas dentro do canal digital de vendas, tais como o serviço Click and Collect ou outros a partir de casa.

Desigual descarta "ajustes drásticos"
No que diz respeito às equipas da empresa, que em Espanha são 1.500 pessoas, incluindo pessoal de loja, escritório e logística, a Desigual afirma que está "a adaptar gradualmente a força de trabalho à nova situação e a procurar limitar o impacto no emprego". Embora a marca não tenha confirmado o número de postos de trabalho que seriam eliminados por enquanto, estes não devem exceder 30 postos de trabalho, um número que exigiria a declaração de um ERTE (redução da atividade ou suspensão de contratos laborais). A empresa, que exclui "ajustes drásticos", afirma estar a "aproveitar a rotação natural para repensar algumas posições e reorganizar a estrutura" e ainda "reforçar as áreas que respondem às prioridades estratégicas: digitalização e transformação dos canais".
A segunda vaga ameaça atacar novamente uma indústria que já tem vindo a aplicar medidas duras desde março passado. Especificamente no caso da Desigual, a empresa enfrentou a nova normalidade a partir de junho, com cerca de 90% da sua rede internacional de lojas a voltar a funcionar e com novas medidas de segurança, na sequência dos encerramentos forçados pelos vários confinamentos internacionais. Em Espanha, a empresa apresentou um ERTE em março passado em 90% do seu pessoal (até 1.359 funcionários de lojas e escritórios), que partiu parcialmente apenas semanas mais tarde. Tendo em vista futuras restrições, a Desigual não revelou possíveis medidas, que dependerão da "evolução da situação". Mas, a marca insiste que não prevê "ajustes drásticos".
Por sua parte, Alberto Ojinaga reserva algum otimismo apesar das incertezas do contexto: "2021 será um ano complexo, mas estamos a acelerar mudanças muito relevantes no produto, reposicionamento da marca e rede de distribuição e estamos convencidos de que sairemos desta situação mais fortes", conclui o diretor-geral da marca.
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