Dior homenageia bordados tradicionais indianos em Bombaim
As estrelas de Bollywood e a aristocracia indiana lotaram a primeira fila do último desfile da Dior a 30 de março, que aconteceu diante do Portal da Índia, em Bombaim. A coleção celebra o bordado indiano tradicional.

Esta coleção para o outono 2023 está repleta de soberbos bordados de pavões dourados e tigres, feitos pelo Chanakya, um atelier que funciona como uma escola de artesanato com a qual a diretora artística da Dior, Maria Grazia Chiuri, trabalha há trinta anos.
"É uma homenagem a uma forma de arte”, explicou Maria Grazia Chiuri em entrevista antes do desfile. “Em França, falamos muito sobre artesanato, e também é um assunto recorrente em Bombaim. A Índia tem um artesanato único."
Vários marajás estiveram presentes, mas curiosamente foram as pop stars tailandesas que mais entusiasmaram o público: Mile Phakphum Romsaithong e Nattawin Wattanagitiphat, novas estrelas das redes sociais.
850 pessoas sentaram-se em bancos atapetados de frente para o majestoso arco de basalto amarelo do Portal da Índia, construído em homenagem à visita do rei George V em 1911. Mas, na noite anterior, este havia sido coberto pela Dior com uma tapeçaria indiana quase psicadélica representando leões coloridos, elefantes e árvores de frutas.
Para aqueles que se esqueceram que estão na Índia, as sensacionais entradas de última hora e os melodramas tratam de os recordar: grandes senhoras em sari clamavam pelos seus lugares na primeira fila diante de uma orquestra indiana liderada por um percussionista frenético e uma cítara. Uma banda sonora surpreendente, composta em colaboração com Michel Gaubert e o violoncelista escocês Oliver Coates, infelizmente (mal) colocada num canto escuro. O único erro nesta apresentação histórica.
Uma multidão de convidados cruzou a rua para chegar ao local do desfile a partir do Taj Mahal Palace, o belo hotel de estilo colonial onde aconteceram os ataques terroristas de novembro de 2008 que mataram 166 pessoas. Compreende-se, portanto, que a segurança tenha sido drástica para o desfile, que atraiu atrizes e estrelas locais como Diana Penty, Natasha Poonawalla, Khushi Kapoor e Ananya Panday, mas também celebridades estrangeiras como Freida Pinto, Maisie Williams, Simone Ashley e Cara Delevingne. Laetitia Casta, Mathilde Warnier, Beatrice Borromeo Casiraghi, a criadora Jeanne Damas, a atriz Camille Cottin, Lucie de la Falaise e a sua filha Ella Richards viajaram de Paris.

Para a jornalista de moda Diana Vreeland, o rosa fúcsia era para a Índia o que o azul marinho é para o Ocidente. Com Maria Grazia Chiuri, é o verde-amarelo ácido que ocupa este lugar. A couturière italiana desenhou uma longa série de vestidos de festa, saias em toile de Jouy, trajes de gala e trench coats neste tom.
No entanto, os primeiros looks do desfile foram inteiramente pretos: trench coats em fina lã italiana cobertos com fios dourados trançados desenhando cenas de selva, mas também elegantes casacos, casacos de noite escuros e românticos e vestidos abotoados. Vários vestidos com estampados de animais foram feitos recorrendo ao método mais antigo de impressão color-block.
A maioria das modelos eram beldades locais, com penteados Art Deco feitos com brilhantina, estilo Great Gatsby nas margens do Ganges. Guido Palau, talvez o maior cabeleireiro do momento, mostrou todo o seu talento. Nos bastidores antes do desfile, as modelos locais admiravam-se com evidente orgulho. Um poder emancipatório.
A escola de artesanato Chanakya também trabalhou em projetos monumentais da Dior, inspirando-se em ideias de artistas ocidentais como Mickalene Thomas, Eva Jospin e Claire Fontaine, que estavam na plateia.
Contra os aguaceiros parisienses e as monções indianas, Maria Grazia Chiuri propôs uma excelente série de trench coats arty, usadas com bolsas de compras trançadas e sandálias hippie de sola grossa.
E a Dior parecia ter dominado toda a capital financeira da Índia esta semana. Os viajantes que desembarcaram no aeroporto de Bombaim foram recebidos por um cartaz gigantesco mostrando a mais recente campanha publicitária da Dior, fotografada em janeiro em Rajasthan, Udaipur e arredores. A equipa criativa e a própria Maria Grazia Chiuri estiveram presentes durante as filmagens, assim como o maquilhador chefe da casa, Peter Phillips. E a marca ainda teve direito a um brilhante suplemento de capa no Times of India de quinta-feira, mostrando a sua última campanha.
A Índia não é um dos principais mercados da Dior, longe disso, mas a marca sempre demonstrou um apego particular ao país.
“O evento decorre ao longo de vários dias, com um programa muito interessante: visitas aos ateliers da Chanakya, mas também uma retrospetiva dedicada aos artistas Madhvi e Manu Parekh, a quem a Dior confiou a criação de obras monumentais para os seus desfiles de moda”, explicou Delphine Arnault, a nova CEO da marca.
A casa parisiense tem apenas duas boutiques na Índia: uma em Nova Deli, no DLF Emporio Mall, e outra no Taj Mahal Palace. Mas, o fascínio da marca pelo país é óbvio.
Em relação à atividade online da Dior, Delphine Arnault responde: “Os nossos clientes indianos são muito apegados aos valores e à história da Dior. Esta amizade sempre ultrapassou fronteiras e continua a crescer por meio de exposições, inaugurações e encontros únicos, como este desfile da Dior, mais pertinente do que nunca.”

O desfile e a noite pretendiam transmitir a inspiração da coleção, traduzida num moodboard com referência ao terceiro designer da casa, Marc Bohan, que levou a Dior para a Índia em 1962 e imortalizou a sua experiência com fotografias a preto e branco.
Maria Grazia Chiuri também se inspirou num famoso ícone da moda local, Gayatri Devi, a Maharani de Jaipur. A diretora artística da Chanakya, Karishma Swali, lembra que Devi foi "a primeira princesa do Rajastão a usar um sari em chiffon e não em tecido real”. “Era famosa pelos seus valores e grande coração.”
A Índia também deixou claramente a sua marca na mente de Marc Bohan, que incorporou formas derivadas do sari nas coleções criadas após a sua viagem.
Sobre estes três dias em Bombaim, Maria Grazia Chiuri conclui: “A minha visão da Índia é a de um país espiritual e caloroso. Ser recebido com flores à chegada provoca uma emoção muito forte. Quero reconhecer a riqueza desta civilização, que muito me trouxe enquanto criadora.”
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