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13 de jun. de 2017
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Eleições britânicas agravam incerteza

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Portugal Textil
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13 de jun. de 2017

Em vez do reforço de poderes, Theresa May acabou por perder força, com a falta de maioria no Parlamento a trazer mais dores de cabeça, nomeadamente na negociação da saída do país da União Europeia.

Numa consequência imediata, a libra desvalorizou no dia seguinte às eleições – que tiveram lugar a 8 de junho – mais de 2% em resposta aos resultados, que acabaram por surpreender muitos analistas, tendo em conta que, durante a curta campanha eleitoral, a maioria das sondagens apontava para uma confortável maioria dos Conservadores.

A Primeira-Ministra teve agora de formar governo em coligação com o Partido Democrático Unionista, da Irlanda do Norte, para dirigir o Reino Unido nos próximos cinco anos.


Daniel Harden, diretor da especialista em câmbios Global Reach Partners, considera que a eleição não só foi um “tiro no pé” para Theresa May em termos políticos, como resultou em mais agitação nos mercados cambiais.

«Dificilmente este é o resultado forte e estável que May pretendia e é um grande contraste em comparação com o que aconteceu há sete semanas, quando a libra esterlina valorizou com os mercados a anteciparem uma maioria conservadora quando foram anunciadas as eleições. Com as negociações do Brexit a deverem começar agora, e com May a afirmar que vai manter-se como Primeira-Ministra, pelo menos por enquanto, a libra deverá ter um percurso difícil nos próximos meses», afirmou, citado pelo just-style.com.

Retalho sob pressão

Para a indústria do retalho, o resultado das eleições significa que haverá poucas mudanças nas políticas a curto prazo. A empresa GlobalData sublinhou, contudo, que, de qualquer forma, houve poucas promessas que entusiasmassem os retalhistas durante a campanha.

«A principal escolha era que partido ia aumentar menos os custos com os diferentes níveis de aumento do salário mínimo. Conservadores, Trabalhistas e Democratas Liberais, todos assinalaram que os aumentos de impostos estariam no horizonte caso vencessem, o que apenas deprimiu o poder de compra dos consumidores», explicou Patrick O’Brien, diretor de pesquisa no retalho no Reino Unido da GlobalData.

«Não surpreende que, desta vez, os líderes do retalho se tenham mantido em silêncio durante a campanha em comparação com 2015, em que muitos deram o seu apoio a partidos, sobretudo ao Partido Conservador», acrescentou O’Brien.

Embora haja ainda pouca informação sobre as políticas que serão implementadas nos próximos cinco anos, o diretor de pesquisa no retalho da GlobalData referiu que a incerteza vai prejudicar a economia e o retalho a curto prazo.
«A incerteza sobre como será tratado o Brexit e quem vai estar no poder pode levar a uma queda na confiança do consumidor, se as pessoas acharem que a sua posição financeira pode ser afetada. Muitos podem adiar fazer grandes compras nos próximos meses» acredita Patrick O’Brien.

«A longo prazo, o clima político instável pode atrasar as negociações do Brexit, o que pode ter implicações para as previsões para o futuro, com as projeções de uma recuperação significativa o crescimento do PIB a afastarem-se ainda mais. Se, como muitos comentadores políticos estão a sugerir, se torne provável mais uma eleição, então pode surgir uma forma de consenso eventualmente. Mas neste momento, o futuro para o retalho parece tudo menos forte e estável», acrescentou.

Confiança precisa-se

Em relação à economia, os consumidores e empresas estarão preocupados com a crescente incerteza política, particularmente tendo em conta os danos que o resultado pode ter na capacidade do Reino Unido de negociar um Brexit com sucesso.

Carolyn Fairbairn, diretora-geral da CBI (a Confederação da Indústria Britânica), destacou que, com um novo governo, nunca houve uma altura mais importante para voltar a focar na economia e planear com «confiança e ambição».

«O próximo governo tem de conseguir uma economia pós-Brexit aberta, competitiva e justa, que funcione para toda a gente de todas as nações e regiões. Isso só pode ser conseguido se o próximo governo não colocar travões no negócio, continuar aberto ao mundo e estabelecer uma visão pró-empresarial», salientou.

«Temos de nos movimentar muito mais rápido para resolver as fundações da economia britânica e o nosso problema de produtividade. Precisamos de fazer progressos significativos numa estratégia industrial moderna até ao final do ano, com uma mudança real na qualificação, infraestrutura e inovação», acrescentou Carolyn Fairbairn.

Com apenas alguns dias para o início das negociações do Brexit, a diretora-geral da CBI indicou que o Reino Unido tem de ser rápido a sair dos bloqueios, com um acordo de transição e a garantia dos direitos dos cidadãos da UE como prioridades.

«As empresas vão apoiar o Reino Unido para desenvolver a nossa economia aberta, inclusiva e inovadora. Mais do que nunca, o novo governo tem de trabalhar juntamente com as empresas para aproveitar as oportunidades que vão surgir. As empresas podem dar as provas, as ideias e as soluções a partir do chão de fábrica, das lojas e dos escritórios para assegurar a nossa prosperidade futuro», afiançou Fairbairn.

Barbara Judge, presidente do conselho de administração do Institute of Directors, declarou ao jornal The Evening Standard, que «as empresas estão a habituar-se a surpresas. O Brexit, Trump e agora isto. O mais importante é termos alguma certeza o quanto antes e temos de avançar para o Brexit com um governo que esteja a governar. É realmente crucial que a voz dos empresários seja ouvida: não foi suficientemente ouvida durante estas eleições».
Cas Paton, empresário e diretor-executivo da retalhista online OnBuy.com, está confiante que a indústria de retalho do Reino Unido vai manter-se forte, apesar da incerteza que as eleições trouxeram na formação do Parlamento.

«Tal como a economia estava a recuperar do voto no referendo, também o canal vai continuar forte apesar disto. No campo do comércio eletrónico em particular, vamos ver os negócios continuarem a focar-se no Reino Unido para se precaverem em relação ao que possa acontecer a seguir», acredita Paton, acrescentando que «a mudança traz sempre oportunidades e, com o custo da importação de bens potencialmente a aumentar após o Brexit, pensamos que vamos ter um foco renovado no comércio dentro do Reino Unido».

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