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Em Milão a moda chega de todas as formas com Calcaterra, Emporio Armani e MM6
A Milano Fashion Week ofereceu um segundo dia interessante, na quinta-feira (23 de fevereiro), dando destaque à essência da moda. Nomeadamente à criação, belos produtos e desejo, com um notável retorno dos grandes clássicos femininos, reinterpretados cada vez mais numa nova e diferente tonalidade por cada maison. Entre outros, num espírito alegre na Emporio Armani, lúdico na MM6, chique e sóbrio na Calcaterra.
Nesta estação, a Calcaterra criou uma poderosa coleção com um design puro, centrado em materiais naturais e numa paleta natural. Tudo é pensado com precisão, os pesos, os comprimentos, os cortes, resultando em criações de grande força. Peças intemporalmente elegantes que fazem as mulheres sentirem-se especiais na sua vida quotidiana.
Os volumosos casacos de lã com golas largas envolvem o corpo suavemente, tal como os lenços de franjas aconchegantes com as mesmas cores. Os casacos são évasés nas costas, assim como mini capas. O casaco grande masculino é usado desestruturado com ombros inclinados em conjuntos de calças coordenadas, ou é feminilizado, cinzelado na cintura, combinado com saias retas de comprimento médio.
A estilista Daniele Calcaterra foi inspirada pela onda, cujo próprio movimento ondulante pode ser visto na parte inferior de certos tops e minissaias assimétricas. O seu look é monocromático, principalmente em cores claras – branco, creme e marfim – com algumas silhuetas cáqui, verde sálvia, vermelho lacado ou preto. Uma sensação de conforto e solidez emana do conjunto, proporcionada pela escolha de materiais tácteis tais como lãs de caraculo, grains-de-poudre, crepes de seda e algodão, gabardinas e couros soberbos.
A moda de Daniele Calcaterra é essencial. Apenas alguns botões aqui e ali são permitidos. Não há folhos, exceto os longos pêlos que incham o fundo de alguns vestidos, as micro palhetas bordadas como esculturas abstratas num ou dois vestidos e joias importantes na forma de grandes folhas feitas à mão em latão. Um toque botânico para sublinhar a ligação com a natureza.
Uma mudança de estilo na MM6, que nesta estação revive fortemente o espírito do seu fundador Martin Margiela, oferecendo uma coleção lúdica cheia de achados, onde peças com duplo ou até triplo uso se encaixam como um puzzle, que pode ser recomposto infinitamente. À primeira vista, o desfile parece apresentar o clássico guarda-roupa descontraído e cool para uma juventude casual, um pouco de rua, um pouco grunge. Nada falta: ganga, casacos, calças folgadas, casacos masculinos, maxi waders.
Mas numa inspeção mais atenta, há sempre um detalhe invulgar que chama a atenção, e a realidade revela-se diferente por detrás das aparências, entre o trompe-l'oeil, construções inteligentes e estratificações artificiais. Tal como no grande jogo da moda. De acordo com a tradição da maison, a área dos bastidores é revelada logo no palco, com as equipas de casacos cinzentos a ajudar os modelos a vestirem um novo look a cada curva. E para adicionar ou remover esta ou aquela peça do puzzle antes de as devolver à passerelle com um aspeto completamente diferente.
O casaco sem mangas, constituído apenas pelo seu forro na parte superior, foi devolvido à sua forma original, acrescentando um casaco cortado da mesma lã. A mesma prestidigitação com a gabardina, completada pelo casaco ton sur ton que desliza na perfeição. A velha sweater mostra as suas bordas desfiadas no que parece ser uma camisa desfraldada. Na realidade, é apenas uma borda de algodão branco afixada sob a malha trompe-l'oeil. O capuz dum hoodie, que espreita por baixo de um blusão... não passa de uma écharpe. E os três coletes sobrepostos, em couro, tecido acolchoado e flanela clássica? São uma e a mesma coisa!
O designer finlandês Heikki Salonen, que tem estado ao leme da linha contemporânea da Maison Margiela nos últimos nove anos, está a dar uma alegria, também a brincar com a frente e costas num dois em um. O casaco e as calças parecem ser feitos de couro envelhecido na frente, enquanto que são feitos de ganga nas costas. O mesmo acontece com um belo par de calças prateadas, que acabam por ser feitas de simples algodão branco nas costas. "A moda é uma atitude, é um jogo. Em vez de trabalharmos nos arquétipos de vestuário, quisemos explorar os arquétipos na forma como nos vestimos", sintetiza Salonen.
Na Emporio Armani, as jovens querem claramente festejar. Elas saem para o palco circular, como uma grande pista de dança, com rostos felizes ou maliciosos, atravessados por um grande sorriso como se Giorgio Armani lhes tivesse acabado de contar uma boa piada nos bastidores.
Esta sensação de leveza e despreocupação traduz-se em looks jovens e dinâmicos, elegantes mas não demasiado, com um toque atrevido, boina ou chapéu-coco enfiado na cabeça. As roupas são curtas, com calções, saias, vestidos e calções acima do joelho. Um rosa fúcsia dá sábias chicotadas em fatos de flanela cinzentos.
Atrás do seu look de menina colegial, com uma blusa branca com botões grandes e um laço preto, ou atrás do seu look de Lady Armani com os seus soberbos fatos de veludo cintilantes, a menina Emporio esconde bem o seu jogo. Não hesita em quebrar os códigos da sobriedade clássica com alguns acessórios extravagantes, tais como infinitas botas de cano alto de couro preto abraçando as suas pernas, fileiras exageradas de colares de pérolas ou pulseiras de acrílico rosa. À noite, sai para a discoteca num vestido curto e brilhante com grandes lantejoulas coloridas.
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