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Em passeio por Paris: Yohji Yamamoto, Nina Ricci, Theory Project e Ullens
Sexta-feira (3 de março) foi dia de estreias, de reviravoltas e de um grande veterano. O mestre designer Yohji Yamamoto com uma exibição de moda magistral; o recém-chegado ansiosamente esperado e empolgado Harris Reed da Nina Ricci; uma estreia de notável sutileza da Maison Ullens; e uma lição de moderação e autocontrolo da Theory Project.
Yohji Yamamoto: poesia de mestre
Moda poética de Yohji Yamamoto: sombria, especial, até mesmo espiritual.
Feito quase inteiramente em preto com detalhes a vermelho e cortado com intrincadas desconstruções em cascata, este desfile foi um lembrete salutar de que a grande moda geralmente é melhor construída por mãos altamente habilidosas.
Como é o seu hábito recente, Yohji encenou o desfile dentro da grandeza dourada do Hôtel de Ville de Paris (Câmara Municipal). Uma grande multidão reuniu-se do lado de fora do edifício, enfrentando uma noite fria e ventosa ao longo do Sena.
Qualquer um que fosse considerado um escritor de moda ou editor de revista expert ocupava um lugar na primeira fila deste desfile, juntando-se a Guram Gvasalia e à sua parceira para a noite, Avril Lavigne.
Um desfile de moda que foi uma história de duas metades. Por um lado, casacos e vestidos exóticos de sarja de lã preta, trabalhados de forma clássica; e, por outro, talhados, serrados, raspados e seccionados. Elementos entrelaçados, conectados e pendurados e retalhos de tecido – macios, mas lindos.
“A sensação de isolamento, de ir e vir”, explicou o estilista de 70 anos.
Uma coleção que rendeu a Yohji uma estrondosa salva de palmas numa semana movimentada para o designer japonês, que também acaba de lançar uma nova linha feita com a parceira de longa data Adidas. Yohji comemorou recentemente o 20.º aniversário da sua colaboração com o Y-3 para a gigante alemã de roupas desportivas. Agora, continuou com o Y-3 Atelier, uma nova expressão de moda focada no alto artesanato.
No entanto, quando um crítico entusiasmado o cumprimentou com alegria dizendo: “Yohji, é um génio!”, Yamamoto brincou com um sorriso enigmático: “Não, não sou. Não mais".
Nina Ricci: uma estreia absurda e rídicula
Existem abusos de direitos humanos, crimes e modas frívolas sem valor sério. O desfile de estreia de Harris Reed para a Nina Ricci apresentado na tarde de sexta-feira foi do último tipo.
Além da Entente Cordiale (o acordo estipulado em Londres a 8 de abril de 1904 entre França e Reino Unido para o reconhecimento mútuo das esferas de influência colonial, ed.), esta foi uma Entente Glaciale. Um daqueles shows de um designer importado do Reino Unido, onde hordas inteiras de jornalistas, críticos e insiders franceses começam a revirar os olhos e depois riem baixinho. Os compradores, por outro lado, pareciam bastante absortos no absoluto absurdo da coleção.
Somando-se à dissonância, este desfile apresentado pelo designer nascido no Arizona aconteceu no antigo salão histórico da Air France, ao lado do Ministério das Relações Exteriores de França.
Homens, mulheres imponentes e outras belezas fluidas de género desfilam por uma passerelle a preto e branco com calças de smoking que lembram YSL, embora cortadas em chamas gigantescas. Mulheres afro tamanho XXXL que desfilam usando nuvens absurdas de chiffon ou organza. Um vestido falso Adrian, um vestido coluna completado por uma cauda com um acre de largura, que envolveu a modelo com tanta força que esta levou quatro minutos (na verdade) para completar uma volta de 50 metros na passerelle.
Inquestionavelmente, Harris Reed tem um rico senso de teatralidade e capricho na moda. Mas simplesmente dobrar o tamanho de ideias já testadas e comprovadas não torna a aparência duas vezes melhor e importante – ao contrário, atinge o oposto.
Muito se esperava de Reed, um talento londrino muito conceituado na Grã-Bretanha, onde faz sensação graças às coleções da sua marca ao estilo Grand Guignol, com volumes pomposos.
A sua estética, no entanto, não conseguiu conectar-se com a da Nina Ricci, cujo DNA é feminilidade cheia de flores e drapeados delicados e meticulosos. Talvez não seja uma das maiores maisons de moda francesas, mas é uma marca histórica respeitada com um importante negócio de perfumes.
Reed brincou com a imagem icónica da marca de duas pombas, mas colá-las nas pontas de um soutien de plástico metalizado só as fez parecer ridículas.
Claramente, Reed tem talento, mas essa foi uma estreia absurda.
Theory Project: estratificação com amor
É bom ver o retorno em boa forma de Lucas Ossendrijver, que apresentou a sua terceira coleção para a Theory Project, uma versão mais sofisticada da linha mais avançada da marca de moda mundial.
Uma mistura hábil dos seus toques de alta costura dos dias de Lucas Ossendrijver como designer masculino da Lanvin e os métodos de produção tradicionalmente experientes e muito competentes da Theory.
A Theory Project é feita principalmente com tecidos italianos, mas fabricados na China, então se não verá tantas expressões de sofrimento na caixa registadora das lojas para comprar as peças desta coleção sofisticada, mas de fácil compreensão.
Para as mulheres, vestidos muito justos ao corpo, confecionados com riscas horizontais de malha, lã e cetim de seda; camisolas com decote em V de lã fina com perfis em nylon reciclado; e grandes blusões de basebol em misturas contrastantes de lã reciclada, acabamentos em couro e mangas de seda matelassé. Para os homens, a Theory Project oferece blusões bomber reversíveis semelhantes, malhas brilhantes e calças chino.
“Em camadas, mas fácil, sem ser muito trendy, mas também não básico. É muito difícil ficar no meio sem ser medíocre, como gostava de dizer Alber Elbaz”, referindo-se ao ex-grande colega da Lanvin.
Ullens: a estreia de classe de Christian Wijnants
Para a sua estreia como especialista em moda de viagens de luxo Ullens, Christian Wijnants criou um desfile verdadeiramente impressionante e elegante, tanto na inovação em materiais quanto na sua adesão ao resumo de apresentação do programa.
Assumiu alguns riscos, como os jeans de lã japonesa visto num fato de corte perfeito. E então repetido num fato semelhante feito num adorável Príncipe de Gales caramelo. Ambas os casacos são confecionados com botões centrais deslocados em oito centímetros, dando-lhes um design envolvente contemporâneo.
Um conjunto de grandes sweaters de caxemira, que à primeira vista pareciam mohair, acabou por ser feito de caxemira riscada, um processo raro, que exige uma habilidade artesanal única.
Wijnants também inovou com blusões bomber reversíveis de lã e camurça em laranja suave e azul escuro.
Em suma, uma viragem bem-vinda da Ullens, uma marca nobre que até agora não conseguiu causar um impacto real na moda, algo que Christian abordou habilmente nesta temporada.
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