Feminismo na moda na Christian Dior
O espaço do desfile de alta costura da Christian Dior, na segunda feira, nos jardins do Museu Rodin foi uma escultura gigante que representava o tronco de uma mulher. Como se anunciasse o tema do desfile arrojado e espetacular orquestrado por Maria Grazia Chiuri.

A gigantesca decoração, batizada "A Divindade", foi desenhada pela artista americana Judy Chicago, a quem também devemos o pano de fundo do pódio - no qual podíamos ler "E se as mulheres governassem o mundo?" . Parte da resposta: se isso acontecesse no universo da Dior, seríamos governados por divindades.
Metade dos modelos realmente pareciam deusas. A alta costura produz as roupas mais raras e caras do ecossistema da moda, que são concebidas para uma elite privilegiada. No entanto, a coleção revelada pela maison Dior parecia inteiramente consagrada à emancipação da mulher e mesmo à parte mais espiritual do seu ser.
A peça principal do desfile talvez tenha sido o vestido peplum, "um vestido que se cola ao seu corpo e cuida de si". O vestido peplum é uma das peças mais emblemáticas da alta costura parisiense, mas poucos forneceram a sua própria interpretação deste arquétipo com tanto refinamento como Maria Grazia Chiuri.
Esta drapeja tecidos com paixão, corta as linhas mais puras, cria intrincadas alças com nós e adorna a cintura com acabamentos trançados. Tudo feito com os melhores tecidos - crepe de ouro rosa, musselina de seda marfim, jacquard pied-de-poule dourado, tule dourado envelhecido e, é claro, musselina cinzento Dior. Cada um dos 77 looks foi decorado com pulseiras de folha de ouro, colares florais, pulseiras em forma de cobra ou sandálias aladas. Belezas ao estilo Botticelli.
"Percebi que as deusas estão em toda a parte, nas estátuas e na arte. Especialmente aqui em Paris."
"Desde o começo, pensei na ideia de divindade. Percebi que as deusas estão em toda a parte, nas estátuas e na arte. Especialmente aqui em Paris. Como no Louvre, com a Vitória de Samotrácia", explica Maria Grazia Chiuri, que fez uma longa caminhada pelo espaço após o desfile, posando no centro em frente a um grupo de editores da Vogue.
Para o dia, a criadora italiana imaginou togas desportivas e uma série de fatos de jacquard com diagonais douradas, com elegantes golas de xale.
Testemunhando o poder da Dior, entre os mais de 800 convidados estava um regimento de atrizes e celebridades, incluindo Kristin Scott Thomas, Uma Thurman, Haley Bennett, Natalia Vodianova, Alexa Chung, Jeanne Damas, Amira Casar, Monica Bellucci e Sigourney Weaver.
A designer italiana viajou pelo Mediterrâneo para o seu desfile, multiplicando alusões às rainhas atenienses, à nobreza cartaginesa e aos ricos aristocratas romanos, como se estes tivessem escapado de um fresco de Pompéia.
O apogeu do desfile chegou com a modelo dominicana Lineisy Montero, que apareceu num vestido longo em musselina castanha, encimado por uma capa de plumas digna de Cleópatra, mais uma bela demonstração do savoir-faire dos ateliers Dior. Rói-te de inveja, Elizabeth Taylor.

Sobre o público, uma série de faixas colocava outras questões. "E se Deus fosse uma mulher? Será que homens e mulheres jamais serão iguais?"
No entanto, embora Chiuri, a feminista mais comprometida da moda, tenha elogiado o grande progresso feito pelo movimento feminista durante a sua vida, a criadora foi brutalmente franca com a falta de progresso no final do seu desfile.
"Nunca tivemos uma mulher presidente em Itália, nem em França. Vejam os grandes jornais italianos, nenhum jamais foi dirigido por uma editora-chefe. A mesma coisa em Inglaterra. Vejam a cozinha Se uma mulher cozinha, é uma tarefa doméstica. Se um homem se coloca atrás do fogão, é uma expressão da sua criatividade! E nunca conheci uma mulher à frente de um grande hospital. Honestamente, não acho que as coisas tenham realmente mudado."
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