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Novello Dariella
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27 de mai. de 2021
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Futuro verde da moda: dos casacos de algas marinhas aos sapatos de cogumelo

Por
AFP-Relaxnews
Traduzido por
Novello Dariella
Publicado em
27 de mai. de 2021

De vestidos feitos de lantejoulas de algas, a roupas tingidas com bactérias, à inserção de pigmentos rastreáveis ​​em algodão, uma onda emergente de inovações oferece à indústria da moda a oportunidade de limpar a sua lamentável pegada ambiental.


Inovações na indústria da moda promovem mudança ambiental urgente - AFP


A mudança é urgente e necessária, uma vez que a indústria consome 93 mil milhões de metros cúbicos de água por ano, despeja 500.000 toneladas de microfibras plásticas nos oceanos e é responsável por 10% das emissões globais de carbono, segundo a Ellen MacArthur Foundation, instituição de caridade registada no Reino Unido que promove a economia circular.

A crescente procura por mudanças gerou respostas engenhosas, como a capa de chuva de algas marinhas criada pela designer nova iorquina Charlotte McCurdy. O plástico de algas cintilantes que McCurdy inventou (sem carbono) num laboratório impressionou, ainda mais, quando esta se juntou ao estilista americano de ascendência chinesa, Phillip Lim, para criar um vestido de lantejoulas.

É improvável que as peças apareçam em lojas de departamentos, pois McCurdy vê mais estas inovações como uma forma de demonstrar que roupas feitas sem carbono são possíveis. “Não o estou a tentar monetizar. Só quero plantar uma semente”, informou a designer à AFP. “O desenvolvimento de materiais é muito lento e é difícil competir com aplicativos de telemóvel por financiamento. Francamente, levo as mudanças climáticas a sério e não tenho tempo”, acrescentou McCurdy, cujo foco é agora formar um centro de inovação e divulgação.

Cores bacterianas

Outros – como as designers holandeses Laura Luchtman e Ilfa Siebenhaar da Living Color – estão a investigar formas de reduzir os produtos químicos tóxicos e o consumo intensivo de água para tingir roupas. Luchtman e Siebenhaar encontraram um aliado improvável nas bactérias. Certos microrganismos libertam pigmentos naturais à medida que se multiplicam e, ao implantá-los em tecidos, tingem roupas com cores e padrões marcantes.

A pesquisa foi publicada gratuitamente online e a dupla não tem interesse na produção em massa. Luchtman já trabalhou com fast-fashion e viu "de perto o impacto negativo dessa indústria em termos de exploração de pessoas e problemas ecológicos", por isso está determinada a manter a pequena escala.

Outros, no entanto, esperam que essas ideias possam infiltrar-se em grandes negócios. A startup californiana Bolt Threads juntou-se recentemente à Adidas, Lululemon, Kering e Stella McCartney para construir instalações de produção para o Mylo, um couro feito de raízes de cogumelo. McCartney exibiu a sua primeira coleção com Mylo em março, e a Adidas prometeu um modelo de ténis com Mylo até o final do ano.

Imperativo de negócios

Alguns especialistas duvidam que tais iniciativas possam levar a uma transformação em grande escala. "Talvez algumas dessas novidades se consigam firmar na indústria, mas a barreira é muito alta para novas abordagens", alertou Mark Sumner, especialista em sustentabilidade da Escola de Design da Universidade de Leeds.

"É uma indústria incrivelmente diversificada, com milhares de fábricas e operadores, todos a fazerem coisas diferentes. Não é como a indústria automobilística, onde só é preciso convencer seis ou sete grandes empresas a tentar algo novo."

Sumner vê o maior impacto vindo da melhoria, em vez da substituição dos sistemas existentes, e diz que a pressão de consumidores e ONG's mostra que já está a acontecer. "Entre marcas e retalhistas responsáveis, isso realmente deixou de ser uma moda passageira. Agora estão a considerar a sustentabilidade como um imperativo de negócios", frisou ainda Sumner à AFP.

Não que existam respostas certas ou erradas. A força do movimento de sustentabilidade vem de vários players que seguem na mesma direção. "Muitas estratégias diferentes precisam de funcionar conjuntamente", disse Celine Semaan, fundadora da Slow Factory Foundation, que apoia várias iniciativas de justiça social e ambiental em torno da moda, incluindo o vestido de algas e lantejoulas de McCurdy. “A tecnologia não resolverá os problemas por si só. É necessário política, cultura e ética”, concluiu Semaan.

Rastreabilidade do algodão

Uma questão que muitos veem como uma prioridade é a transparência e, aqui, a tecnologia tem um papel claro a desempenhar. É o caso da complexidade das cadeias produtivas. "Muitas empresas não fazem ideia onde as suas roupas são feitas, de onde vêm os tecidos, quem fornece as matérias-primas", declarou Delphine Williot, coordenadora de políticas do movimento global Fashion Revolution.

O  recente alvoroço devido aos relatos de que o algodão da região chinesa de Xinjiang era colhido através de trabalhos forçados foi agravado pela dificuldade em se saber onde esse algodão foi parar. Pequim nega as acusações.

A Fibretrace, que ganhou um prémio de sustentabilidade da revista Drapers este ano, oferece uma possível solução: insere um pigmento bioluminescente indestrutível nos fios. Qualquer indumentária resultante pode ser digitalizada como um código de barras para rastrear a sua origem. "Não podemos encontrar o impacto ambiental a não ser que se saiba onde o item foi feito", comentou Andrew Olah, diretor de vendas da Fibretrace, à AFP.

Em combinação com sites de dados como o SourceMap e Open Apparel Registry – que fornecem às empresas uma clareza sem precedentes nas suas cadeias de fornecimento – é cada vez mais difícil alegar ignorância. "Quando não se compartilha a cadeia produtiva, ou se faz isso porque se está a esconder algo, ou porque se é estúpido", relevou Olah. "Há muito trabalho a ser feito, mas estou muito otimista”.
 

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