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Gabriela Hearst e Brandon Maxwell ditam silhuetas longas e cozy para o outono
Para os não iniciados, olhar para um relógio com complicações não conta toda a história. Quando o fabricante do referido relógio explica o que está por baixo da superfície, começa a fazer sentido porque até um relojoeiro amador fica entusiasmado. O mesmo pode ser dito da última coleção de Gabriela Hearst apresentada no 5.º dia da New York Fashion Week (NYFW). Enquanto que o belo artesanato de luxo dos designs de fácil elegância de Hearst prevaleceu, a apresentação não teve o mesmo impacto na passerelle de coleções anteriores. Se repararmos um pouco na superfície, a complexidade e a profundidade das roupas são algo a despertar a emoção.
Para o outono-inverno de 2023, Gabriela Hearst fez referência à artista Eileen Gray, que descobriu durante uma visita à Irlanda. A ideia de explorar Gray, uma designer, arquiteta e pioneira social que foi vítima do sexismo da sua época e teve o crédito negado pelo seu trabalho até depois da morte, foi cimentada quando a designer canalizou um desenho fálico que lembrava a obra de Gray antes de a descobrir.
A designer foi buscar inspiração aos seus designs de móveis, projetos arquitetónicos e paleta de cores. O trabalho mais famoso de Gray, a mesa E1027, uma peça lateral circular cromada, deu o mote a dois vestidos no final com recortes laterais e um cinto cromado em baixo. (Mais do que um convidado notou uma semelhança com Tom Ford para a Gucci.) O Black Brick Screen por volta de 1925 apresentava um motivo retangular entrelaçado encontrado em couros que apareciam numa gabardina, bolsa e saia, por exemplo. O couro mostrou a natureza artesanal do trabalho de Hearst e demonstrou a perspicácia da marca para o artesanato.
O desfile trouxe muitos exemplos de elegância luxuosa e amena. De malhas pesadas exuberantes, alfaiataria requintada em fatos que transitavam entre versões masculinas e femininas sem esforço, até toques de cor que pontuavam a linha sofisticada enfatizando uma silhueta longa e esguia, uma tendência vista nas passerelles em geral. Botas Derby, brogues e botas de inspiração militar – resultantes de uma colaboração com a discreta marca britânica Trickers – fundamentaram os looks.
O falecido arquiteto catalão pós-moderno, Ricardo Bofill, que projetou o premiado edifício do Atrium Saldanha em Lisboa, por exemplo, desenhou o vasto espaço cavernoso do edifício periférico Agger Fish, onde Hearst apareceu. Uma estrutura geométrica suspensa sobre a passerelle espelhada projetada para lembrar células e núcleos cúbicos, o que corresponde ao atual fascínio da designer pela fusão nuclear.
Foi dramático e imponente em escala, assim como todo o cenário, com os convidados sentados nas arquibancadas. Ao ver o estilista amigo Stuart Vevers como Hearst a receberem simpatizantes e amigos como a atriz Lauren Hutton e a joalheria Ana Khouri nos bastidores, não podemos deixar de pensar se o desfile de Gabriela Hearst deveria ter pedido emprestada uma peça da Coach e reduzir a passerelle para que o público pudesse ver o de perto o esplendor da sua obra.
No início do dia, o estilista Brandon Maxwell apresentou também na NYFW a sua coleção para a estação de outono-inverno 2023 numa configuração intimista da sua passerelle. Permitir uma inspeção minuciosa foi um serviço que o designer prestou a si mesmo e ao seu público.
Nos bastidores após o desfile, em conversa com a FashionNetwork.com, Brandon Maxwell admitiu que não havia dormido na noite anterior. Não era óbvio, pois Maxwell parecia tão aprumado quanto as camisas brancas engomadas modeladas e os vestidos de destaque na sua coleção. Todo o arsenal nos deu uma sensação nova, mas Maxwell garantiu-nos que já o tínhamos visto antes.
"Tenho olhado para o passado com o foco total de seguir em frente e fazer um balanço do que é essencial para o DNA da marca, e penso que sou educado o suficiente para fazer melhor agora. Parecem mais refinados porque sou mais refinado atualmente", explicou.
A forma de sino nas mangas e quadris de uma peça faz lembrar a sua segunda coleção, mas foi formalmente executada em crepe pesado. Assim como, nesta estação, a silhueta torna-se fluida com malhas macias.
A coleção apelou ao ouro e ao detalhe; peças familiares foram retrabalhadas e apresentadas de uma maneira que parecia do momento, mesmo que essas ideias tivessem vindo antes. A forma como Maxwell executou essas ideias, especialmente os tecidos usados, foi exuberante.
Os seus looks de abertura ofereceram uma nova visão de imaginar bermudas; numa perna inteiramente esculpida com detalhes proeminentes executados em cetim, lã e couro.
O couro é um item básico da maison e, nesta temporada, ocupou o centro das atenções como em saias de baile estruturadas, casacos cortados até ao punho e interessante vestido longo de couro marrom estilo avental. A expansão além do preto básico aumentou a intriga destas peças.
Aliás, o comprimento longo esteve sempre presente, à medida que itens básicos como a camisa masculina, cardigan espesso com fecho de correr e sobretudos largos roçavam o pavimento. Acrescentou uma sensação de aconchego que poderia funcionar como uma armadura urbana.
Sem explicar por que Maxwell disse que isso refletia a sua vida agora: "A minha vida está confortável e estou a priorizar a paz para mim. Espero que isto se reflita na coleção", acrescentou. E, com certeza, foi o que aconteceu.
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