Hermès: qualidade, qualidade e qualidade
O desfile da Hermès apresentado no sábado (3 de outubro), em Paris, foi uma declaração de moda purista e uma celebração do gosto pelo espetáculo ao estilo francês – o qual, até à data, se revelou o mais organizado no calendário internacional.
A marca apresentou a sua coleção para a primavera-verão 2021, no Tennis Club de Paris, brilhantemente decorado à imagem de uma montanha, com cumes que chegavam até o telhado da gigantesca estrutura de betão. Uma construção efémera feita de gesso branco, pelo produtor francês de desfiles de moda, Étienne Rousseau, e intercalada com pedestais gigantes que expunham as fotos e imagens da artista alemã Claudia Wiser: ícones de cerâmica, deuses temperamentais e fotos da própria coleção.
As roupas foram, por si só, exemplos marcantes de uma moda super luxuosa. Apesar do elenco desfilar a 15 metros do público, era quase possível sentir o aroma da rica qualidade da pele macia de cordeiro e caxemira.
Porque se há uma marca de luxo que está a passar bem pela crise de COVID-19, essa é a Hermès, que só no mês passado abriu lojas em Madrid (Espanha), Osaka (Japão) e Dalian (China), e investiu numa nova fábrica em Auvergne (França), que empregará 250 pessoas.
"Há uma sensação de que esta temporada de Paris tem muito a ver com a defesa de uma certa ideia francesa de entretenimento ao vivo. Claro que, com a pandemia, temos de fazer muitas coisas digitalmente e, ainda, faremos muito mais. Mas, em certo ponto, uma expressão viva de ideias é essencial. Chega de Bluetooth, telemóveis e Instagram", adiantou a diretora de criação feminina da Hermès, Nadège Vanhee-Cybulski.
Antes do desfile, Nadège enviou aos jornalistas um álbum com recortes de estilos, em papel Freelife Cento 100% reciclado e aromático, reservando as colaborações visuais de artistas que esta admira. Desde o fotógrafo francês Camille Vivier, o grande pintor abstrato alemão Carsten Fock e o fotógrafo inglês Sam Rock, até ao grande artista sonoro e produtor musical francês, Frédéric Sanchez, que propôs uma série de paisagens marinhas de sonho. Este último também forneceu uma banda sonora digna de um verdadeiro hino, intercalando o clássico do cineasta franco-suíço, Jean-Luc Godard, Le Mépris (O Desprezo), com Fade into You (Desvanecer-se em Si) da banda estado-unidense Mazzy Star.
A resposta de Nadège Vanhee-Cybulski à pandemia foi de alta qualidade, expressa em linhas ultra clean, ornamentação contida e um estilo sem disparates: blazers masculinos, coletes de pescador minimalistas, ou saias de couro de cintura descida muito macias. Sofisticados casacos, vestidos com nós nas laterais ou super casacos de caxemira de dupla face que davam vontade de acariciar. Tudo isto misturado com alguns elegantes vestidos de cota de malha de couro, para sessões editoriais de moda. Enquanto outros designers emergiram da pandemia obcecados por roupas protetoras, como máscaras e viseiras, Vanhee-Cybulski procurou dar a garantia do familiar. O anseio por uma moda duradoura e sustentável, cuja qualidade não vacilará nos próximos anos.
Como em todos os desfiles de moda parisienses, a Hermès aplicou escrupulosamente o distanciamento social. É agora uma questão natural, e tem sido desde o fim das férias. Cada cidadão ou visitante em França (como em Portugal) usa uma máscara quando sai ou vai a qualquer evento público.
Em todos os desfiles da Paris Fashion Week, com término na terça-feira (6 de outubro), o álcool gel foi disponibilizado gratuitamente e os convidados sentaram-se a mais de um metro de distância.
Copyright © 2023 FashionNetwork.com. Todos os direitos reservados.
