Homem revela as suas duas caras em Paris
Nunca como nesta semana, a moda masculina revelou todas as suas diferentes facetas. Nas últimas temporadas, o homem tem-se procurado entre um guarda-roupa tradicional e uma atitude streetwear. Para o próximo inverno, este parece estar a aproximar-se de um guarda-roupa que nunca está totalmente definido, aberto a todas as possibilidades, como ilustrado, no sábado e domingo, por vários criadores neste final de fashion week parisiense dedicada ao outono-inverno 2020/21.

A atmosfera é army-jungle na Sacai. As silhuetas meio caqui e meio leopardo atravessam a sala a alta velocidade ao ritmo de música disco. A coleção é dominada por total looks, em termos de cores, estampados e materiais, revisitando o fato masculino.
Conjuntos cortados em quadrados de seda azul-celeste com calça e casaco a combinar com o longo lenço amarrado no pescoço, que cai levemente no peito como uma gravata. Ou, num estilo mais desportivo de aventureiro, as calças largas e o blusão acolchoado são cortados numa tela caqui decorada com os mesmos padrões bandana (leitmotif da coleção) que a camisa e o lenço.
As mulheres, que apresentam a pré-coleção para o outono 2020, usam grandes botas de motociclista em couro com solas grossas e entalhadas, enquanto os homens usam sapatos de montanha com cordões ou botas de leopardo. Ela e ele partilham o mesmo colar composto por anéis de sinete unidos entre si.
Encontramos as roupas híbridas queridas pela designer japonesa Chitose Abe, mas em construções mais subtis e discretas com inserções ou adições de tecido em certas peças. As costas de uma sweater branca misturam-se harmoniosamente numa camisola preta de lã bouclée. Um mini poncho com franjas integra-se num jersey aberto tricotado à mão.

Com a Dunhill, mergulhamos nas profundezas de uma noite enevoada em Londres, quando as sombras se estendem nas paredes sob o brilho pálido de um lampião ou se refletem no cimento húmido. As silhuetas são esbeltas e escuras, com predominância de preto, cinzento e azul marinho, cruzados por flashs vermelhos.
Certas roupas captam a luz, em especial os casacos de cetim, os perfectos, as calças de couro preto brilhantes ou umas calças azul petróleo em pele de enguia. Todo o guarda-roupa é muito british. Uma alta costura contemporânea atravessada por uma veia romântica com algumas referências aos anos 1980.
O homem Dunhill calça os seus mocassins de fivela dourada com o logótipo visível sem meias. Gosta de deixar sobressair as suas belas camisas de cetim sob as peças de malha e de usar casacos e blusões sobre os fatos. O pescoço está envolto numa écharpe fina tricotada com um fio de seda, que cai nas costas, como se Monsieur tivesse amarrado a gravata do avesso.
"Eu queria manter uma imagem muito clean na frente e brincar com um detalhe nas costas", explica o diretor artístico Mark Weston, que assina a sua quinta coleção para a casa do grupo Richemont. "A ideia era criar uma atitude forte, inspirada nos Sex Pistols e no Blitz Club, o movimento underground britânico de 1979-80 em torno dos novos românticos", continua.
O couro é também um dos materiais principais de Ludovic de Saint Sernin, que o utiliza para calças, trenchs e um sobretudo longo com forro de pele, mas também em cuecas, tops assimétricos e luvas glamourosas. O designer brinca com contrastes, entre branco e preto, materiais fortes e delicados, coberto e despojado, ou mesmo masculino-feminino, propondo especialmente o sutiã de pérolas para os homens.

"É novamente uma coleção muito pessoal, intitulada ‘cœur brisé’ (coração partido), onde ressalto a dualidade entre fragilidade e força com peças de organza muito alta costura e couro sexy", confidencia o jovem designer, que nesta temporada desfila pela segunda vez na capital francesa. A força exprime-se também em imponentes sobretudos amarrados (com um nó de marinheiro) na cintura por um cordão cintilante.
Em oposição a estes looks mais fortes, são propostos conjuntos de malha macios e fluidos (calças e top) ou com camisas em tons de lavanda, além de sobretudos de organza transparentes ou blusas em forma de teia de aranha.
A Acne Studios surpreendeu no domingo, separando completamente o desfile masculino do feminino, que se realizaram simultaneamente. Foram planeadas duas entradas diferentes, que levavam à mesma sala grande cortada ao meio por uma parede e encimada por um enorme espelho oval, que se inclinava de vez em quando de um lado e do outro, tornando possível ver, com dificuldade, o que estava a acontecer do outro lado.
A ideia era evocar o passado e o futuro no presente, explorando o efeito do tempo nas roupas, no lado feminino, e imaginando um guarda-roupa projetado como uma conversa com a inteligência artificial para os homens.
Envolto em leggings brancas ou usando calças em vinil verde desbotado ou algum tipo de calças de esqui em nylon de astronauta, o homem parecia um pouco mais intrigante do que a mulher, nos seus longos vestidos cortados em veludo ou tecidos desgastados antigos. Merecem nota especialmente os seus casacos que abrem muito para cima na frente com um arredondamento original.
A Pigalle, que desfilou em off paralelamente ao calendário oficial, convidou o mundo da moda para o seu quartier, no coração de Pigalle, na rue Dupérré, onde inaugurou em 2015 um campo desportivo aninhado entre dois edifícios. Completamente renovado, foi neste espaço que a marca apresentou no domingo a sua nova coleção desportiva "basketball" , fruto de uma nova colaboração com a Nike, que consiste em sweaters, calções, busões e calças coloridos, aos quais se juntam dois modelos da Converse.
No edifício vizinho, o designer Stéphane Ashpool apresentou numa produção musical a sua nova mini cápsula "Hôtel Pigalle", disponível numa paleta de azuis, laranja e amarelos em conjuntos de cetim, fatos-pijama ou repletos de lantejoulas, casacos com gola de pele e um pequeno casaco com longos pelos amarelo dourado.
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