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Portugal Textil
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15 de fev. de 2019
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Ideias para 2021 – Têxteis

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Portugal Textil
Publicado em
15 de fev. de 2019

Das questões da sustentabilidade ao desejo de bem-estar, passando pelos novos materiais, o crescimento das vendas de artigos usados e a disseminação do design no mundo digital, são várias as ideias que vão gerar novos caminhos para os têxteis em 2021.



Para 2021, o investimento em novos materiais, tecnologias e sistemas vai permitir aos produtores, fábricas e marcas maximizar oportunidades numa indústria de moda em constante mudança. De acordo com o relatório “Big Ideas 2021 – Textiles”, há cinco pontos de ação que as empresas desta área devem ter em consideração.

O fim de mais

Os consumidores estão a ficar prontos para fazer compras conscientes, mas a novidade viciante da fast fashion não dá sinais de abrandar. O número de peças de vestuário produzidas anualmente duplicou desde 2000 e ultrapassou os 100 mil milhões pela primeira vez em 2014, de acordo com o estudo “Sustainability & Resource Productivity 2016”.

Contudo, as compras de artigos com valor, qualidade e longevidade estão a aumentar e este pode tornar-se o novo foco para o luxo acessível. Os consumidores estão a começar a procurar uma qualidade melhor na high street e estão interessados em marcas de nicho de “slow fashion” que integram transparência, ética e sustentabilidade no seu ADN.

A marca californiana Cuyana cria peças com o mantra “menos, melhor”, oferecendo peças em tecidos de elevada qualidade. Tem ainda o chamado Lean Closet, em que os artigos doados a mulheres que precisam são trocados por crédito em loja. Da mesma forma, a marca de moda masculina L’Estrange, sediada em Londres, segue a ideia de “com menos é possível fazer mais” através de um sistema de vestuário moderno sem estação, com peças versáteis que funcionam para todas as ocasiões e todos os dias.

Não são apenas as peças de vestuário que irão quebrar o ciclo, mas também as matérias-primas a montante. Defensores da produção em ciclo fechado estão a juntar forças para transformar os resíduos têxteis em fibras de qualidade reutilizáveis para novos produtos, evitando usar mais recursos virgens.

O Compromisso para 2020 da Global Fashion Agenda pretende aumentar a circularidade através da recolha e revenda de vestuário usado e de fibras têxteis pós-consumo, sendo apoiado, até 2018, por 94 grandes players da indústria da moda e isso pode ser viável através de um escalar de inovadores na área das fibras, como a Re:newcell, a Evrnu, a Worn Again e a Relooping Fashion, que processam fibras naturais e sintéticas mecânica ou quimicamente para reutilização em novos produtos.

Bioprodução do futuro

A escassez de recursos está a afetar a indústria do design, com previsões da diminuição das reservas mundiais – a estimativa da The Global Footprint Network aponta para que os humanos tenham usado o equivalente a 1,7 planetas em recursos naturais em 2018. À medida que o petróleo, terra e água alimentam a cadeia de aprovisionamento exigente da indústria, desde a plantação de colheitas e criação de animais à irrigação de água e extração de petróleo, há uma busca por novas opções.

Uma réstia de esperança pode estar em alternativas renováveis à base de plantas, elementos marinhos ou alimentos. Start-ups de materiais e laboratórios científicos têm feito experiências com ingredientes naturais substitutos há anos, mas as colaborações com marcas de moda vanguardistas estão a dar origem a conceitos para mercados de nicho, como ténis, malas de luxo exclusivas e peças de vestuário.

A marca sueca de outdoor Röjk Superwear pretende ter uma coleção 100% natural e compostável até 2020, incluindo vestuário de exterior em biopolímero, enquanto os Primus Bio da Vivobarefoot e os ténis vegan da Reebok derivam de biopolímeros feitos a partir de milho.

«O Primus Bio advoga o futuro dos materiais sustentáveis. Todas as ações contam na nossa jornada para redefinir a relação do mundo com materiais que prejudicam o ambiente», explica Asher Clark, diretor de design da Vivobarefoot.

A SeaCell, uma fibra à base de algas, tem sido usada recentemente pela marca de moda Aday para a sua nova coleção Plant Bae.

O aumento da procura por têxteis vegan e sem crueldade vai ajudar a aumentar a aceitação de materiais de origem biológica. Stella McCartney procurou alternativas naturais e criou artigos sem couro na sua colaboração com a Bolt Threads e com marcas de luxo, como a Chanel, a deixarem de usar peles e pelos exóticos e gigantes do retalho, como a H&M e a asos.com, a proibirem pelo, lã e penugem, o bem-estar animal está no topo da agenda.

A ascensão da reutilização

Marcas, retalhistas e consumidores estão a aproveitar o mercado das vendas de usados – que deverá duplicar nos próximos cinco anos –, que pode reduzir os resíduos e criar novas fontes de rendimento pós-venda.

O estudo “2018 Resale Report” da loja online de artigos em segunda-mão ThredUp indica que mais de um terço das mulheres usam um artigo menos de cinco vezes antes de o deitarem fora, mas a reutilização pode acrescentar mais de dois anos à sua vida útil. A sua recente iniciativa de upcycling incentiva os consumidores a enviarem vestuário usado para revenda com a opção de terem um cartão de oferta, fazendo uma parceria com marcas conscientes como a Reformation.

A nova marca Afound, da H&M, também responde a esta questão, vendendo artigos de moda e lifestyle para homem das principais marcas do grupo com desconto. Disponível na Suécia online e nas lojas físicas, há planos para novos lançamentos em breve.

Há ainda o potencial de revenda para tecidos que foram comprados em excesso, que de outra forma enchem armazéns ou aterros. A disponibilidade limitada e a rastreabilidade podem ser compensadas em poupanças de custos, uma menor pegada de dióxido de carbono ou resíduos. Novos portais online permitem que os designers comprem e vendam tecidos, como o Thr3efold, que liga marcas com produtores éticos.

Os arquivos podem encorajar a criatividade, permitindo que pequenas marcas comprem tecidos caros ou exclusivos a preços mais acessíveis e os transformem em novos designs.

Designers como Charlotte Bialas, que usa tecidos vintage estampados ou outros das décadas de 1950 a 1980 para artigos de senhora, a Sakina M’Sa, que, com o apoio do grupo de luxo Kering, retrabalha os tecidos de designers de alta costura como Balenciaga e Saint Laurent para criar vestuário elegante, e a marca sueca Rave Review, que usa vestuário e têxteis-lar em segunda-mão para criar vestuário sustentável, são pioneiros nesta tendência.

Desenhar para o digital

À medida que entramos num mundo digital, vai haver uma maior consideração por cores e texturas mais amigas dos ecrãs para impulsionar as vendas. E embora a indústria da moda veja potencial no 3D há anos, só recentemente conseguiu de forma convincente mostrar a elasticidade, o caimento e a gravidade, tornando o virtual mais real.

A digitalização traz ainda vantagens do ponto de vista da sustentabilidade. O design virtual evita a sobreprodução e o sobreconsumo, ao mesmo tempo que os eventos digitais podem ser mais económicos do que as sessões fotográficas e os desfiles.

O showroom digital da Hugo Boss entra neste modelo, mostrando a coleção completa sem a atualizar fisicamente. A empresa de sourcing Li & Fung usa amostras virtuais e ferramentas de fitting para poupar tempo e dinheiro. O objetivo é digitalizar cada passo da cadeia de aprovisionamento através da partilha de dados, permitindo decisões mais rápidas e inteligentes.

O design digital também tem utilizações criativas. A PMS explora a tatilidade digital para mitigar os desperdícios e a The Fabricant cria visualizações de produtos para lojas e canais usando captura de movimento, software de animação 3D e scans corporais.

A cofundadora da The Fabricant, Amber Jae Slooten, usou recentemente a aprendizagem dos computadores para copiar centenas de imagens de passerelles, resultando em looks semelhantes a pixéis que inspiraram uma coleção virtual.

Algumas casas de design estão a usar o digital para desafiar de forma criativa as normas. A Balenciaga recentemente comissionou o artista Jon Rafman para a encenação computorizada do seu desfile para a primavera-verão 2019, assim como a artista digital Yilmaz Sen pelos seus vídeos onde modelos em 3D se contorcem em posições estranhas.

O centro da casa

A casa deverá tornar-se cada vez mais um santuário para o descanso e cuidado pessoal, impulsionado por uma necessidade de calma e conforto numa era de ritmo frenético e ansiedade.

Impulsionada em parte pelos millennials (um estudo indica que os millennials americanos passam 70% mais tempo em casa do que outras demografias), o movimento de atividades em casa ou perto dela está a crescer, refletindo uma forma de viver, trabalhar e socializar mais personalizada e holística.

A sincronicidade reflete-se na convergência da moda e dos sectores da casa, com o vestuário para dormir e, mais recentemente, o “bathleisure” a influenciarem os designs do athleisure. O resultado são formas largas e relaxadas em malhas e tecidos premium, perfeitos para usar tanto dentro como fora de casa.

Os nomes a não perder de vista incluem a marca de luxo Desmond & Dempsey, que faz pijamas com estilo para a cama e para a rua, e a marca unissexo Vestment, que transforma um vestido de cerimónia em peças oversized modernas que são disruptivas para as expectativas do loungewear tradicional.

Com mais pessoas a preferirem trabalhar a partir de casa, o vestuário formal vai ainda tornar-se cada vez mais casual. A londrina Harris Wharf cria peças clássicas que reinterpretam ondas nas malhas, combinando o conforto com um estilo formal sem esforço.

O conforto físico e emocional está a ser alargado aos materiais. As exigências de bem-estar e cuidados pessoais dos consumidores cada vez mais atentos às questões de saúde estão a ser satisfeitas por atributos têxteis como suavidade no contacto com a pele, leveza, recuperação de forma, antirrugas e cuidado fácil, assim como benefícios para a saúde, como gestão de humidade e termorregulação.

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