Jacquemus: o homem do sul e o raro sorriso na moda

Ele desfila ao seu próprio ritmo debaixo de uma tempestade de neve de ráfia ou por campos de lavanda, o seu micro saco tornou-se um "ícone dos artigos de couro": um homem do sul, o francês Jacquemus tem uma carreira excecional no mundo da moda.

Simon Porte Jacquemus, 32 anos, organizou na segunda-feira (12 de dezembro) um desfile poético e solar, em Bourget, perto de Paris, fazendo cair ráfia (como neve) em celebridades como Sophie Marceau, Aya Nakamura, Pamela Anderson ou Lena Situations.

Chapéus de palha enormes, brincos grandes, nádegas desnudas: "Queria falar sobre aquelas jovens que se veem do alto em Capri ou Portofino. Queríamos divertir-nos com os nossos próprios códigos", disse Jacquemus nos bastidores.

O seu último desfile na Paris Fashion Week foi no início de 2020, mas em setembro, a abertura da sua primeira boutique na Avenue Montaigne marcou a semana do pronto-a-vestir feminino de Paris.

A maison vale 200 milhões de euros, de acordo com os números comunicados por Jacquemus aos meios de comunicação especializados como o Business of Fashion, quase 10 vezes mais do que antes da pandemia de COVID-19. O seu objetivo é atingir 500 milhões de euros até 2025.

"A Jacquemus é um fenómeno. A sua recente colaboração com a Nike foi um dos maiores sucessos do ano, assim como a abertura da sua boutique. O ritmo das suas coleções está adaptado a uma relação direta com os seus consumidores", disse Serge Carreira, um especialista de luxo e conferencista do Sciences Po Paris.

"O luxo de estar feliz"

Originário da Provença, Jacquemus chegou à capital em 2009 e começou a aparecer em Paris em 2012. Diz ter feito as suas primeiras coleções "sem nada", exceto "uma energia muito brutal".

"Trouxe um sorriso à moda, que nunca é muito bem visto", observa Loïc Prigent, um documentarista de moda. Já segundo Serge Carreira: "Com conceitos inovadores, mistura humor e criatividade numa mensagem extremamente positiva", sublinha.

O designer permanece fiel às suas raízes e à estética do sul de França, "tradicionalmente" considerado "vulgar" mas que conseguiu enobrecer.

"Falar de energia solar não é um luxo, as cores não são um luxo, o frio é um luxo. Estamos a tentar dizer que é um luxo, para ser feliz e para o partilhar", disse o designer.

Foi numa pequena aldeia provençal que celebrou o seu casamento com o comunicador Marco Maestri este verão, na presença de uma série de celebridades (Dua Lipa, Tina Kunakey...) e que Jacquemus recontou em fotografias no Instagram aos seus 5 milhões de seguidores.

"É um designer de celebridades, sabemos sempre o que faz", diz Benjamin Simmenauer, professor no Institut Français de la Mode: "As marcas são tentadas a recrutar pessoas assim, isso cria uma ligação com o público".

Micro saco, mega sucesso

Recusando-se a ceder à "moda-ficção", Serge Carreira considera no entanto "não anormal" que Jacquemus seja mencionado como um possível sucessor de Alessandro Michele na Gucci. "Tem a capacidade, mas será que quer? Questionado pela AFP, Jacquemus recusou-se a responder.

Até agora, tem recusado todas essas ofertas, argumentando que "já tem uma grande maison: Jacquemus".

"Sonho com um dia chegar ao nível de criação da Jacquemus e organizar tais desfiles", disse Victoria Beckham ao diário Le Monde este verão, depois de ter assistido ao seu desfile em Camargue e pouco antes de esta também se ter juntado à Paris Fashion Week.

Quanto à mala, os nervos de guerra das marcas, o seu modelo Chiquito "é um sucesso indiscutível e está ao nível de todos os ícones dos artigos de couro de hoje", sublinha Serge Carreira.

Rihanna e Kim Kardashian, por exemplo, foram vistas a ostentar este acessório microscópico que é usado num dedo.


Por Olga Nedbaeva