Jil Sander: a coleção +J, a moda de hoje e os sucessores da marca que fundou
Poucos criadores desenvolvem um percurso de trabalho tão distinto como Jil Sander, geralmente considerada como a maior designer de moda minimalista da história. As suas formas refinadas; o uso obsessivo de pormenores subtis; a insistência em tecidos tácteis e compreensão inata da forma humana permitiram-lhe construir uma estrutura única ao longo de uma carreira que já se estendeu por cinco décadas.
A mais recente expressão de Jil Sander é a sua nova colaboração com a Uniqlo denominada +J, que revê uma ligação que a designer alemã concretizou pela primeira vez, em 2010, com o gigante japonês do comércio a retalho. A coleção feminina e masculina estreou o mês passado na Alemanha, mas devido ao bloqueio global só gradualmente começou a aparecer nas lojas principais da Uniqlo a nível internacional.
Embora nascida em Wesselburn, perto do Mar do Norte, Jil fundou a própria maison de moda em 1968, em Hamburgo, com a máquina de costura da mãe. Ganhou imediatamente uma reputação pela sua capacidade de vestir mulheres executivas, inteligentes e sofisticadas, num estilo minimal mas nobre. Em 1999, quando a maison tinha receitas superiores a 100 milhões de dólares, Jil Sander vendeu o negócio à Prada, depois de ter abandonado a marca duas vezes em 2000 e novamente em 2004, depositando por fim a sua tesoura em 2013.
Independentemente disso, Sander criou a própria consultoria de moda, tendo como primeiro cliente a Fast Retailing, para cuja divisão Uniqlo a designer desenvolveu a primeira coleção +J há uma década.
Assim, esta última coleção +J 2020 de Jil Sander para a Uniqlo oferece aos fãs a oportunidade de adquirirem roupas que são tão cerimoniais como sofisticadas a um preço que causa pouca dor na caixa registadora. Apresenta parkas simples mas soberbas; camisas masculinas refinadas e blazers hiper profissionais para mulheres; cardigans de classe com gola em bico; camisas azuis claras ideais para o trabalho e sobretudos para homens.
Por isso entrevistamos a lendária e discreta Frau Sander, a maior designer viva da Europa Central, para aprender um pouco mais sobre os seus sonhos para esta colaboração e para a moda contemporânea; a sua opinião sobre os desfiles de moda de hoje e o parecer sobre os seus sucessores na maison Jil Sander.
FashionNetwork.com: Porque quis criar esta coleção com a Uniqlo?
Jil Sander: Queria reagir à moda descartável com uma coleção de formas 3D de alta qualidade e contemporâneas a preços democráticos.
FNW: O que mais a agrada no trabalho com a Uniqlo?
JS: Estou impressionada com o poder de compra, logística e rede de distribuição global da Uniqlo. A possibilidade de chegar a muitas pessoas em todo o mundo faz-me feliz. A Uniqlo apoia-me na minha visão de sofisticados conjuntos modernos para todos, independentemente das diferenças de classe e étnicas.
FNW: O que quis fazer de diferente desta vez, em comparação com a colaboração anterior?
JS: O ambiente desta vez era muito diferente, o que se reflecte em silhuetas mais generosas, suaves e protectoras. Além disso, a colecção era para ser bastante concentrada. Criativamente, era um verdadeiro desafio não perder o conteúdo na redução e alcançar um todo em vez de apenas partes separadas.
FNW: As pessoas têm feito fila de espera à porta das lojas Uniqlo em Berlim para comprarem peças da nova coleção +J . Qual é a sensação de continuar a manter tal influência na moda?
JS: Fiquei surpreendida e impressionada com as filas de espera, uma vez que implicam que eu não fui esquecida. Talvez fosse o momento certo para oferecer um design que procura a pureza a tentar ser verdadeiramente contemporâneo.
FNW: Creio que está a trabalhar no projeto de um livro. Que tipo de livro está a planear?
JS: O livro destina-se a colocar o trabalho da minha vida em perspetiva, para mostrar como todos os meus esforços foram inspirados pela mesma atitude e pela mesma visão.
FNW: Sente falta de encenações na passerelle?
JS: Ultimamente, os desfiles têm-se transformado em grandes eventos. Mas, no último ano, devido à pandemia, foi muito difícil encenar este tipo de formato, e as pessoas trabalharam em novas formas criativas para apresentarem o seu trabalho. Tentei sempre ser muito precisa nos meus desfiles de moda e focar-me no vestir real. Mas estou aberta a diferentes possibilidades, e com a +J, seguimos uma apresentação virtual discreta, o que foi bom para mim.
FNW: As pessoas geralmente descrevem o seu estilo como minimalista. Considera que isso faz justiça ao que cria?
JS: Eu própria nunca falo de minimalismo. Para mim, está relacionado com certas tendências na arte e na arquitetura. Mas se se trabalha o corpo humano, há um limite para a redução. Quero criar roupas que realcem o indivíduo, e o processo para lá chegar pode ser muito complexo. O resultado final para mim é a pureza, a impressão de que o consumidor final está em harmonia com o seu corpo, com a sua dignidade, e também com os seus tempos.
FNW: Se vier a ser recordada por uma única grande contribuição para a moda, o que gostaria que fosse?
JS: Gostaria que uma visão global fosse lembrada. A minha abordagem à moda é a minha abordagem à vida. Acredito em mudar as coisas para melhor e em co desenhar o momento presente. Também acredito no descarte de coisas que já não têm qualquer significado. Quero que o meu trabalho seja relevante e nos ajude a concentrarmo-nos no futuro.
FNW: Criou uma exposição museológica em Frankfurt, planeia outras e onde?
JS: Neste momento, devido à pandemia, todas as exposições estão fora de questão. Mas no futuro gostaria que esta exposição viajasse, fosse itinerante.
FNW: Desde que deixou de desenhar coleções anualmente, dedicou uma boa parte do seu tempo à jardinagem. Qual é a maior diferença entre desenhar um jardim e desenhar moda?
JS: A diferença não é assim tão grande. Um jardim está em constante mudança e é preciso adaptar-se a novas condições e criar novas harmonias. O mesmo se aplica às mudanças sociais e culturais. Cansam-se das coisas passadas e anseiam por novos cortes, proporções e soluções têxteis.
FNW: Qual a sensação de ver as coleções de Luke e Lucie Meier para a Jil Sander?
JS: Estou contente por ver que a Jil Sander está em mãos capazes.
FNW: Quais os outros designers que admira, tanto no passado como hoje, e porquê?
JS: Há muitos designers que me interessam, mas prefiro não os nomear individualmente.
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