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Helena OSORIO
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11 de dez. de 2020
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Jil Sander: a coleção +J, a moda de hoje e os sucessores da marca que fundou

Traduzido por
Helena OSORIO
Publicado em
11 de dez. de 2020

Poucos criadores desenvolvem um percurso de trabalho tão distinto como Jil Sander, geralmente considerada como a maior designer de moda minimalista da história. As suas formas refinadas; o uso obsessivo de pormenores subtis; a insistência em tecidos tácteis e compreensão inata da forma humana permitiram-lhe construir uma estrutura única ao longo de uma carreira que já se estendeu por cinco décadas.


Jil Sander, a designer minimalista alemã, fundadora da maison de moda Jil Sanderqueconta comuma participação do GrupoPradadesde1999 - Foto: Peter Lindbergh / Uniglo


A mais recente expressão de Jil Sander é a sua nova colaboração com a Uniqlo denominada +J, que revê uma ligação que a designer alemã concretizou pela primeira vez, em 2010, com o gigante japonês do comércio a retalho. A coleção feminina e masculina estreou o mês passado na Alemanha, mas devido ao bloqueio global só gradualmente começou a aparecer nas lojas principais da Uniqlo a nível internacional.

Embora nascida em Wesselburn, perto do Mar do Norte, Jil fundou a própria maison de moda em 1968, em Hamburgo, com a máquina de costura da mãe. Ganhou imediatamente uma reputação pela sua capacidade de vestir mulheres executivas, inteligentes e sofisticadas, num estilo minimal mas nobre. Em 1999, quando a maison tinha receitas superiores a 100 milhões de dólares, Jil Sander vendeu o negócio à Prada, depois de ter abandonado a marca duas vezes em 2000 e novamente em 2004, depositando por fim a sua tesoura em 2013.

Independentemente disso, Sander criou a própria consultoria de moda, tendo como primeiro cliente a Fast Retailing, para cuja divisão Uniqlo a designer desenvolveu a primeira coleção +J há uma década.


Look da coleção+J de Jil Sander para aUniqlo - Foto: +J para a Uniqlo


Assim, esta última coleção +J 2020 de Jil Sander para a Uniqlo oferece aos fãs a oportunidade de adquirirem roupas que são tão cerimoniais como sofisticadas a um preço que causa pouca dor na caixa registadora. Apresenta parkas simples mas soberbas; camisas masculinas refinadas e blazers hiper profissionais para mulheres; cardigans de classe com gola em bico; camisas azuis claras ideais para o trabalho e sobretudos para homens.

Por isso entrevistamos a lendária e discreta Frau Sander, a maior designer viva da Europa Central, para aprender um pouco mais sobre os seus sonhos para esta colaboração e para a moda contemporânea; a sua opinião sobre os desfiles de moda de hoje e o parecer sobre os seus sucessores na maison Jil Sander.

FashionNetwork.com: Porque quis criar esta coleção com a Uniqlo?
Jil Sander: Queria reagir à moda descartável com uma coleção de formas 3D de alta qualidade e contemporâneas a preços democráticos.

FNW: O que mais a agrada no trabalho com a Uniqlo?
JS:
 Estou impressionada com o poder de compra, logística e rede de distribuição global da Uniqlo. A possibilidade de chegar a muitas pessoas em todo o mundo faz-me feliz. A Uniqlo apoia-me na minha visão de sofisticados conjuntos modernos para todos, independentemente das diferenças de classe e étnicas.


Look da coleção+J de Jil Sander para aUniqlo - Foto: +J para a Uniqlo


FNW: O que quis fazer de diferente desta vez, em comparação com a colaboração anterior?
JS:
O ambiente desta vez era muito diferente, o que se reflecte em silhuetas mais generosas, suaves e protectoras. Além disso, a colecção era para ser bastante concentrada. Criativamente, era um verdadeiro desafio não perder o conteúdo na redução e alcançar um todo em vez de apenas partes separadas.

FNW: As pessoas têm feito fila de espera à porta das lojas Uniqlo em Berlim para comprarem peças da nova coleção +J . Qual é a sensação de continuar a manter tal influência na moda?
JS:
Fiquei surpreendida e impressionada com as filas de espera, uma vez que implicam que eu não fui esquecida. Talvez fosse o momento certo para oferecer um design que procura a pureza a tentar ser verdadeiramente contemporâneo.

FNW: Creio que está a trabalhar no projeto de um livro. Que tipo de livro está a planear?
JS:
 O livro destina-se a colocar o trabalho da minha vida em perspetiva, para mostrar como todos os meus esforços foram inspirados pela mesma atitude e pela mesma visão.


Look da coleção+J de Jil Sander para aUniqlo - Foto: +J para a Uniqlo


FNW: Sente falta de encenações na passerelle?
JS:
Ultimamente, os desfiles têm-se transformado em grandes eventos. Mas, no último ano, devido à pandemia, foi muito difícil encenar este tipo de formato, e as pessoas trabalharam em novas formas criativas para apresentarem o seu trabalho. Tentei sempre ser muito precisa nos meus desfiles de moda e focar-me no vestir real. Mas estou aberta a diferentes possibilidades, e com a +J, seguimos uma apresentação virtual discreta, o que foi bom para mim.

FNW: As pessoas geralmente descrevem o seu estilo como minimalista. Considera que isso faz justiça ao que cria?
JS:
Eu própria nunca falo de minimalismo. Para mim, está relacionado com certas tendências na arte e na arquitetura. Mas se se trabalha o corpo humano, há um limite para a redução. Quero criar roupas que realcem o indivíduo, e o processo para lá chegar pode ser muito complexo. O resultado final para mim é a pureza, a impressão de que o consumidor final está em harmonia com o seu corpo, com a sua dignidade, e também com os seus tempos.

FNW: Se vier a ser recordada por uma única grande contribuição para a moda, o que gostaria que fosse?
JS:
Gostaria que uma visão global fosse lembrada. A minha abordagem à moda é a minha abordagem à vida.  Acredito em mudar as coisas para melhor e em co desenhar o momento presente.  Também acredito no descarte de coisas que já não têm qualquer significado. Quero que o meu trabalho seja relevante e nos ajude a concentrarmo-nos no futuro.


Desfile da coleção Jil Sander, para a estação de outono-inverno 2020, que decorreu em Milão - © PixelFormula


FNW: Criou uma exposição museológica em Frankfurt, planeia outras e onde?
JS:
Neste momento, devido à pandemia, todas as exposições estão fora de questão. Mas no futuro gostaria que esta exposição viajasse, fosse itinerante.

FNW: Desde que deixou de desenhar coleções anualmente, dedicou uma boa parte do seu tempo à jardinagem. Qual é a maior diferença entre desenhar um jardim e desenhar moda?
JS:
A diferença não é assim tão grande. Um jardim está em constante mudança e é preciso adaptar-se a novas condições e criar novas harmonias. O mesmo se aplica às mudanças sociais e culturais. Cansam-se das coisas passadas e anseiam por novos cortes, proporções e soluções têxteis.

FNW: Qual a sensação de ver as coleções de Luke e Lucie Meier para a Jil Sander?
JS:
Estou contente por ver que a Jil Sander está em mãos capazes.

FNW: Quais os outros designers que admira, tanto no passado como hoje, e porquê?
JS:
Há muitos designers que me interessam, mas prefiro não os nomear individualmente.
 

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