Publicado em
26 de jan. de 2022
Tempo de leitura
4 Minutos
Download
Fazer download do artigo
Imprimir
Text size

José António Tenente: depois das passerelles a internacionalização nos palcos de teatro

Publicado em
26 de jan. de 2022

Os figurinos de José António Tenente podem ser apreciados na peça La Cerisaie (O Cerejal ou O Jardim das Cerejeiras) da autoria do médico e escritor russo Anton Pávlovitch Tchékhov, encenada por Tiago Rodrigues e produzida pelo Festival d’Avignon onde já foi apresentada em julho de 2021. Um trabalho intenso e absorvente que praticamente afastou o estilista de Cascais da moda, transformando-o num dos figurinistas mais requisitados dos palcos portugueses, o qual se começa a internacionalizar com os figurinos muito depois de nos anos 80 se ter consagrado na moda. França, Bélgica, Suíça, Áustria e Holanda são os próximos destinos.


La Cerisaie no Odéon-Théâtre de l’Europe em Paris - Instagram: @jose_antonio_tenente


O guarda-roupa de José António Tenente idealizado para esta obra enaltece o seu conhecido estilo de linhas clássicas e cortes tradicionais, onde as peças díspares se harmonizam naturalmente sem a preocupação de criar looks completos e a condizer. O imaginário romântico de Tenente reflete-se sempre no seu trabalho, neste caso em formas atuais reconstruídas a partir daquelas silhuetas estreitas buscadas ao final do século XIX, altura em que viveu Tchékhov (1860-1904). 

Cores primárias e metálicas contrastam em blusas femininas de folhos estampadas de flores, longas mangas transparentes e gola subida de onde pende um grande laço; ou casacos tipo peliça com padrão ótico; calças longas e avantajadas com um ligeiro franzido na zona do tornozelo, cingidas por grandes fitas enlaçadas à imagem das blusas; pontualmente grandes chapéus com abas; e vestidos, claro, também com folhos e pregas, privilegiando a altura abaixo do joelho.


Look de José António Tenente na peça La Cerisaie, noOdéon - Instagram: @jose_antonio_tenente


Para eles, os fatos completos com colete em azul elétrico, fuchsia ou castanho brilhante, com gravatas e meias contrastantes. Um leque de cor e brilho, que invade completamente o palco numa dança de tecidos leves e acetinados que vibram com o movimento dos atores.

O estilista de Cascais parece ter trocado as passerelles pelas salas de teatro, uma paixão que remonta à infância em que se lembra de ir à primeira ópera com a irmã. Devia ter cerca de 10 anos. A sua paixão foi ganhando forma e, assim, a criação de figurinos sempre o interessou. Em 1990, teve a oportunidade de fazer a experiência em paralelo com a atividade na moda. Lançou-se a convite de Carlos Avillez que estava a encenar o Rei Lear de Shakespeare para o TEC - Teatro Experimental de Cascais e, seguidamente, colaborou com vários coreógrafos para o Ballet Gulbenkian.


La Cerisaie noOdéon em Paris - Instagram: jose_antonio_tenente


José António Tenente chegou mesmo a confessar que o lado teatral de histórias, personagens, literatura, pintura sempre fizeram parte das suas referências. Em termos pessoais, a minha experiência enquanto designer de moda é uma mais valia para o meu trabalho enquanto figurinista. Mas, na verdade, não creio que isso seja fundamental”, reforçou ao DN. “Quando apresento alguma ideia é fundamentada por aquilo que me parece servir o espectáculo, mas é sempre um trabalho em construção, sujeito a discussão”.

O designer de moda formado no Citem, que passou pelo atelier de Ana Salazar, com um trabalho reconhecido e galardoado onde se contam vários prémios e distinções na moda, atualmente dedica-se quase em exclusivo à criação de figurinos para dança, ópera e teatro – como constatamos nos seus canais de redes sociais onde divulga as obras cénicas com o vestuário que assina.


Look de Tenente em La Cerisaieno Odéon - Instagram: @jose_antonio_tenente


Em particular, a obra La Cerisaie de Tchékhov retrata um clã aristocrático, cuja propriedade é comprada pelo filho de um antigo servo transformado em comerciante, que queria cortar as árvores, mas a preocupação do primeiro era o jardim de cerejeiras onde sem este “não compreendo a minha própria vida, e se tenho mesmo de vender, que me vendam com o jardim", diz o texto.

Curiosamente, o avô de Anton Tchékhov – o escritor considerado um dos maiores contistas de todos os tempos – foi também um escravo e comprou a liberdade, assim como a da família, por 3500 rublos. O pai foi um pequeno comerciante que se arruinou na década de 1870. O que parece dar à peça um cunho de realidade.

La Cerisaie apresentada em francês com legendas em português, que já passou pelo Teatro Nacional D. Maria II em Lisboa, vai estar no Odéon-Théâtre de l’Europe em Paris até 20 de fevereiro. Nos dias 26 e 27 de fevereiro será apresentada no Théâtre de Liège; de 10 a 19 de março, na Comédie de Genève; de 26 a 29 de maio, na Wiener Festwochen em Viena; de 3 a 5 de junho em La Comédie de Clermont-Ferrand; e de 10 a 12 de junho, no Holland Festival em Amesterdão.
 

Copyright © 2024 FashionNetwork.com. Todos os direitos reservados.