AFP-Relaxnews
Novello Dariella
16 de fev. de 2022
Leite azedo, dente-de-leão, seda de aranha: a natureza está a moldar o futuro da moda
AFP-Relaxnews
Novello Dariella
16 de fev. de 2022
Já estão longe os dias do frenesim pelas peles de animais, matérias excessivamente poluentes. A indústria da moda lançou uma corrida frenética para adotar fibras verdes e amigas dos animais. Não passa um mês sem que alguém do setor apresente novos materiais com alguns componentes surpreendentes – que vão do leite fora de validade ao dente-de-leão – e todos estão a moldar, gradualmente, o guarda-roupa do futuro.

Seja um vestido feito de seda de aranha, uma bolsa de cogumelos, sapatilhas de cana-de-açúcar ou de algas marinhas, o guarda-roupa do futuro pode estar mais ligado a um museu de história natural do que a um armário cheio de roupa. E, no entanto, é para onde a indústria da moda está a direcionar-se, à medida que o setor busca por fibras mais ecológicas e amigáveis dos animais – dois critérios com os quais os consumidores estão a preocupar-se cada vez mais ao adquirirem um produto.
E, se alguns materiais (às vezes de antiga tradição) estão a retornar, como linho e cânhamo, por exemplo, outros são vistos como fibras da nova geração, muitas vezes decorrentes de parcerias com startups de biotecnologia que transformam as riquezas da natureza em materiais inovadores e sustentáveis.
De conferir alguns dos materiais incomuns que provavelmente entrarão no nosso guarda-roupa nos próximos anos:
Seda de aranha: o novo toque de tecidos sustentáveis
Não tenham medo, amantes dos animais! Este processo não envolve colocar os nossos amigos de oito patas para trabalhar sete dias por semana para produzir sweats e outras peças de vestuário. Secregados pelas glândulas de seda das aranhas, estes fios de seda não são originalmente usados para fazer roupas, mas para permitir que as pequenas criaturas peludas se movimentem, construam as suas casas ou criem armadilhas para as suas presas. Os cientistas estudaram as propriedades mecânicas e a estrutura do DNA da seda de aranha com o objetivo de criar novos usos para o material e produzi-lo em escala industrial.
Duas empresas, Bolt Threads e AMSilk, conseguiram produzir seda criada em laboratório inspirada na que é feita pelas aranhas. Com a Microsilk, a Bolt Threads já fez uma parceria com a Stella McCartney e Adidas para criar um vestido feito com esta seda de última geração, enquanto a AMSilk, com a sua Biosteel Fiber, já está por trás da criação de várias peças de roupa, sapatos e acessórios. Ainda mais impressionante: a The North Face usou a seda inovadora da Spiber para fazer o casaco Moon Parka. Forte e durável, esta seda pode rapidamente tornar-se um item básico do guarda-roupa.
Do leite azedo à fibra biodegradável
Incrível, mas real! O leite fora de validade também pode entrar em breve nos nossos guarda-roupas. As fibras à base da proteína do leite, caseína, estão longe de ser novas, pois foram desenvolvidas por um engenheiro químico italiano durante o período entre guerras. No entanto, recentemente, voltaram à vanguarda para reduzir o impacto da moda no meio ambiente. Na época, a descoberta tinha o objetivo de substituir a lã, e hoje é usada na composição de blusas ou peças de lingerie.
Embora o processo estabelecido na década de 1930 tenha sido aprimorado, permanece praticamente o mesmo, consistindo no uso do leite azedo, que é transformado num tecido natural e biodegradável. O têxtil QMilk é um dos mais conhecidos e foi criado pela empresária alemã Anke Domaske, que procurava fibras naturais para o sogro que sofria de cancro. Mas, desde então, outras marcas arriscaram-se nessa área, como a Germaine des Prés, que oferece cuecas e camisolas feitas em fibra de leite, sendo antibacterianas e 100% biodegradáveis.
Dente-de-leão para fazer borrachas de nova geração
Se folhas de abacaxi, cogumelos, cactos, resíduos de maçã, uva ou milho, algas marinhas e cana-de-açúcar se tornaram comuns nas coleções de moda, a planta dente-de-leão pode tornar-se um concorrente surpresa. Este também não é novidade na moda, pois a URSS examinou anteriormente o propósito do seu potencial na década de 1920, antes de desistir da ideia. Então, a empresa alemã Continental, que recentemente trouxe esta planta florida de volta aos holofotes, voltou-se para a raiz de dente-de-leão para fabricar os seus famosos pneus.
O caule da planta é repleto de látex que, ao secar, se transforma numa substância elástica de borracha, que pode muito rapidamente ofuscar a árvore-da-borracha tradicional. Na moda, a marca americana Cole Haan entrou em campo e lançou um par de sapatilhas com uma sola parcialmente feita de borracha de dente-de-leão. Parece que o jardim e o guarda-roupa estão cada vez mais próximos.
Além de todos os materiais sustentáveis mencionados anteriormente, a fibra de coco, o bambu ou fibras de lótus também estão a ajudar a moldar o futuro da moda. Resta saber quais vão realmente destacar-se e revolucionar nossos armários para sempre. Estamos a apostar em seda cultivada em laboratório, micélio – uma matéria derivada de cogumelos – frutas e legumes (sempre essenciais) e leite fora de validade. Todos estão no caminho de se tornarem os materiais-estrela do futuro.
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