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Estela Ataíde
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18 de jan. de 2019
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Louis Vuitton: Michael Jackson em 50 tons de cinzento

Traduzido por
Estela Ataíde
Publicado em
18 de jan. de 2019

Virgil Abloh, diretor artístico do prêt-à-porter masculino na Louis Vuitton, insistiu repetidamente em diversas entrevistas que não é designer de moda. Uma opinião que lhe rendeu elogios pela sua modéstia. Mas, talvez Abloh esteja certo, pelo menos parcialmente.


Louis Vuitton - outono-inverno 2019 - Moda masculina- Paris - © PixelFormula


Dito isto, não podemos negar o sentido de espetáculo de Virgil Abloh. A Louis Vuitton construiu-lhe uma excelente decoração, uma reconstituição do quarteirão com a maior mistura cultural do planeta, o Lower East Side, em Nova Iorque, repleto de painéis de sinalização, colchões para vagabundos, folhas de outono, caixotes do lixo, graffiti de Jim Joe, Lewy BTM e Futura, com uma maravilhosa banda de jazz, liderada por Devonté Hynes, que tocou os sucessos de Michael Jackson.
 
O Rei da Pop teria adorado a homenagem, que até incluiu os famosos azulejos luminosos do videoclipe de "Billie Jean". Caso ainda não tenha percebido a referência, o convite foi uma luva bordada com cristais Swarovski.

"Só existe uma Louis Vuitton", diz Virgil Abloh nos convites. Antes de acrescentar: "A vida de Michael Jackson é o único verdadeiro estudo sobre a relação de um homem com a roupa, desde a infância até à idade adulta, documentada em todo o mundo."

Prova da importância do desfile, o imperador do luxo, Bernard Arnault, presidente da gigante francesa LVMH e, portanto, o chefe supremo da Louis Vuitton, sentou-se na primeira fila com os seus dois filhos mais velhos, Antoine e Alexandre. Só podemos supor o que Monsieur Arnault achou do invasivo odor de marijuana que encheu o interior da imensa tenda, montada para a ocasião no Jardin des Tuileries.
 

Louis Vuitton - outono-inverno 2019 - Moda masculina - Paris - © PixelFormula


Após um magnificamente melancólico solo de saxofone sob um candeeiro de rua de Manhattan, o desfile começou, em grande parte na obscuridade. Os casacos e fatos da abertura eram feitos em feltro de lã: grandes silhuetas, cinzento metalizado, com sacos de viagem a combinar. Virgil Abloh também propôs um colete cinzento pérola e um casaco de lã antracite, ambos habilmente carimbados com o monograma LV; alguns massivos casacos acolchoados, dignos da vanguarda japonesa; e um pequeno blusão com capuz. Muitos modelos usavam sapatilhas de estilo creeper. O cinzento foi omnipresente, sendo nomeadamente usado em soberbas camisas e casacos de cavalaria - algumas imagens em 3D de artesãos em pleno trabalho foram apresentadas durante o desfile.

No entanto, se é possível questionar se Virgil Abloh é um verdadeiro designer, podemos, de qualquer forma, garantir que não é um alfaiate. O corte e a silhueta destas peças mostravam muito pouco floreado.
 
Enquanto um jovem em cetim imperial roxo imitava com brio os movimentos de dança de Michael Jackson, a nossa atenção desviou-se para várias peças atraentes: extraordinárias couraças de couro com monograma, uma fabulosa série de roupa em patchwork, usada com bolsas gigantes a combinar. Mas, para uma marca que se orgulha de propor o auge da elegância em matéria de viagem, tratou-se de uma declaração puramente focada no sportswear...

Virgil Abloh intitulou a coleção, para prolongar a sua referência a Michael Jackson, de "Sliding, Backwards, Slowly"("Deslizando, para trás, devagar"). Mas, o convite especificava apenas "Louis Vuitton", sem referência à moda masculina. Além disso, à maneira dos revolucionários franceses, que renumeraram o calendário nacional, fazendo do primeiro ano da Revolução o primeiro ano de uma nova era, Virgil Abloh batizou este desfile de "2" - um número repetido em todos os assentos.
 
O autor deste texto sempre imaginou como seria ver Michael Jackson dançar no Lower East Side, onde passou cinco dias muito felizes na sua juventude - agora, consegue ter uma imagem mais exata de como seria.

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