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Helena OSORIO
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21 de jan. de 2022
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Louis Vuitton: em cada Casa de Sonho uma dor no coração durante o desfile final de Virgil Abloh

Traduzido por
Helena OSORIO
Publicado em
21 de jan. de 2022

A Louis Vuitton despediu-se de Virgil Abloh, na quinta-feira (20 de janeiro), numa passerelle em Paris, onde a equipa do designer falecido criou um amplo arco no final do show construído em torno de um cenário azul maia chamado "Louis Dreamhouse" (ou Casa de Sonho).

 


 Atletas de Parkour e ginastas; dançarinos de Break e mímicos e uma orquestra britânica de 20 elementos chamada Chineke! – a primeira orquestra profissional na Europa composta por músicos, na sua maioria negros, asiáticos e etnicamente diversos – dirigida por Gustavo Dudamel e a executar uma partitura inspirada em conversas com Virgil Abloh. Esta foi a sua última coleção para a Vuitton.
 
No final, toda a audiência de cerca de 400 pessoas aplaudiu o designer americano que faleceu no dia 28 de novembro, com 41 anos, após doença prolongada, cuja gravidade foi mantida em segredo até à sua morte.

"Dentro da minha prática, contribuo para um Cânone Negro da cultura e da arte e para a sua preservação. É por isso que, para preservar a minha própria produção, gravo-a prolongadamente", pode ler-se num comunicado de Abloh de 2020, revelado no extenso folheto do programa do desfile. A brochura incluía também uma octologia (ou seja, um resumo dos seus oito desfiles de moda para a Vuitton) de acordo com Virgil Abloh; uma coleção de motivos e detalhes; um manifesto de design; uma ideologia de upcycling; um vocabulário de acordo com Virgil Abloh; e um conjunto de desfiles de moda. Para além de ser trabalhador, Virgil era também muito dado a conversa.
 
Mesmo antes de o primeiro modelo ter aparecido na passerelle, um trio de jovens atletas de Parkour encenavam acrobacias que desafiavam a gravidade no topo de escadarias dignas de uma pintura a óleo do italiano Giorgio de Chirico. E fazendo-o num incrivelmente lento movimento.
 
O surrealismo foi o leitmotiv da exposição, desde os sonhos arquitetónicos de De Chirico até às imagens elegíacas do pintor impressionista Gustave Courbet, pioneiro do estilo realista francês, ambas utilizadas como estampas em casacos largos e compridos e em sobrecasacas. Abloh nunca teve medo de levantar ideias de outras fontes, embora sempre lhes tenha dado a sua própria reviravolta de rua de luxo.
 
Ao longo de todo o percurso, o seu elenco de 67 modelos vagueou, imitou e caminhou como que pela lua em torno do gigantesco palco do Carreau du Temple, um iminente mercado do final do século XIX construído em ferro forjado e vidro. Uma mistura de pradarias sem fim, casas de madeira construídas em tijolo, resíduo pedregoso de carvão queimado, pousada rural e enorme mesa de jantar – tudo em azul maia – à volta da qual a orquestra se sentava. Tudo testemunhado por uma primeira fila onde se incluía o patrono da Louis Vuitton, Bernard Arnault, e a maioria dos seus filhos; juntamente com uma nomenclatura de conhecidos artistas e músicos afro.
 
Uma abertura inesperada em preto – graças a um fato preto sóbrio seguido imediatamente por um jovem com um casaco de coveiro, agarrado a um ramo de flores de tecido embrulhadas num jornal. Quase como se para contrariar aqueles que o rotularam como mero produtor de roupa de rua de luxo, Abloh enviou numerosos exemplos de alta alfaiataria pela passerelle.

"Streetwear é o termo mais mal utilizado na década da moda. Streetwear é uma comunidade, streetwear é uma mercadoria", disse Alboh no seu programa de desfile.

Embora o coração deste show fossem personagens de desenhos animados ingénuos e infantis, que continuavam a aparecer em trajes de estrela de rock no tapete vermelho: Grim Reapers furiosos, feiticeiros malucos, vespões zangados e Top Cat (ou Manda-Chuva) da Hanna & Barbera com o saco de um vagabundo. Mais macacões, gabardinas de nylon de tamanho exagerado, casacos colegiais, ou casacos de ganga com monograma.
 
Antes de todo o evento entrar em overdrive e três anjos em misturas de ecru, gesso e branco, apareceram em trajes sacerdotais, batinas e alfaias religiosas – com asas de renda gigantescas, brotando dos seus ombros. Uma sensação de paraíso da moda na terra, e de querubins a conhecer o designer.
 
Foi então que apareceu a equipa de estúdio do falecido designer, composta por cerca de 30 pessoas, cada qual usando as cores do pôr-do-sol do convite e o número '8', para significar os oito shows que Abloh acabou por encenar para a Vuitton. Aplaudindo o seu designer falecido, com lágrimas nos olhos, abraçando os modelos do elenco, um pouco embaraçados e nunca muito seguros do que fazer ou para onde se virar.
 
Dizendo o seu adieu final a Virgil Abloh, que desapareceu, mas não foi esquecido.
 
Em cada Dreamhouse (Casa de Sonho) uma dor no coração.
 

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