Louis Vuitton realiza desfile magnífico que supera as suas próprias roupas

Por

Godfrey Deeny

Traduzido por
Novello Dariella

Publicado em
2 de out. de 2019

A marca francesa de luxo Louis Vuitton realizou um desfile incrível na terça-feira com uma encenação fantástica, mas não podemos dizer o mesmo em relação às roupas.

A marca gastou bem o orçamento da LVMH nesta temporada com um espaço de madeira instalado na Cour Carrée do Museu do Louvre para celebrar o último desfile da Semana da Moda de Paris. Foram montadas duas arquibancadas paralelas direcionadas para uma parede enorme, duas vezes o tamanho da maioria dos outdoors da cidade. Nesta parede foi projetado um vídeo da cantora transgénero Sophie a cantar uma versão estendida do seu single It's Okay to Cry.
 
Foi uma abertura sensacionalmente dramática. Então, quando o pôr do sol de cores rosadas invadiu o horizonte atrás de Sophie, um alçapão abriu-se e o elenco de modelos apareceu.
 
O estilista das coleções femininas da Louis Vuitton, Nicolas Ghesquière, não pode ser criticado por falta de imaginação. Também nunca pode seguir o caminho mais fácil e mergulhar nos arquivos de moda da marca pela simples razão de que têm menos de duas décadas.
 
Os seus conjuntos tendem a ser combinações tecnológicas de materiais variáveis. Camisas xadrez Chambray com mangas bufantes foram usadas sobre tops coloridos de lantejoulas em zigue-zague e combinadas saia preta de tutu; coletes xadrez na cor cinza foram usados sobre camisas de gola alta laranja e calças às riscas com bolsos. Quase todos os looks continham botões de flores de tecido.

Se isto soa como uma série de combinações improváveis, é porque de facto foi. 

É claro que Ghesquière tem alguém muito bom no seu departamento de estamparia, produzindo belos estampados florais ampliados e frescos, como se tivessem sido extraídos de uma história aos quadradinhos. Além disso, é um dandy em alfaiataria, cujos fatos elegantes em cores de gelado  foram magníficos.
 
Também não podemos criticar o seu sentido de humor: uma carteira grande com estampado de monograma foi adornada com muitas fitas VHS. O designer até criou uma carteira em forma de fita.
  
Mas, em geral, houve uma terrível falta de edição, como se essa função estivesse completamente ausente. Quase todos os looks pareciam ter ido longe demais, como se fossem roupas criadas para estrelas de cinema que acreditam que já não precisam de um estilista para as vestir. E o local estava repleto de músicos e estrelas de cinema: Jennifer Connelly, Justin Timberlake, Jessica Biel, Justin Theroux e Emma Chamberlain, para citar alguns.
 
Houve um tempo em que Ghesquière, quando trabalhava na Balenciaga, era o designer mais importante de Paris. Já não é esse o caso.
 

Dito isto, após as tumultuosas notas finais de Sophie começarem a desaparecer, Nicolas Ghesquière percorreu o auditório de madeira e recebeu muitos aplausos. Os convidados VIPs e os executivos da LVMH aplaudiram de pé, enquanto o resto do público, de compradores a editores (Anna Wintour ausentou-se) se mantiveram consideravelmente mais silenciosos.

A atmosfera geral de auto-satisfação da elite estendeu-se até depois do desfile, quando o público saiu para enfrentar as chuvas intensas de Paris. Centenas de convidados que tentavam sair do pátio principal do Louvre através da Passagem Richelieu, como milhares de turistas fazem todos os dias, foram repelidos fisicamente pelas fortes chuvas por um esquadrão de pesos-pesados, enquanto uma pessoa da equipa de RP chamada Hillary dizia em voz alta que a passagem pública estava "reservada para VIPs".
 
Contritionem praecedit superbia et ante ruinam exaltatur spiritus (a arrogância precede a ruína e o orgulho precede a queda), como diziam antigamente.