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9 de nov. de 2021
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Luvaria Ulisses: primeira classificada como Loja Histórica e única ligada à moda de entre nove Lojas Com História do Rossio ao Chiado e Bairro Alto

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9 de nov. de 2021

Muito pequena em dimensões e grande no negócio de venda aliado ao de fabrico de luvas artesanais personalizadas, que é já raro em Portugal e no mundo, a Luvaria Ulisses foi a primeira da Baixa Pombalina a ser classificada como loja histórica e é a única diretamente ligada à moda de entre as nove lojas selecionadas para esta 2.ª edição do projeto intitulado "Lojas Com História", com instalações de arte nas montras, que decorre até 15 de novembro.


Fachada da Luvaria Ulisses fundada em 1925, na Baixa Pombalina - Instagram #luvariaulisses


Trata-se de um programa da Câmara Municipal de Lisboa, que leva artistas portugueses de diversas gerações a intervirem nas montras de lojas históricas classificadas, que se situam desde o Rossio ao Chiado, estendendo-se até ao Bairro Alto.

No caso, referimo-nos às montras intervencionadas pelos artistas plásticos Sara & André, que fazem parte da fachada eclética da antiga luvaria com loja aberta desde 1925 no número 87A da rua do Carmo. Esta artéria aberta em 1904, que começa no cruzamento da rua Garrett com a rua Nova do Almada e termina no Rossio, conta apenas com 200 metros de comprimento. 

Esta instalação inédita na exclusiva Luvaria Ulisses foi por si só um projeto difícil dadas as reduzidas dimensões da loja, como explicou Carlos Carvalho à FashionNetwork.com, um dos 10 sócios da empresa. Carvalho adiantou que os artistas plásticos portugueses eleitos se limitaram à "escolha dos pares de luvas e associação de nomes de artistas portugueses e internacionais, que se identificavam com os mesmos modelos ou combinações".


Instalação inédita de Sara & André, especificamente concebida para uma montra da Luvaria Ulisses - Instagram @saraeandre


"Temos uma oficina própria com uma equipa jovem que atualiza os modelos, formada com os ensinamentos de um último antigo oficial que já faleceu", reforçou Carlos Carvalho, explicando também a razão da extensa sociedade: "o fundador não teve descendência direta e, em 1948, fez-se uma sociedade com dois empregados. A partir daí, entraram os filhos e os sobrinhos e eu próprio como empregado em 1974. Vão ficando os herdeiros e o mais importante é a empresa ter continuidade seja com familiares ou não".

Carlos Carvalho frisou ainda a resistência do negócio ao online por ser tão personalizado e pelo facto de assim se manter fiel o espírito da loja entre as "poucas do mundo e a única luvaria tradicional existente em Lisboa" que preserva "todo o processo de fabricação inalterável com as regras e os segredos antigos e com toda a equipa na Baixa".

Trata-se de um produto artesanal de produção limitada "feito de peles com mais ou menos elasticidade e por isso temos dificuldade em fazer vendas online deste tipo de luva que nos caracteriza e é diferencial. Tem de ser uma venda presencial para vermos a mão e adaptarmos a luva, até por encomenda quando há essa necessidade. Temos sete tamanhos para senhora e quatro para homem e depois fazem-se os ajustes", assegurou ainda Carlos Carvalho à FashionNetwork.com.


O interior preservado da Luvaria Ulisses - Instagram #luvariaulisses


"Fomos das primeiras a ser classificadas e também a ser eleitas para o 'Lojas Com História'. São lojas que têm outro impacto e devem ser acarinhadas", disse ainda. "A maior parte dos nossos clientes são turistas. Podem escolher o modelo e fazer transformações à medida do seu gosto. Também fazemos luvas à medida da mão".

Até 15 novembro, as escolhas de Sara Alexandra Veiga e de André Rocha – a dupla de artistas lisboetas contemporâneos – vão figurar na montra da mui pequena Luvaria Ulisses fundada pelo empreendedor Joaquim Rodrigues Simões. Como parte integrante do executivo camarário de Lisboa entre 1919 e 1923, Simões requereu autorização para construir estabelecimentos comerciais na zona ainda desaproveitada da Muralha do Carmo, reservando para si o pequeno espaço da luvaria, que se tornou desde logo uma referência na cidade – tal como o mitológico Ulisses, diz o site da empresa.

"Lojas Com História", como esta, integram o programa municipal criado em 2015, que tem por objetivo assinalar lugares com interesse patrimonial e contribuir para a sua sobrevivência. A partir de 2018, esta iniciativa passou a conceder uma proteção mais efetiva às Lojas Históricas, com benefícios fiscais e impedindo alterações súbitas nos contratos de arrendamento.


Os artistas lisboetasSara & André criaram uma instalação para as montras da Luvaria Ulisses, no âmbito do programa Lojas Com História - Instagram #luvariaulisses


Outro dos objetivos, desde há seis anos, é ajudar a “dinamizar” as Lojas Históricas, sem ferir ou alterar a sua identidade original. Nesse contexto, as referidas nove situadas desde o Rossio ao Chiado apresentam nas montras instalações de artistas "de várias gerações, com abordagens diferentes no campo das artes visuais”, informou um comunicado do Gabinete de Programação em Espaço Público da EGEAC, a empresa municipal responsável pela gestão de espaços culturais, pela realização das Festas de Lisboa e de outros festivais de referência na cidade.

As restantes lojas e artistas convidados para a iniciativa de um mês, são: A Carioca com montras intervencionadas por Ana Pérez-Quiroga, fundada em 1939 por Isidoro Teixeira no número 9 da rua da Misericórdia; a Barbearia Oliveira - Barbearia Moderna com instalação de Vasco Araújo, fundada em 1952 no 4H da rua Dom Antão de Almada e adquirida em 2015 por Bruno Oliveira que lhe acrescentou o apelido Oliveira; a Ferragens Guedes interpretada por Ângela Ferreira, aberta em 1922 por Luís Guedes da Silva, nos n.ºs 32-34 da rua das Portas de Santo Antão; a Ginginha sem Rival intervencionada por Francisco Vidal, fundada no final do século XIX por João Lourenço Cima, no n.º 7 da mesma rua da loja anterior; a Livraria Bertrand (desde 1732) interpretada por Adriana Proganó, nos n.ºs 73-75 da rua Garrett (reconhecida pelo Guinness World Records em 2011 como a livraria mais antiga do mundo em funcionamento); a Livraria Trindade com instalação de Sara Chang Yan, fundada nos anos 30 do século XX junto ao Mosteiro de Alcobaça e desde 1988 na atual morada em Lisboa, nos n.ºs 32-36 da rua do Alecrim; a Manuel Tavares intervencionada por Ana Vidigal, fundada em 1860 por Manuel Tavares, no 1 AB da rua mais pequena de Lisboa (a Betesga), entre o Rossio e a Praça da Figueira; e, por último, a Ourivesaria Sarmento interpretada por Isabel Cordovil, fundada em 1870 por João Joaquim Antunes Rebello, que deu sociedade ao funcionário Wenceslau Anthero Lopes Sarmento, trisavô dos atuais proprietários. Fica no n.º 251 da rua Áurea, junto ao Elevador de Santa Justa.
 

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