Max Mara: coleção cruise deslumbra em Lisboa com um feminismo erótico
Na terça-feira, foi apresentada em Lisboa a coleção cruise da Max Mara para esta temporada, inspirada em Natália Correia, a famosa livre-pensadora portuguesa, grande dama artística e estrela da sociedade literária. Entre os modelos esteve Carminho, intérprete contemporânea do fado, a tradição musical que inspirou esta impressionante coleção da Max Mara. Roupas para jantares românticos, vestidos de cocktail feministas e inteligentes ou propostas para ir às compras ao fim de semana que conseguiram ser sexy e práticas ao mesmo tempo. Até para homem, já que vimos o primeiro modelo masculino num desfile da Max Mara.
Tudo aconteceu no jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, uma das maiores coleções privadas de arte do mundo, construída por um imigrante arménio que há um século era o homem mais rico do planeta. A próxima vez que ouvirem um político criticar a imigração, digam-lhe para vir a este museu para ver que presentes um imigrante pode dar ao seu lar adotivo.
Foi aqui, na Fundação Gulbenkian, que o diretor criativo da Max Mara, Ian Griffiths, viu pela primeira vez um quadro de Natália Correia pintado por Nikias Skapinakis. Uma pintura que capta a poetisa com os seus amigos e revive os encontros de intelectuais no Bar Botequim, onde Henry Miller, Graham Greene ou Eugène Ionesco se conheceram.
Griffiths refletiu numa antevisão do desfile: "Natália era famosa pela sua marca de feminismo: o liberalismo erótico. Era sexy e inteligente e sabia como traduzir isso na roupa.”
O resultado foi uma série de saias lápis maravilhosas combinadas com decotes arredondados ou profundos; vestidos de corpete e uma brilhante coleção de vestidos de tafetá em camadas. Confecionada numa magnífica gama de tons metálicos suaves (cobre, beringela ou mostarda) e quase todos em tecidos plissados. Uma vez mais, inspirada nas fotografias da grande amiga de Natália Correia, Amália Rodrigues, onde usava um vestido plissado.
Quase uma dúzia de passagens de plissados, feitos em Itália com tafetá técnico e um pouco de poliéster para segurar os vincos. Embora fossem vestidos que poderiam ser usados numa grande festa ou no dia seguinte para ir às compras no mercado com sapatos rasos e uma cesta. Ou com a nova bolsa de crochet tecnológico da Max Mara.
Griffiths manteve a inspiração no âmbito do moderno com muitos acabamentos de pregas. Além disso, havia uma sensação clara de proporção elegante, com tops curtos e saias altas a exporem alguns centímetros da barriga.
A obra mais famosa de Natália Correia terá provavelmente sido a sua Antologia da Poesia Erótica e Satírica Portuguesa, um compêndio atrevido de ideias e sonhos extravagantes, pelo qual foi condenada por António Salazar.
Griffiths que nasceu em Inglaterra e nos últimos fez vários desfiles na Bocconi, a principal escola de negócios de Itália, comenta: "É irónico que a sua filosofia e a sua coragem sejam reduzidas a um vestido em forma de tubo. Nem sempre pensamos em festas, mas mais em almoços e pequenos almoços de trabalho."
Outro tema-chave foi a festa refinada, incentivada pela crença do designer de que "as pessoas querem voltar a sair". Evidente também nos smokings em cores vibrantes como azul Egeu ou roxo profundo.
Quanto aos casacos, peça chave no guarda-roupa de Max Mara, as cores escolhidas foram preto, castanho, branco e camel. A melhor expressão foi um grande casaco de pêlo de camelo com zibelina, um acabamento semelhante a marta, conseguido através da escovagem do material com pincéis ondulados.
Uma ótima versão deste casaco foi usada por Martim Morais, o primeiro homem a desfilar num desfile da Max Mara, vestido com um clássico casaco Manuela no tamanho 50. Grande o suficiente para um homem usar, e o casaco mais vendido da marca .
Os modelos desfilaram graciosamente pelo jardim da fundação, cujo brutalismo de meados do século está muito próximo do estilo da própria fundação de arte da Max Mara em Reggio Emilia, criada pela família do fundador Achille Maramotti, que agora financia a restauração de várias galerias Gulbenkian.
Carminho apareceu duas vezes no desfile e também protagonizou uma bela atuação na noite anterior num jantar no grande palácio barroco.
Algo que também faz parte do propósito da coleção cruise, tirar partido da cultura local para reimaginar uma coleção e renovar uma marca.
Neste caso, numa série de t-shirts bordadas com os tradicionais “Lenços dos Namorados”, onde as mulheres escreviam declarações românticas aos homens que desejavam.
É também disso que trata esta coleção Max Mara: uma carta de amor a Lisboa, de uma marca e de um designer.
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