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Estela Ataíde
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4 de jun. de 2019
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Max Mara: coleção Cruise 2020 conquista Berlim

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Estela Ataíde
Publicado em
4 de jun. de 2019

A coleção Cruise 2020 da Max Mara, apresentada em Berlim diante de uma multidão de personalidades locais e convidados estrangeiros, evocou o casamento imaginário entre David Bowie e Marlene Dietrich.


Uma passagem da coleção Cruise 2020 da Max Mara, apresentada em Berlim - FashionNetwork.com/Godfrey Deeny


Apresentada no Neues Museum, na famosa Ilha dos Museus da capital alemã, o desfile celebrou também o 30.º aniversário da queda do Muro de Berlim, a fronteira que dividiu a Alemanha, física e simbolicamente, entre 1961 e 1989.
 
A atriz Angela Bassett sentou-se na primeira fila, ao lado de um grupo de influenciadores e bloggers, de Caroline Daur a Helena Bordon, enquanto a lendária cantora de cabaré alemã Ute Lemper subiu à passarela.

"Como o encontro entre David Bowie e Marlene Dietrich nas ruas de Berlim. Eles eram um pouco a mesma pessoa, apesar de nunca se terem conhecido. E fui influenciado pelo próprio museu para dar este tema ultra-cru, neo-primitivo à coleção", explica Ian Griffiths, diretor artístico da Max Mara.


Uma passagem da coleção Cruise 2020 da Max Mara, apresentada em Berlim - FashionNetwork.com/Godfrey Deeny

  
A propensão de Marlene e David por casacos de corte pronunciado e calças largas manifestou-se ao longo do desfile, à medida que as modelos desciam as gigantescas escadas de granito até à passarela, diante de apenas 200 pessoas. Enquanto os trench-coats cintados, emblemáticos dos dois ícones, cruzavam a coleção, muitos modelos eram finalizados com bainhas em bruto, lembrando os tecidos antigos da coleção do museu.
 
O museu é um edifício notável, que conta uma grande parte da história de Berlim ao longo do século passado, mas também da civilização europeia dos últimos quatro milénios, e até apresenta objetos pré-históricos. Este desfile foi o primeiro a ser organizado no museu, cujas colunas exteriores ainda são marcadas por buracos causados por balas e projéteis de tanques, que remontam ao cerco russo à cidade em 1945.
 
Um lugar apropriado para a Max Mara, marca conhecida pelo seu estilo quase arquitetónico. Ideal também para algumas peças memoráveis, como um novo casaco chamado "Berlin Coat", cortado numa lã branca muito lisa, ombros embelezados com flores bordadas - uma homenagem à famosa porcelana Meissen, ex libris do artesanato alemão.

Apesar do nome, o Neues Museum (Novo Museu, em português) é dedicado a objetos pré-históricos, como o famoso capacete cerimonial de ouro que inspirou na coleção uma variedade de pulseiras, colares e brincos espetaculares, criados em colaboração com a designer de joias Reema Pachachi. Entre as coleções do museu, as sublimes joias da era pré-cristã, das civilizações célticas ou cítias, influenciaram igualmente a nova linha da Max Mara.


Uma passagem da coleção Cruise 2020 da Max Mara, apresentada em Berlim - FashionNetwork.com/GodfreyDeeny


Ian Griffiths também injetou com parcimónia uma temática militar na sua coleção, o que é lógico, tendo em conta a história de Berlim, ponto central da Guerra Fria. Resultado: casacos de oficial com dragonas que se metamorfosearam em trench-coats risca de giz, longas capas em caxemira dignas de um imperador prussiano, como Frederico, o Grande, que construiu o museu, e cuja enorme estátua equestre em bronze vela pela ilha.
 
Na noite anterior, a Max Mara dera um espetáculo com atmosfera de cabaré dedicado a Marlene Dietrich, orquestrado por Ute Lemper, no Spiegelsaal, um clube noturno maltratado pelos anos, que parecia saído diretamente do filme Cabaret. Só faltava Sally Bowles, a personagem principal do filme. O concerto, intitulado "Rendez-vous with Marlene", contou com interpretações maravilhosamente evocativas de clássicos como "Where Have All the Flowers Gone", "Lili Marlene" e "Just a Gigolo".

Marlene Dietrich e David Bowie foram também os protagonistas do filme Just a Gigolo em 1978. Esta foi a segunda aparição de David Bowie no ecrã e a última de Marlene Dietrich. E, no entanto, Marlene nunca conheceu Bowie - ela estava reclusa em Paris e ele fez as suas cenas em Berlim. Apesar disso, a história deste herói de guerra regressado a Berlim após a guerra, forçado tornar-se gigolo por necessidade, conseguiu capturar a decadência dourada da República de Weimar.


Ute Lemper num tailleur branco Max Mara - FashionNetwork.com/Godfrey Deeny


Ute Lemper usou um fato divino inteiramente branco durante o desfile, provocando um estrondoso aplauso do público. Responsável pela banda sonora do desfile, o DJ nova-iorquino Johnny Dynell, remixou clássicos de David Bowie como TVC 15, ampliados com espetaculares rufares de bateria, antes de um final espacial.
 
O jantar oferecido após o desfile realizou-se no átrio central do Neues Museum, fechado durante quatro décadas após o seu bombardeamento durante a guerra, antes de ser totalmente restaurado pelo arquiteto David Chipperfield. A área é cercada por paredes de tijolos vermelhos expostos, esplêndidos frisos gregos, coberto por um vidro de alta tecnologia e pontilhado com estátuas romanas gigantescas e vestígios de um templo egípcio. O edifício foi galardoado com o Prémio de Arquitetura Contemporânea da União Europeia em 2011: a visão de Ian Griffiths para a Max Mara - a de uma mulher ativa, de estilo minimalista e culta - parecia talhada para o local.

Em 2005, a Max Mara organizou a sua primeira exposição "Coats" em Berlim, antes de a levar para Xangai, Londres e Seul. Este foi o primeiro desfile da casa na Alemanha, no preciso momento em que a Europa se debate para determinar seu futuro.
 
"Quero que as pessoas saiam deste desfile com a ideia de que existe uma agenda política naquilo que fazemos. Mesmo que seja política com um “p” minúsculo. Esta agenda sempre esteve presente na Max Mara, sem no entanto se declarar demasiado claramente. Entrámos numa era que nos obriga a esclarecer as nossas convicções políticas. Mas, isso pode ser feito com elegância", disse Ian Griffiths, vestido com um fato branco Timothy Everest, respondendo às nossas perguntas.
 
David e Marlene, que tiveram os dois que lidar com a intolerância na sua épocas, certamente concordariam com isso.

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