Miu Miu com um toque marroquino

A autoedição, um talento que poucos designers possuem (motivo pelo qual se empregam estilistas para afinar as suas visões), foi a chave da última coleção da Miu Miu encenada na terça-feira (5 de outubro), o último dia da Paris Fashion Week.

Porque, para além de ser uma grande estilista, Miuccia Prada é talvez a melhor curadora das suas ideias de moda. Um facto deixado muito claro nesta declaração da Miu Miu contemporânea sobre como se vestir num estilo clássico sem parecer aborrecido.

A maior parte da atual seleção de roupas mostrou um estilo bastante tradicional Miu Miu, mas tudo foi apresentado num novo conjunto. O que os franceses chamam "le bon dosage" (a boa dose).

A sua principal escolha de material foi o cáqui militar, visto no look de abertura com calças largas de perna larga, planas na frente e calções coloniais cortados no joelho, com os rasgões no forro visíveis.

Parecia haver um logótipo exibido de forma proeminente em cada look: no peito das camisas preppy button-down; nas abas dos ténis brancos desfiados intencionalmente; nas fivelas dos saltos agulha ou nas faixas de roupa interior que espreitam sobre saias plissadas. Elementos masculinos durante todo o desfile, com casacos universitários de camurça, camisolas de caxemira com pescoço em V e meias cinzentas nerds.

No entanto, a menina Miu Miu será sempre a irmãzinha mais malvada da princesa Prada. E não tem medo de mostrar a sua bela figura enquanto a tem. Assim, para a próxima primavera, sairá com camisas brancas ou com camisolas de malha estilo Aran cortadas a meio na horizontal para melhor mostrar o abdómen; e com minissaias que mal cobrem a virilha.

Tal como na coleção para a marca Prada em Milão, realizada conjuntamente com o seu cortesão Raf Simons, Miuccia mostrou trajes de pele extinta – os mais memoráveis foram blazers de couro preto amachucado ou casacos western em couro não curtido, combinados com saias plissadas de cintura baixa.

Numa iniciativa sem precedentes, Miuccia trabalhou com a artista marroquina Meriem Bennani, apresentando um vídeo projetado numa série de ecrãs em forma de binóculos, ao lado da passerelle circular no interior do Palais d'Iena modernista, no 16.º arrondissement de Paris. Como se o público estivesse disposto a espiar o mini filme de moda de Bennani. Imagens deste trabalho também apareceram na plataforma online da Miu Miu.

A certa altura, as personagens femininas gentis da curta-metragem discutem como fazer um lifting às nádegas para ficarem mais levantadas.

"Então como se refazem os rabos", pergunta uma. "Tiram gordura das coxas e injetam-na nas nádegas", responde a amiga. "Está bem, então é Halal!" acrescenta uma terceira, rindo alto.

Francamente, foi difícil compreender a ligação entre este vídeo e a coleção. De facto, o próprio sentido desta ligação estabelecida por Miuccia, que há muito tempo é da opinião de que desdenha a série interminável de parcerias de outros designers com os mais diversos artistas.

Na semana passada, em Milão, a senhora Prada mascarada recusou discutir a sua coleção com jornalistas por medo da cobiça. Desta vez, nem sequer saiu dos bastidores, o que é muito invulgar para alguém normalmente tão confiante.

Tudo contabilizado: uma coleção inventiva de rearranjos inteligentes, ideal para intelectuais sensuais. Embora parecesse que a designer estava a jogar demasiado o seu próprio jogo. Definitivamente, não é um desfile vintage.

Miu Miu com um toque marroquino

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