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Portugal Textil
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15 de nov. de 2018
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Moda portuguesa quebra a barreira do género

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Portugal Textil
Publicado em
15 de nov. de 2018

Numa altura em que a sociedade desconstrói os estereótipos do masculino e do feminino, a moda, sempre imediata a reproduzir a realidade, tem abraçado a amplitude de opções, com cada vez mais marcas e designers a criarem coleções sem género, como a Meam ou Hugo Costa.



Será que as modas masculina e feminina vão continuar separadas por secções? O que distingue a roupa de mulher e a roupa de homem? As respostas estão também a ser dadas nas passerelles portugueses, por designers como Hugo Costa, Inês Torcato, Sara Maia e Susana Bettencourt ou a marca Meam. A tendência “genderless” está a ser rebatizada de “genderful”, uma identidade positiva que é única para cada pessoa, está em constante mutação e é inclusiva de todas as formas de autoexpressão. Uma evolução que o retalho está já a acompanhar e à qual a marca prodígio da Inditex também não foi indiferente.

A verdade é que os tempos são de mudança e, cada vez mais, pessoas que não se identificam com o género masculino ou feminino (especialmente entre Millennials ou Geração Z) têm vindo a ganhar voz. Os mais jovens aceitam a fluidez de género com mais facilidade do que as gerações que lhes antecederam.

Prova disso foi a última edição do Portugal Fashion, em outubro passado, na qual a designer Susana Bettencourt quis ir além do unissexo, precisamente baseada na ideia da individualidade em constante mutação. Deste modo, a criadora de moda desprendeu-se dos limites impostos pelo género, com as propostas da coleção “Resilient Individuality”, onde procurou ir além do feminino, «numa celebração a todas as pessoas que podem ter dificuldade em marcar, ou em simplesmente por um pé no chão, e serem elas próprias», explica ao Portugal Têxtil. A modelo «surpresa» que fechou o desfile de Susana Bettencourt foi Morgana, uma transsexual em pleno processo de transição, que desfilava uma t-shirt onde se lia “Power”. «É uma individualidade resiliente, que é fora géneros, fora cores e fora culturas. A mulher de hoje em dia não é um país, não é uma cor e não é um género. Temos de pensar em pessoas, não só em mulheres e homens», afirma.

Hugo Costa é já reconhecido pelo seu traço sem género, reforçado na coleção para a primavera/verão 2019 “(A)Way of Punk”, apresentada na Semana de Moda Masculina de Paris, em junho último. «Quando estamos a desenvolver um trabalho, pensamos em unissexo. Todo o imaginário da marca não tem género. Pensamos em peças que podem ser usadas por homens e mulheres», esclarece. Para atingir este modelo, são vários os «sistemas» utilizados, nomeadamente «a modelação, o ajuste de tamanho, os elásticos… Claro que uma peça do mesmo tamanho não vai assentar da mesma forma num homem e numa mulher. O oversize é fundamental para que isto possa existir. As peças adquirem silhuetas diferentes, mas podem servir aos dois géneros», assume.

Também a nova coleção da Meam contempla peças que podem ser usadas por homens, num conceito “agender”. «A ideia de complementar a coleção nasceu no ano passado, com esta ideia de fazer uma peça que tanto fosse masculina como feminina, sem género. E nesta coleção existem camisas de linho, popelinas, t-shirts, sweaters, que são já nesse conceito», elucida o diretor criativo da marca, Francisco Rosas. «É engraçado que tanto vendemos peças de senhora para homem como de homem para senhora», revela Maria do Carmo Mendes, co-CEO da Meamstyle, a empresa que detém a Meam. «É um conceito que vamos continuar a fazer e acho que vai evoluir. No mundo em que vivemos esse conceito está muito atual, está muito em tendência e seria uma pena não o continuar», garante Francisco Rosas. 

Jovens criadores são o espelho da sua geração

De igual forma, Inês Torcato desenha várias peças comuns aos dois géneros e duplica outras apenas com pequenos ajustes. Na coleção «Alma» para a próxima estação quente, a criadora de moda aposta em assimetrias, que se refletem «nas silhuetas justas e sobreposições de tons de pele em collants, criando uma segunda pele», contornando o suposto fosso que separa os dois guarda-roupas.

Já Sara Maia não quer prender-se a conceitos que «não permitam explorar outras coisas». Nas suas novas propostas, a jovem designer privilegia as sarjas, malhas tricotadas e gabardines, com base em clássicos do vestuário masculino, para servir ambos os sexos da mesma forma, sem divisões. «Sei perfeitamente que não tenho o lado mais feminino – dentro do que é o conceito feminino português –, mas criei um novo conceito e isso não é fácil», reconhece, admitindo que os países nórdicos, como a Suécia e a Dinamarca, podem sentir-se mais atraídos pela sua identidade do que o público nacional, «que é um bocado conservador, principalmente as mulheres, que têm medo de arriscar».

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